quinta-feira, 13 de junho de 2013

Camille outra vez (Camille redouble) - Noémie Lvovsky


A artista francesa Noémie Lvovsky já atuou em dezenas de filmes, como o ótimo L'Apollonide, já comentado aqui.


E se aventurou em alguns roteiros e direções, como seu trabalho mais recente que acaba de estrear por aqui: Camille outra vez.


Uma comédia romântica que vai em uma linha fabulesca semelhante ao Além do Arco-íris da também atriz e diretora Agnès Jaoui, também comentado aqui.

Embora Noémie brinque mais com elementos pop, até pensando na semelhança temática com De volta para o futuro de Robert Zemeckis e mesmo Brilho eterno de uma mente sem lembranças de Michel Gondry, outro já comentado aqui no blog.

A ideia de Camille viver sua juventude outra vez também é suscitada pelo fim de um relacionamento, seu casamento de mais de 20 anos, sem o qual ela se vê perdida e se vê no desafio de se reconstruir.

Na reconstrução o desejo de corrigir imperfeições do passado, seja evitar acidentes com familiares ou fugir da possibilidade de viver a relação que lhe causará sofrimento no futuro.

O curioso da construção do filme são os acordos de fidelidade extremamente farsescos, quase teatrais:

A atriz não passa por nenhuma maquiagem ou caracterização, apenas o figurino adolescente, ainda mais ridículo e antinatural em uma mulher de meia idade.

Seus gestos e atitudes também não acompanham os ambientes pelos quais ela frequenta e como as pessoas lhe tratam.

Além desses aspectos cômicos, o filme também brinca com a linguagem e abusa de vários clichês como câmeras lentas e comentários musicais.

É preciso "comprar" a brincadeira para embarcar e se divertir, para ver o que pode estar por trás de certas piadas.

(ver como os reencontros no passado e no futuro podem ter conotações psicológicas e filosóficas sobre o aceitar as próprias escolhas e ter que enfrentá-las).

E também para relevar as tantas imperfeições como pontos fracos de roteiro e de atuação, por exemplo.
Com essas abstrações, o filme é mais um agradável romance francês.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Faroeste Caboclo - René Sampaio



René Sampaio fez sua estréia em longa-metragem assumindo o desafio de adaptar uma das músicas mais conhecidas da Legião Urbana para o cinema: Faroeste Caboclo.

A música de fato traz diversos elementos para um roteiro: a saga de uma vida inteira do personagem João de Santo Cristo, vivido por Fabrício Boliveira.

Mas como tem também alguns pontos em aberto e diversas passagens confusas, pede algumas adaptações e preenchimentos.

René e seu time de roteiristas (Victor Atherino, Marcos Bernstein e José Carvalho) começaram adotando o plot principal como o romance da história - ótima escolha. Mas sem abrir mão de questões familiares, políticas e sociais.

Entretanto nesta soma de tantas questões algumas ficam um pouco perdidas e desconectadas. E o excesso tira a força das principais.

O menino que se revolta com as injustiças que vê em sua infância para de se indignar e buscar vingança e os próximos crimes que vem a cometer são por conta das companhias.

E pela tentativa de se aproximar e agradar seu amor, Maria Lúcia, vivida por Isis Valverde


Assim, aquilo que viveu na infância parece não refletir em seu presente e acaba um pouco gratuito.

E isso se dá também na construção de alguns detalhes, que dão um ar gracioso na canção e nem sempre funciona aqui.

De maneira geral o filme constrói uma boa narrativa, com pegada popular, personagens carismáticos, bom elenco, lindas locações (e bem representativas da região), boa fotografia e ritmo, mas que poderia ser mais contido no roteiro e fluir mais e de maneira mais envolvente ainda.

Mas iniciativas como essa são muito bem-vindas e deveriam ser mais constantes no cinema nacional: saber identificar ícones culturais nacionais e recriá-los é algo que o cinema americano, por exemplo, faz exemplarmente e é um dos segredos de seu sucesso (inclusive de exportação de culturas - como o baseball, entre tantas).

Retrabalhar nossa própria música, nossa juventude e nossas histórias é um grande mérito e René merece o crédito!





segunda-feira, 3 de junho de 2013

Meu nome não é Johnny - Mauro Lima



Mauro Lima tem experiência no diálogo da arte e da comunicação. Dividindo sua trajetória entre o cinema e a televisão, tem bastantes ferramentas para fazer filmes com potencial de entretenimento.

Em 2008 lançou Meu nome não é Johnny, inspirado em uma história verídica e narrada em livro de Guilherme Fiuza.

E vai além construindo personagens carismáticos, em diálogos bem humorados e numa trajetória dramática bem dirigida.

A grande estrela do filme é o ator Selton Mello, responsável pela fluidez do diálogo (e até por muitas das falas vindas de improvisos), que trafega muito bem entre o dramático e o cômico.


Faz lembrar Ricardo Darin em O Filho da Noiva, de Jose Campanella).
Ou o próprio Selton em outros filmes como em Árido Movie de Lírio Ferreira

Selton vive o garoto classe média que se deixa levar pela diversão, se comprometendo cada vez mais com o lema sexo, drogas e rock´n´roll, começando a traficar entre amigos e se perdendo nas proporções de seus atos.

Seu entorno é construído também com outros personagens carismáticos, em fotografia, arte, decupagem, montagem, som tudo em direção de uma fluidez e diversão.

Entramos em seu cotidiano de prazeres e malemolência, vendo graça nas situações (ainda que com apreensões) e compartilhamos seu susto e seu sofrimento quando suas inconsequências finalmente tem consequências.

Saber da realidade da história contada nos aproxima ainda mais e conhecer pessoas próximas com situações e posições semelhantes em suas vidas também.


Mérito não cair no moralismo e tampouco no vazio. Muito bom filme.