sábado, 26 de novembro de 2011

Feliz Natal - Selton Mello



Após ver o simpático e competente O Palhaço, resolvi assistir a Feliz Natal, primeiro longa de Selton Mello.

Ali também há uma premissa instigante, um grande cuidado estético, interessante decupagem, mas em um estilo que muitas vezes se sobressai à narrativa.


Descobrimos mais das personagens e do clima do filme pelos enquadramentos, arte e fotografia do que pela trama ou pelos diálogos.

Um filme no qual se intui o tempo todo muita densidade nas personagens, mas que pouco é dito, e não de uma maneira profunda, poderosa e lacônica, como nos mostra possível mestres como Bergman, Wenders, Kieslowski... Selton traz personagens tristes, decadentes e melancólicas, mas não nos aproxima delas e o que poderia ter de intrigante e interessante se perde...

Começando pelo protagonista, Caio, vivido por Leonardo Medeiros. Leo tem uma qualidade muito grande por apontar fortes sentimentos sem grandes arroubos de interpretação, um certo realismo que desperta identificação e compaixão. Mas em geral ele se apóia nessa característica e muitas vezes se torna uma personagem monotônica e até monótona.


É assim em ótimos filmes como Cabra-Cega de Toni VenturiNão Por Acaso de Philippe BarcinskiCorpo de Rubens Rewald e Rossana Foglia e Budapeste de Walter Carvalho.

E é assim também em Feliz Natal.



Não entendemos o conflito de Caio, não nos aproximamos dele e tampouco de seu entorno - 

Composto por personagens igualmente instigantes, mas que também não geram identificação ou comoção, mesmo com destaques no elenco de Darlene GlóriaPaulo GuarnieriGraziela Moretto e Lúcio Mauro

Intuímos o filme de poucos acontecimentos, mas esperamos por revelações, um pouco no estilo de Festa de Família de Thomas Vinterberg, Gritos e Sussurros de Bergman ou Inferno de Danis Tanovic com o roteiro de Kielowski

Em Feliz Natal, algumas revelações de fato são feitas, mas não há uma construção dramática para que isso repercuta nos anseios, medos e sonhos das personagens.

E com isso o filme fica um pouco vazio, parece um brinde feito solitariamente, como acontece em cena do próprio filme.

Selton parece estar buscando um caminho - e que parece bastante promissor - mas parece estar faltando mais vigor e consistência em seus roteiros.

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