quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Intocáveis (Intouchables) - Olivier Nakache, Éric Toledano / Inseparáveis (Inseparables) - Marcos Carnevale


Filme de 2011, Intocáveis traz um drama cômico sobre a amizade improvável entre um senhor cadeirante, rico e rabugento e um jovem ajudante imigrante.

A parceria de Oliver Nakache e Éric Toledano percorre toda a filmografia dos dois franceses e nesse caso mostra uma fórmula de sucesso.

Em uma narrativa clássica vemos a apresentação de personagens, seus conflitos, embates, contrastes e o crescente da relação.


Com muitos clichês e atores carismáticos é difícil não se envolver.

Também é difícil se surpreender e esperar que a trama vá além - no máximo pelo humor negro e acidez em dosagem acima do convencional.

De maneira geral o filme proporciona horas agradáveis em uma bela sessão da tarde.

E daí vemos a fórmula ser repetida, cinco anos depois, numa adaptação argentina, que também têm talento para a combinação de humor e drama, como vemos em exemplos como Um Conto Chinês - já comentado aqui, ou nos filmes de Campanella - também comentados aqui.

Porém ao adaptar o filme francês, o diretor Marcos Carnevale perde a sutileza e a trama fica parecendo de um telefilme (talvez até por conta da intensa experiência televisiva de Carnevale).

Em Inseparáveis, a  transposição do contexto das personagens e sua situação social é boa, mas Carnevale carrega nas piadas e gagues e acaba em um resultado mais raso, tendendo ao pastelão.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Poesia sem fim (Poesía sin fin) - Alejandro Jodorowsky


O artista chileno Alejandro Jodorowsky apresentou em 2016 seu último longa: Poesia sem fim.

Com uma trama autobiográfica, ele conta a saga de um garoto que quer ser poeta e nada contra a corrente de sua família, confronta e rompe com seu pai.

Também aceita a precariedade e liberdade da vida boêmia, sofre com a intensidade da vida.


Em especial das paixões, com sua criação e a busca de reconhecimento... 


A construção do filme é alegórica, lembrando Fellini ou mesmo Joaquim Pedro de Andrade, e nessa escolha sofre o risco da distância com seu espectador. 

É difícil aderir ao filme e ser cativados por suas personagens não realistas. Há cenas interessantes e de grande riqueza estética, mas no geral as interpretações são fracas e não há carisma.

Há quem se interesse e se apaixone, mas no geral o filme é difícil, instiga um tanto, mas cansa outro tanto.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Bohemian Rhapsody - Bryan Singer


Um filme biográfico de uma das maiores lendas da música pop mundial é garantia de sucesso: canções famosas, enérgicas, poéticas acompanham toda a narrativa e nos envolvem e nos entusiasmam. Porém, com todo potencial da história de Freddie Mercury e sua trajetória no Queen, Bohemian Rhapsody deixa a desejar.

O filme traz o começo da carreira, a relação com sua família e algumas barreiras que Freddie teve que romper;


A relação com seus companheiros de banda e questões delicadas sobre talento, ego e fama;

Alguns dos principais relacionamentos amorosos e as polêmicas sobre seu comportamento e sexualidade. 


Mostra também sua excentricidade, genialidade e solidão, só que sem se aprofundar.

Não compartilhamos seus sentimentos, suas ambições e temores. Vemos alguns sendo citados em diálogos rasos, mas não temos momentos de silêncio e gestos cotidianos em que isso seja apresentado.

Ao contrário, o filme investe em um personagem histriônico, exagerado. Em que mesmo a grande arcada dentária é acentuada de forma artificial e chega até a atrapalhar a  interpretação de Rami Malek pelo tanto que chama a atenção.

Talvez esse direcionamento venha da experiência de Singer como diretor de heróis, em que se ressalta mais a potência das qualidades, sem apresentar complexidade e ambiguidade.

Porém em uma figura como a de Freddie o aprofundamento psicológico faz muita falta.

Podemos cantar, aplaudir e vibrar com o espetáculo, mas não conseguimos nos sentir frente a um drama complexo e real.

Assim nem vemos um filme com um pout pourri equilibrado entre drama e cenas musicais como Cazuza, nem vemos um exemplo de entretenimento menos ambicioso e mais gracioso como Quase famosos, nem um de biografia mais densa como Saint Laurent - já comentado aqui.


Uma pena, pois há muito nas entrelinhas dos versos dessa Bohemian rhapsody e todas realezas envolvidas nessa majestosa história...

O filme da minha vida - Selton Mello


Após Feliz Natal e O Palhaço - já comentados aqui, Selton Mello apresenta seu terceiro filme: O filme da minha vida.

Com uma construção narrativa cada vez mais madura: belos cenários, boa reconstituição de época, linda fotografia, Selton se mostra exemplar no apuro técnico.

A trama dessa vez também parece mais complexa do que as anteriores, com mais nuances, tempos, épocas e espaços, mas ainda assim se cria a dificuldade de identificação com as personagens. 

Selton parece gostar de personagens contidas, que têm a densidade guardadas dentro de si, mas falta vermos a latência desses dramas, as faíscas do que pode haver por trás, ou melhor, por dentro.

Vemos personagens contidas, com ares de segredos e grande profundidade, mas que não se desenvolvem plenamente. A maneira como se relacionam muitas vezes parece artificial e truncada demais, os diálogos não deslancham e as emoções não vêm à tona...


Justo Selton Mello, um de nossos atores mais carismáticos, não nos apresenta personagens com carisma.

Vemos um contexto e uma história com imenso potencial, mas a vontade é, mais uma vez, de querer ver mais.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

As Pontes de Madison (The Bridges of Madison County) - Clint Eastwood


Com atuação em mais de 70 filmes e a direção de 40 títulos, Clint Eastwood é um dos cineastas mais produtivos da atualidade, 88 anos e sem menção de parar.

E sempre se renovando, reciclando, nem sempre arrebatando e surpreendendo, mas muitas vezes nos extasiando com seu talento.

Em geral são narrativas clássicas, mas que ele também gosta de subverter como em Menina de Ouro, que o filme começa um e termina outro. Muitos de seus filmes estão comentados aqui.


Mas seu passado clássico impera e se impõe, e vale a pena. É o caso de As Pontes de Madison.

Um romance simples, em que a narrativa surge em flashback e relata o encontro de duas pessoas improváveis, mas que se apaixonam arrebatadamente.

Premissa clichê, onde o interesse surge pela condução de Clint: a boa direção, os tempos, os enquadramentos, a música e as atuações (dele mesmo e da merecedora do oscar Meryl Streep).

E mesmo vendo hoje, 25 anos depois, o filme ainda nos toca. Algo está datado, no gestual e no visual, mas o principal - o drama e seus diálogos - seguem atuais e permanecem.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Coco - A vida é uma festa - Lee Unkrich e Adrian Molina


Ótima a sacada de usar a cultura mexicana para cenário dessa trama: sua importante festa dos mortos e outras diversas referências culturais.

Por exemplo a música ou a artista plástica Frida Kahlo, tudo isso colore (inclusive literalmente) o filme lindamente.

Em Coco, o conflito principal é o desejo de um menino de ser músico e a proibição da família por conta do trauma do pai que abandonou a família para tocar.

Mas tudo se encaixa quando o trauma é explicado e outro vilão aparece.

A narrativa não é surpreendente, mas tem um crescente e traz a bonita questão de que os mortos só existem enquanto os vivos lembram deles, por isso a importância da homenagem no Dia dos Mortos e por a justificativa da data.

Há personagens graciosos e divertidos, mas nenhum em destaque, talvez o que mais faça falta no filme, que acaba não tendo o mesmo atrativo e não se torna tão marcante quanto Monstros ou Ratatouille, por exemplo.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Desobediência (Disobedience) - Sebastián Lelio


O diretor chileno Sebastián Lelio traz mais um filme com protagonistas mulheres. Aqui, em Desobediência, o drama é entre duas judias: Ronit e Esti.

A história vai sendo contada aos poucos, com lacunas sendo preenchidas e silêncios sendo revelados.

A cultura rígida e ortodoxa desobedecida secretamente pelos desejos.

Uma mulher que se afastou de sua família e cultura e volta por conta da morte do pai, um importante rabino reverenciado pela comunidade, e a partir daí se apresentam conflitos, contrastes dos de culturas e sentimentos e vêm à tona histórias do passado. 

Uma boa e densa história, mas onde falta um pouco mais de densidade na direção. Mais variáveis nas interpretações, nos diálogos, nas cenas propostas.


Todo potencial apresentado no início acaba um pouco linear e morno.

Ainda assim há cenas de arrebatamento e a história ecoa em nós para além do filme, o que, afinal, é o que pode haver de mais especial numa obra de arte.