quinta-feira, 17 de novembro de 2011

As Neves do Kilimanjaro (Les Neiges du Kilimandjaro) - R. Guédiguian


Muito há por trás do filme do diretor francês
Robert Guédiguian:
As Neves do Kilimanjaro, seja pelo título em referência ao conto de Hemingway,
seja pela inspiração do poema Les Pauvres Gens de Victor Hugo para o roteiro,
ou seja pelas várias camadas presentes no próprio filme. 
A história começa pela demissão do líder sindical Michel que não quis se beneficiar de sua posição e se colocou como um igual entre aqueles que seriam cortados através de um sorteio.

A partir daí a crise do desemprego na meia idade, a relação desequilibrada com sua mulher que segue trabalhando, os conselhos do amigo de infância, ex-colega de trabalho e cunhado...

As posições dos filhos (menos engajados e mais individualistas como o comum da nova geração) e o questionamento sobre o que fazer com o tempo livre (descanso X tédio, diversão X vazio)...

Porém esse não será ainda o conflito central do filme, ele virá com um assalto sofrido, no qual dinheiro, reservas bancárias...

E o mais simbólico: as passagens ganhadas (por vaquinha feita entre filhos e amigos) para a sonhada e planejada viagem de comemoração dos 30 anos de união do casal em Kilimanjaro.


O trauma e a revolta geradas pelo assalto tomam Michel, que passa a tentar descobrir a identidade do assaltante. 

E, dessa investigação, virão descobertas e reflexões sobre se um roubo pode ser justificado, qual a melhor maneira de se vingar, diferença de classes, culpa, raiva, senso de justiça etc...



Muitas questões, porque, de fato, o filme vai trabalhando numa progressão de acontecimentos, reflexões e dramas. Me faz lembrar do excelente Segunda-feira ao Sol de Fernando Aranoa.



Muito bom, ainda que em alguns momentos peque pelo excesso... O aprofundamento em alguns pontos talvez levassem a um filme mais denso e menos novelesco, em que se envolvesse mais com as personagens e que elas não parecessem impulsivas e às vezes quase caricatas.

De qualquer maneira, o que prevalece e se sobressai no filme são a realista construção do cotidiano, o drama contundente, as humanas, concretas e sensíveis personagens. Filme que vale a pena ser visto por todos!

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