O diretor canadense Denis Villeneuve soube escolher um bom desafio: adaptar a obra de José Saramago para o cinema.
Algumas obras de Saramago tem muita ação e construção de personagem e clima, mas não facilmente transponíveis para o cinema.
Fernando Meirelles já havia tentado em Cegueira e também sem chegar às profundezas do romance.
Villeneuve começa a trama de O Homem Duplicado muito bem, construindo o protagonista de maneira lacônica e instigante.

A construção temporal imprecisa também contribui para nossa confusão e mergulho em certo labirinto.
Mas logo esse potencial vai se esvaindo. A boa interpretação de Jake Gyllenhaal não traz muitos crescentes. As cenas começam a se repetir, a fotografia e direção de arte cansam de tão monocromática que é a paleta e a pontuação da trilha extremamente redundante empobrecem a trama.
Uma história na qual todas as cenas são preparadas com acordes graves acaba deixando de nos instigar.
O duplo que surge causa suspense e estranhamento, mas não atinge uma profundidade psicológica e nem tampouco traz surpresas.
(Não vai no caminho de obras mais interessantes como O Clube da Luta ou Cidade dos Sonhos). Parece fazer mais jus ao seu título original - Enemy - sem querer nos provocar aprofundamentos.
As explicações que ficam no ar não nos instigam como o curta de Juliana Rojas, já comentado aqui.
Ou ainda em obras que não tratam de duplos, mas que parecem ter sido inspiração para Villeneuve: as cenas do clube secreto nos remetem diretamente a De olhos bem fechados - também comentado aqui - e a cena final também pareceria caber em um filme de Kubrick ou de David Lynch.

O homem duplicado termina sencionalista, sem se aprofundar na psicologia.