Após o sucesso de A Separação, já comentado aqui, o iraniano Asghar Farhadi lança agora O Passado.
Novamente um casal discute uma separação e a história vai sendo apresentada por camadas. Diferentes pontos de vista sobrepostos que resultam na complexidade da trama.
Há silêncios incômodos e diálogos truncados entre eles, sentimentos que parecem estar escondidos e que esperamos virem à tona. Construção que nos faz intuir que há muito mais história entre eles do que os minutos que acompanhamos ao longo do filme.
O mérito de Farhadi é nos instigar a preencher essas lacunas. Com personagens profundamente humanos e diálogos realistas, sensíveis e vigorosos, vamos sendo tragados a cada cena para perto dessa família (ou ex-família ou futura família).
(Sem falar nas cenas com as crianças que são um mérito a parte!).
Marie já está envolvida em uma nova relação, porém sua filha mais velha, de um relacionamento anterior ao casamento com Ahmad, não aprova.

Ahmad já não faz mais parte da família, mas se vê no meio de um turbilhão de acontecimentos: gestações, traições, tentativas de suicídio, imigrações, brigas, mentiras, revelações...
Muitos conflitos densos e bem desenhados.
Talvez com alguns desequilíbrios: conflitos um pouco excessivos a partir da segunda metade do filme, personagem de Ahmad desaparecendo muito da trama ao final, ou a personagem de Marie.
A personagem (que rendeu um prêmio em Cannes à atriz Bérénice Bejo, vista anteriormente por aqui em O Artista - também comentado no blog) é a com menos nuances. Se mantém sempre aflita e rude, não oscila em doçuras ou demonstrações de fragilidade, como os demais, e acaba ficando mais antipática e menos tridimensional.
(Será que se Marion Cotillard não tivesse desistido de fazer o filme na última hora a personagem seria diferente? Será que instigaria tanto quanto sua personagem de Ferrugem e Osso? - um dos grandes filmes de 2013 comentado aqui).
Apesar dessa carência, as personagens em geral são muito bem construídas: intensas, sóbrias, precisas.
Bom roteiro, bom ritmo, bom elenco (das crianças, passando pela jovem Pauline Burlet, que já havia sido vista em Edith Piaf, o iraniano Ali Mossafa ou o francês Tahar Rahim - protagonista de O Profeta - também comentado aqui).
Apesar de qualquer porém, O Passado é um ótimo filme, muito acima da média. Desses que não se vê com tanta frequência e que se agradece quando aparece.
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