Cineasta armênio, destacado pelo cinema soviético e por sua própria rebelação com os parâmetros restritivos da escola russa, Sergei Paradjanov tem uma interessante história de criatividade e ousadia (que o levaram a censuras, prisões e cerceamentos).
Do pouco que passei a conhecer de sua obra na retrospectiva da Mostra de Cinema de São Paulo está A Lenda da Fortaleza Suram, de 1988, baseado na história da Geórgia, quando há a construção da fortaleza para evitar invasões estrangeira, porém vários percalços ocorrem até que surge uma mítica solução: emparedar um homem na fortaleza, para que ela se sustente.
Filme pesado, com enquadramentos fixos em planos gerais, didáticos, coreografados, muitas vezes funcionando como quadros belíssimos e outras truncando um pouco a narrativa (pelo menos a que estamos mais acostumados).
A temática histórica e impessoal também favorecem essa distância, pois a decupagem e o ritmo poderiam se aproximar do ídolo, amigo e contemporâneo de Paradjanov: Tarkovski, mas não acontece, pois não temos aqui um cinema mais etéreo e filosófico.
O que há aqui é a influência política do cinema soviético que fala mais alto e resulta nessa homenagem que Paradjanov faz aos soldados georgianos que deram a vida por sua pátria.
Diferente do que ocorre em A Cor da Romã, feito 20 anos antes, em 68, antes, portanto, da prisão de Paradjanov pelo governo soviético. Aqui Paradjanov deixa a poesia ditar o ritmo e a construção da linguagem: o trabalho de cores, de enquadramentos, de iluminação...
Tudo é meticulosamente cuidado e faz jus a uma homenagem poética, já que o que é retratado no filme é a vida do poeta e trovador armênio Sayat Nova - de quem vem a frase: "eu sou o homem cuja vida e alma são tortura".
O lirismo do do filme é bastante tocante e ainda que um pouco hermético (já que não há uma trama propriamente, nem diálogos que nos guiem, se aproximando das artes plásticas), o que imprime e o que sugere marca e embevece!
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