Um dos filmes mais estranhos, bonitos e interessantes visto nos últimos tempos: Cisne da portuguesa Teresa Villaverde.
O filme constrói com sensibilidade e poesia a história de Vera, uma talentosa e reconhecida cantora em turnê por Lisboa, de onde vemos emergir o tom nostálgico e melancólico.
Cisne abre com a música de Vera, mas nos contará sobre os bastidores, muito mais do que da vida de hotel e camarim, mas de sua vida íntima, suas angustias, seus sonhos, seus amores...
E de maneira nada convencional.
Uma personagem que se comunica por falas e gestos poéticos - em intensas metáforas visuais, como seu choro de sangue.
Assim, nos aproximamos literalmente de seu eu lírico, conhecendo, nos identificando e nos atraindo por seu íntimo.
(Me lembrando muito os excelentes curtas de Caetano Gotardo - como Areia e O Menino Japonês).
Vera busca acompanhantes desconhecidos quando está em turnê, e por isso conhece um jovem que vai se seduzindo por ela, se interessando pelo seu jeito ao mesmo tempo frio e passional, cheio de regras e manias, mas aberto à imprevisibilidade e às incertezas presentes no outro.
Além da insônia que os une, Vera e esse garoto, cuja história de orfandade vamos conhecendo, tem muitas afinidades: busca de carinho, reconhecimento, amor e origens...
Difícil definir o que se destaca nessa história de amor (amor do garoto por Vera, de Vera por seu companheiro, amores por estranhos, vizinhos, irmãos, conhecidos... Amor como verbo intransitivo...).
Ficam sugestões, impressões, sensações do que estaria sendo dito, apesar da linearidade da construção a imprecisão da história nos deixa despistados e embriagados (o que seria fato, o que seria projeção subjetiva), mas em mim fica a potência do caos de pensamentos e sentimentos das intensas personagens.
A crise possível no amor, a maturidade, a juventude, a maternidade, o sucesso, a solidão, tudo está abarcado embrumeadamente no filme e várias notas vem à tona para mergulharmos... Difícil de se captar todas as entrelinhas em uma única assistida, merecedor de novas sessões, que estréie por aqui!
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