
O mesmo perigo em se confundir moral com amoral e imoral, ou de se confundir a lógica distinta com a falta de lógica (questionada por exemplo por Lewis Carroll com suas Alices).
É preciso densidade, embasamento, e temáticas especiais - e também talento para manejar e construir um universo não real...
Também é preciso talento para se manter envolvente e tragar as pessoas...
Como faz Fellini em seu sonho de uma Cidade das Mulheres...
Ali os "fantasmas" de um homem mulherengo, interpretado com precisão por Matroianni -

Há desde uma construção da imagem feminina (pela sensualidade das matronas italianas, pela descoberta do desejo em situações proibidas, pela quantidade, qualidade e diversidade de mulheres possíveis de se conhecer na vida);
Até uma construção da maneira de se relacionar com as mulheres (no caso, de vê-las como objetos de seu desejo sem uma maior atenção e cuidado, caindo facilmente em comportamentos machistas altamente reprováveis).

(já que podemos intuir sobre sua família e sua descoberta da sexualidade através de seus outros filmes também).
A alegoria de certas personagens consegue ter diálogo com a adaptação de Joaquim Pedro de Andrade para Macunaíma, de Mário de Andrade;
A lógica de seu sonho oferece diálogo com o mais contemporâneo David Lynch e suas Mulholland Drives; e a estética dos anos 80 (o filme é de 1980) dialoga bastante com seu tempo, até fazendo lembrar do recente Death Proof - À Prova de Morte, de Tarantino (já comentado aqui), que também bebe nessa fonte...
Universo rico e que sempre vale a pena ser (re) visitado...
Mais uma vez: Viva Federico!!