OLMO E A GAIVOTA: APROPRIAÇÕES E HIBRIDISMOS DA LINGUAGEM AO TEMA.

Começou com um singelo e poético registro de seus avós que resultou no premiado curta Olhos de Ressaca.
Em seguida enfrentou o desafio de trazer à tona uma história íntima muito dolorida e difícil, mas que em suas próprias palavras pôde encontrar consolo na poesia... Poesia de seu próprio filme, Elena, já comentado aqui.
Com ele Petra ganhou destaque mundial, ampliou suas fronteiras e seu universo.
Em sua diversificação de assuntos escolheu outro tema intimista mas dessa vez não tão pessoal...
Em Olmo e a Gaivota Petra, ao lado da dinamarquesa Lea Glob, empresta seu olhar para acompanhar um casal integrante do grupo Teatro de Soleil.

O conflito de Serge e Olivia é querer ter um filho e não abrir mão de tudo que têm.
Como conciliar uma carreira itinerante, em que se empresta o corpo e ao mesmo tempo abrigar e gerar um outro ser, por exemplo?
Esse é o principal desafio vivido na pele, principalmente por Olivia.
Novamente de maneira próxima e delicada e com recursos bastante envolventes, Petra explora câmeras que atuam, sons que embalam, luzes, músicas e enquadramentos que nos tragam pra dentro dos personagens.
E, assim como em Elena, Petra propõe um híbrido de linguagem: não se sabe bem a medida de documental e ficcional dos registros.
Em Elena a justificativa se dava por ser um retrato da própria vida da diretora e, portanto, qualquer elaboração sua, adaptação, visualização e mesmo reencenação, cabiam como o documento de uma realidade.


Todas essas questões vêm em cenas que Petra e Lea captam... Mas que também manipulam.
Há cenas em que a intimidade é extrema e já nos faz não saber qual o grau de realidade contido naquilo. As diretoras se tornaram tão íntimas do casal que portam uma câmera praticamente invisível? O casal é tão acostumado a uma vida de entrega e em comunidade que têm tamanha facilidade para se expor?

Embarcamos na ficção, voltamos à realidade, ficamos em um espaço nebuloso...
Por momentos somos tirados do transe pela explicitação da direção também.
Em um momento de uma discussão tensa, de repente ouvimos a voz de Petra interferindo, ela não se apresenta como uma terceira pessoa comentando a situação documentalmente, mas faz mesmo uma direção entre dois atores.

Em outro momento vemos um isolamento extremamente poético da protagonista, mas: se documental o isolamento soa falso (já que para a câmera ela está claramente se expondo) e se ficcional o que nos sobra como documento?


Os limites da apropriação da realidade para sua transformação e formatação em um suporte e duração que o torne filme.