quinta-feira, 26 de agosto de 2010

As Melhores Coisas do Mundo - Laís Bodanski

Laís Bodanski não é uma cineasta daqueles talentos inacessíveis, seu mérito parece justamente o inverso: parece tão simples, mas tão sensível, tão interessante, tão comprometida...


Trata de assuntos cotidianos, mas traz questões importantes de serem debatidas: em seu primeiro longa vieram as drogas e a situação manicomial;

 na seqüência um documentário que na verdade era o registro de um projeto incrível de se levar cinema a cidades que nunca tiveram acesso;


no terceiro faltou um pouco mais de ritmo para fazer o registro da terceira idade;

mas agora sobrou precisão pra falar do universo adolescente atual...



Em duas horas Laís consegue falar de coisinhas do cotidiano de como se portar no ambiente de disputas de popularidade, busca de identidade, comparações, piadas que são as escolas. Fala das novas ferramentas desse ambiente, não só a sala de aula, mas também a internet em seus blogs, chats, e afins. Os desabafos em escritos, conversas, canções.

Momentos pontuais importantes como a primeira vez, separação dos pais, relação com homossexualidade, com política, com a imagem, amor platônico, o fim do primeiro amor...

Momentos importantes mas que ficam pra sempre como construção de personalidade, amor, perda...


Se as melhores coisas do mundo são as melhores, eu não sei, mas proporciona duas horas intensas...



Tanto para minhas irmãs de onze anos que as consumiram entretidas com muitas ansiedades e questionamentos até a mãe delas já tendo que lidar com as mesmas questões a partir de outro ponto de vista...




E passando por mim, ainda num meio de caminho, que me deixa cheia de nostalgia e curiosidade...

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Cerejeiras em Flor (Hanami) - Doris Dörrie




Um filme sensível sobre a cumplicidade de um casal de terceira idade mesmo após a morte. Os encontros e desencontros possíveis na presença ou na ausência... 

A rigidez de uma vida em uma rotina cinza, a ameaça de doenças fatais, o resgate de convivências que vão se perdendo, a importância das relações, a relação ocidental X a relação oriental com a morte e os sentimentos...


O mais bonito, o mais poético vem nas respostas finais do butô: a dança das sombras!
A dança dos movimentos não de onde se originam, mas onde se refletem... O reflexo das pessoas umas nas outras... 

Não é que seja genial, surpreendente, extremamente criativo ou nada do gênero, mas é bonito, realmente bonito, faz pensar...  

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Belle Toujours - Manoel de Oliveira

Manoel de Oliveira é alguém pra se invejar, afinal quem que chega aos 102 anos dirigindo cinema em plena forma? Confesso que realmente fiquei impactada ao vê-lo pessoalmente há três anos andando perfeitamente, escutando, falando e com filmes tão lúcidos e profundos.

Como Filme Falado, que embora tenha uma linguagem estável e que talvez possa ser vista como antiquada, mas com uma profundidade e competência pra tratar de temas tão contemporâneos como contrastes de culturas e terrorismo... Sem falar no saudosismo de alguns do passado, como seu primeiro, o singelo Aniki Bobó!

Então esses dias vendo seu nome na cartelera, fui ver Belle Toujours... Curiosamente eu já havia visto na Mostra de SP, mas com o título traduzido Sempre Bela, não me dei conta e acabei revendo! O que também foi muito interessante! 

Confesso que o filme não me agradou tanto, pois tem uma rigidez na direção que não me deixou envolver: não pelos planos fixos e falta de ações - características com as quais não tenho quaisquer problemas - mas pelos diálogos teatrais, artificiais, onde as pessoas soltam pérolas repentinas, não respondem ao que se pergunta, se chocam com coisas banais, lidam com naturalidade com coisas exóticas... Enfim...

O que fica pra mim como qualidade e estímulo é o que se deve à homenagem ao excelente Belle de Jour de Buñuel, a proposta de Manoel de seguir a trajetórias de personagens que seguem dentro de nós ecoando por tantos anos e colocá-los assim em um filme: ecoados, vivendo e revivendo sua história em Belle de Jour... O que pode parecer banal aqui vem com criatividade e faz ecoar o desejo de ver e rever o clássico...


E imagino que assim esse filme cumpra seu principal papel! Clássicos homenageando clássicos! Pequeninos que somos nós!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Whatever Works - W.Allen


Há diretores que mesmo em seus filmes ruins nos divertem... Isso acontece quase sempre entre mim e Woody Allen, e pra quem tem uma cinematografia tão intensa e extensa é mesmo um feito!


Mas verdade seja dita que Whatever Works é bem morno. A história é de uma caipira entusiasmada e otimista descobrindo a vida na cidade grande e entrando em simbiose com o alterego de woody - o judeu-novaiorquino-intelectual-mal-humorado. Mais personagens ao redor, como facetas desses mesmos tipos e suas possibilidades de transformação...





O filme abre com um jogo metalinguístico do ator falando para a câmera que a mim não envolve, ao contrário, distancia! E tem uma história que demora a deslanchar... 

Mas tem personagens simpáticos, tem muito bons atores, tem uma trama redonda, então Whatever Works nesse caso se traduz como "Até que funciona"...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Quincas Berro D'água - Sérgio Machado


Sérgio Machado estreou na ficção com o instigante Cidade Baixa, recebeu muitos prêmios e elogios e desde então se manteve na calada da noite... Voltou agora, cinco anos depois, com Quincas Berro D'Água.


Sempre retratando o universo baiano, soteropolitano, mas aqui em uma chave completamente distinta. Ao contrário da realidade crua, da miséria e do pessimismo, Sérgio Machado aqui se baseia na obra de Jorge Amado pra trazer personagens cômicos, coloridos... Gauches também, mas no estilo da malandragem e da fanfarrice... Se acaso há miséria aqui, o otimismo a salva!

Filme com ritmo e tempero (como um bom registro baiano), mas que para alguém tão paulistana como eu falta algo... (talvez a pimenta e o atabaque tenham sido muito comedidos). 

Fica a simpatia, o reconhecimento da competência da narrativa, mas ficam algumas lacunas, algumas histórias muito reiterativas, parecendo mesmo que se basear num conto para fazer um longa-metragem fica faltando material...

E olha que sobram talentos, por exemplo dos atores! Paulo José um exemplo, Marieta Severo, Mariana Ximenes, o global Vladimir Brichta funciona muito bem, participações como de Milton Gonçalves, Othon Bastos, Luís Miranda, etc...



Singelo e saboroso, parabenizo a iniciativa, mas fico no aguardo de um próximo para a prova dos nove... 

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Death Proof - Tarantino



Não há como negar o talento de Tarantino: imagens sedutoras, ritmadas, diálogos criativos e envolventes, personagens enigma e carismáticos, decupagem, trilha, arte, foto...





O cara sabe trabalhar com suas referências pop e fazer misturas geniais, dar um ar cult ao trash como poucos! Sabe brincar com as narrativas, construir e desconstruir roteiros - desde suas primeiras experiências como Cães de Aluguel e Pulp Fiction, até mais recentes, ou nem tanto, como Kill Bill!


Ir ao cinema vê-lo é sempre garantia de entretenimento, mas confesso que para mim também ficam ali registrados aqueles momentos, mas não levo mto pra casa...


Foi assim com seu mais recente: "À Prova de Morte": jovens e belas mulheres em diálogos corriqueiros (e machistamente banais), com comentários saborosos (como sempre em Tarantino, provado em seu antológico sobre mac donald's em Pulp Fiction), em situações inicialmente normais, instigando pra onde vai nos levar e realmente nos surpreendendo, pois vai perdendo seu lugar realista e se tornando uma grande aventura totalmente fictícia... 



Moças e donzelas tontamente estonteantes indefesas contra um terrível e enigmático vilão, freado por novas donzelas, já não tão indefesas...


Exemplos de contra-cultura tarantinesca! Jogando com a sociedade de consumo em jukeboxes, outdoores, peepshows, sexo, drogas e rock'n'roll!

O ritmo e a estética divertem também pelo "setentista" do visual... Nos coloca em outro tempo e espaço, seriados televisivos de ação e aventura...


"Filme de menino" ouvi dizer, e talvez faça sentido, mas também me entreteve... Por as duas horas na sala, depois saio e já esqueço... Fica o registro do talento do Tarantino, me deixando sem grandes lembranças quando volto pra casa, mas com a certeza de que voltar ao cinema por ele renderá alguma recompensa!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (Eternal Sunshine of a Spotless Mind) - Gondry


Fico realmente tocada quando filmes alcançam o intangível: transformar sentimentos, sensações e outros substantivos abstratos em imagens, sons e narrativas realmente é um mérito!


Por exemplo: como falar de separações? A angústia de conviver com lembranças, com sonhos que nunca foram, com a dor do amor que fica, apesar do amor que vai? Como concretizar esse etéreo?

Boas respostas que dei esses tempos aqui foram: "Sonhos" Do Kim Ki Duk e "Foi Apenas um Sonho" (Revolutionary Road) do Sam Mendes. Agora aproveito pra comentar o "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças"... No qual Michel Gondry parte de uma situação totalmente fantástica e ao mesmo tempo tradutória de algo tão concreto nas trajetórias de nossas vidas.

Inventar Lacuna, a clínica especializada em apagar recordos sentimentais daqueles que sofrem com o passado e usá-la numa típica história de casal: conhecer, apaixonar, conviver, consolidar, achar problemas, entrar em crise, separar...

A construção não linear para confundir, instigar e também mostrar que uma relação não é necessariamente linear com começo, meio e fim marcados e definitivos. Somada de histórias paralelas que dão outras perspectivas desse sentimento tão poderoso que é o amor, que pode ser incontrolável e incontornável, podendo estar acima de nossas escolhas racionais.

Por dar vida a um tema tão universal e com pontos de vista ao mesmo tempo óbvios e profundos, o filme se tornou um certo ícone do coração de muita gente, por se sentirem expressadas naquilo nunca antes possível de ser dito... 

Ainda mais com uma linguagem tão envolvente, contemporânea, cheia de referências (desde o elenco, passando pelos efeitos visuais videoclípicos até a trilha sonora e o poema de Alexander Pope citado e que dá título ao filme...).

E pra completar, a moral da história que me ganha totalmente, pois sempre foi a minha: as vivências valem a pena e fugir delas, das lembranças e do passado é raso e falso.

Ou como diria Renato Russo "nada vai conseguir mudar o que ficou".

E algo sempre fica, como esse filme comigo!


quarta-feira, 16 de junho de 2010

Fish Tank - Andrea Arnold

Filme adolescente mostrando a periferia de outros países... Aqui a Inglaterra não tem conhecida, mas com as paixões, a falta de perspectiva, a agressividade, a carência, o espírito perdido tão familiares e universais...



A história de descoberta, de tentativas da protagonista: com uma mãe que negligencia as filhas, uma irmã menor com quem não tem diálogo, o namorado da mãe que lhe desperta desejos, um cavalo atado com quem se identifica, a dança como sua forma de expressão...
Sem grandes acontecimentos, mas com uma riqueza de cotidiano, de detalhes...



Podia ainda ir bem além, mas o que está de qualquer maneira instiga e emociona.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Dente Canino - Lanthimos

Nesse filme as pessoas falam grego!

Mas não é só, uma situação limite que chega a ser um pouco surreal, mas só um pouco, porque sabemos de fatos verídicos de pessoas encerradas em um espaço...
E também isso não é o que mais importa:

O que vale aqui é a construção das personagens, diferentes, intrigantes, em tempos, ações, enquadramentos, tudo que nos leva a um olhar realista, seja pelos silêncios, pelos gestos, ou por planos que desenquadram...


O ambiente fechado e os jovens fazem lembrar o brilhante "Pântano" de Lucrecia Martel, mas em um tom mais estriônico e europeu...

A violência também vai além, a psicológica, a física, a que reflete em quem está assistindo... Incomoda, mas faz pensar!



Onde estão os perigos do mundo? O que há dentro de nós? O que nos espera no lado de fora?



Kynodontas (Dente Canino) é um exemplo, de Yorgos Lanthimos, premiado em Cannes em 2009 choca com irreverência! Cada vez mais raro ver filmes que nos pareçam verdadeiramente diferentes, vale ver!!!

domingo, 16 de maio de 2010

Psicose do mestre Hitchcock

Difícil saber exatamente nos dias de hoje porque Psicose se tornou um clássico. Além de ser um filme com grandes qualidades artísticas, o que ele teria de excepcional?

Posso intuir que o carisma com que o início do filme é construído, nos aproximando da vida de uma jovem com sentimentos profundos numa situação difícil que se vê impelida a jogar tudo pro outro e tentar algo novo... O que?


Não chegamos a saber, porque o mestre também nos instiga e surpreende mudando completamente a trama. A jovem é assassinada e em cenas brilhantemente construídas, que estarão na história do cinema provavelmente pra sempre, já que a música e os gestos das facadas estão no imaginário mundial. 


E então o filme segue como um policial onde se tenta descobrir quem matou a bela. Thriller armado, em suspense puro. E ao final, uma outra volta, porque o filme deixa de se preocupar também com o assassino e se detem no porquê do assassino ter cometido seu crime.

Muitas camadas, muitas idas e vindas, muitas idéias lançadas.

Sigo com certa heresia cinematográfica de sentir que Hitchcock não dialoga muito comigo; não por não reconhecer seu talento, de maneira alguma, mas por não me envolver tanto tentando descobrir assassinatos e saber o que se passa. Em geral me interessam mais os porquês e ao final pra mim em seus filmes isso está um pouco desequilibrado, dividido com tantas ações brilhantemente construídas.

No meu imaginário também já está o chuveiro, o grito, a faca, o "nhim-nhim-nhim", mas já espero outros saltos que se possam dar, os tratamentos que podem ser dados em outras psicoses...


domingo, 9 de maio de 2010

Dead Ringers - David Cronenberg

Tinha grande expectativa com a obra de David Cronenberg, Dead Ringers, ou na interessante tradução brasileira: Gêmeos, Mórbida Semelhança.


E o que me distanciou do filme foi justamente isso: a morbidez... Seguramente um filme com uma trama profundamente envolvente onde dois irmãos que são gêmeos idênticos tem uma relação estranha com seus corpos - são médicos, ginecologistas e sempre ávidos por pesquisar o corpo humano e feminino. Essa pesquisa em conjunto também levam pra vida afetiva que levam, já que compartilham as mesmas mulheres, sem que elas saibam... Completamente mórbido! 

Mas essa união tem um limite, e eles tem rompantes de tentar buscar sua identidade... Um verdadeiro parto para eles...



Meu problema com o filme é que o sinto muito frio: não sinto nenhum carisma pelos protagonistas, nem mesmo pelos personagens secundários e acho tudo muito esquemático.




Desde os personagens que não saem de seus caráter esquemáticos, passando pela música que pontua e sublinha diversos momentos até a fotografia e direção de arte, que jogam o tempo todo com o contraste entre o vermelho e o azul, quase não havendo nenhuma outra matiz... 

Assim não sei se um pouco porque se datou e o assisti tardiamente, ou se porque realmente esse não é um universo que sou tão atraída para adentrar, mas sigo vendo Cronenberg com respeito, mas também com certa desconfiança... (confessando que também não sou nenhuma especialista, de forma alguma).

Podendo me divertir com "A Mosca", achar um pouco gratuito "Marcas da Violência" e aplaudir verdadeiramente "Senhores do Crime"...

sábado, 8 de maio de 2010

O cinema poético e comprometido de Ghobadi

Comecei a descobrir o cinema iraniano com certo "boom" que houve em São Paulo no final dos anos 90...
Filmes singelos e delicados que buscavam mostrar a poesia do cotidiano como "Balão Branco", "A Maçã",  "O Silêncio". 

Mas alguns filmes saiam dessa simplicidade... Fosse Kiarostami em seu tão profundo "Gosto de Cereja" ou Ghobadi que já em seu primeiro longa trouxe uma história também cheia de um cotidiano e realidade, mas com muito mais peso e drama... 



Na verdade, com mais tragédia, já que em "Tempo de Embebedar Cavalos" vemos a vida de uma família extremamente pobre e sem muitas perspectivas, onde uma das crianças tem uma doença grave e eles tentam buscar alternativas... Reviravoltas, tristezas, tentativas esperanças...





Não muito diferente de seu filme seguinte: "Tartarugas Podem Voar", que para mim é um dos filmes mais tristes que já vi...


Numa comunidade curda no Iraque, quase só há crianças entre os sobreviventes, e elas tentam seguir a vida em meio a toda sua fragilidade, suas feridas, sua responsabilidade antecipada, sua vontade de brincar, de acreditar, de ter esperança e tentar construir...


Parecem mesmo refugiados, num tempo e espaço esquecidos, para o qual o mundo se permite não dar atenção, deixar de lado, jogar regras de um jogo sujo...

E Ghobadi em uma ficção bem realista nos aproxima de uma história onde tartarugas podem voar, em explosões, sonhos ou imaginação... Vale a pena!

Por isso minha grande curiosidade com o último filme de Ghobadi: "Ninguém sabe nada sobre os Gatos Persas"... Outra chave, outro ritmo, outro ponto de vista...


Baseado em fatos reais e também jogando com um olhar documental, aqui traz um universo de cidade grande, Teerã... Onde um grupo de jovens músicos tenta espaço para produzir e divulgar sua música...

Personagens carismáticos, história simples e envolvente! Indie movie iraniano. Sempre rico conhecer outro universo, ainda mais porque tão distante do nosso latinoamericano... Mas dessa vez algo sobra... Ghobadi se divide entre contar a história da banda, de seu entorno e fazer um pequeno panorama do cenário musical iraniano e aí que se torna cansativo, porque vira quase uma série de videoclipes que nos distraem um pouco da história e não tem a mesma força que o intimismo com os personagens...

De qualquer maneira segue contundente, envolvente, cheio de dramas, melodias e pulsações...

Vale a pena descobrir mais sobre os Gatos Persas...



terça-feira, 4 de maio de 2010

Soul Kitchen de Fatih Akin

Fatih Akin é uma promessa da nova geração de cineastas que até agora não me decepcionou...
Começou com o potente e competente "Contra a Parede", em seguida veio outro drama de impacto: "Do Outro Lado", e entre os dois ainda havia um documentário musical...

Eis que surge então uma comédia musical: Soul Kitchen... 


Não chega a uma grande história como as anteriores, mas mais uma vez traz personagens muito interessantes, aqui explorados em um outra chave...



Faz um filme leve, irônico, divertido, cheio de carisma e ricos sabores saindo de uma cozinha com os tipos mais estranhos, gauches e outsiders...

Misturas de nacionalidades, tons, tipos e temperos...

Bonapetí!


segunda-feira, 3 de maio de 2010

Os jogos de sedução e de tempo de Julio Meden

Júlio Meden é um diretor de já respeitável filmografia, mas no Brasil, como acaba passando com grande parte da cultura iberoamericana, ignoramos a maior parte... Em grande parte por certa distância da língua... Que apesar de hermana, tem suas particularidades... Mas outro tanto porque acabamos consumindo mais os norte-americanos, ou enaltecendo mais aos franceses... E muitas vezes perdemos pérolas...

Nos dois filmes que vi de Meden: Lucia e o Sexo e Os Amantes do Círculo Polar, há uma grande inquietação em relação aos encontros e desencontros amorosos... As coincidências, as reminiscências, as perdições em tempo e espaço, a magia do sentimento e da narrativa ficcional...

cenas de 
Amantes do Círculo Polar


Em ambas as obras há uma sedução muito grande em sua narrativa: casting cuidadoso, boa trilha sonora, locações paradisíacas... E roteiros onde há premissas que instigam profundamente, que propõe viagens diferentes e atrativas, mas que em algum ponto se perdem um pouco... Excesso de casualidades, de idas e vindas... Tanto em Amantes do Círculo Polar como em Lúcia e o Sexo, o menos seria mais!
Ainda mais porque o mais poderia ser máximo, genial!

Ficam de qualquer maneira sementinhas e a curiosidade do que mais poderá vir...




domingo, 2 de maio de 2010

A Vida Secreta das Palavras - Isabel Coixet

A Vida Secreta das Palavras é um filme profundo e delicado... Acompanhamos uma protagonista silenciosa e com o peso de um segredo, que nos distancia, mas ao mesmo tempo nos intriga... Nos instiga a sabermos mais... Assim como o paciente que ela tem que cuidar como enfermeira... Falante e escondido através de piadas e palavras e mais palavras... 

A vida secreta aqui está tanto nas palavras ditas, como nas não ditas...

E os segredos são muitos...

A história é bastante envolvente... O roteiro, os atores... Mas algo na direção dá umas travadas... Acho que pra que fique tão construído esse silêncio e essas fugas de um personagem ao outro, em alguns momentos a história dá umas truncadinhas... Mas nada grave... Logo Isabel Coixet encontra novamente o fluxo e volta a contar a bela história que tem nas mãos... Ou na boca... Ou em seus olhos, que nos empresta por duas horas...



sexta-feira, 30 de abril de 2010

Dolls - Takeshi Kitano

Ao ver "Sonhos" e comentá-lo em aula, imeditamente me lembrei de "Dolls" - uma obra-prima de Takeshi Kitano... Cineasta irregular, mas que quando acerta a mão sabe fazer muita poesia com a sétima arte...

Aqui, por exemplo, fala de diferentes facetas do amor, encontros e desencontros, possibilidades e impossibilidades e transforma idéias abstratas em pictorias magníficas!

Como o casal que segue no filme do começo ao fim... em seu encontro de alma e desencontro de vida... atravessando todos os momentos do dia, todas as estações do ano, todos os estados de espírito...

Em "Dolls" vemos a simplicidade da felicidade em um brinquedinho de criança, e o fatalismo da felicidade parecer efêmera, frágil, impossível...
Casais que mesmo quando se encontram não podem desfrutar desse amor... Pior: casais que mesmo quando se REencontram, são impedidos novamente de vivê-lo...

E como em "Sonhos" de Kim Ki-Duk, Kitano também dá forma à sentimentos e situações abstratas de amor, solidão, angústia, loucura...
Me faz lembrar meu professor de criação literária citando Chico Buarque: "'ter que arrumar o quarto de um filho que já morreu' não é mesmo uma das melhores metáforas para saudade?". Ki-Duk e Kitano criam diversas...

E exploram o universo oriental com primazia... No minimalismo, nos detalhes: coloridas flores, belas e emblemáticas borboletas, máscaras, bonecos,teatros, óperas e quadros...

É o jogo de marionetes da vida transferido para 120 minutos de grande magia!

Delicado, suave, profundo...

Sonhos - Kim Ki-Duk


O que tem de mais profundo naquilo que sentimos? 
O que é o amor? A dor? A angústia? A união? A separação?

Como traduzir isso em imagens? Em histórias? Em poesia?

Kim Ki-Duk é um dos cineastas da atualidade que mais me chamam a atenção... Desde que vi o seu inquietante A Ilha; passando por aquele que o fez se consagrar em certo círculo em SP - Casa Vazia; até por outros não tão bem realizados, mas de argumento ainda mais sensacionais, como Time; ou em seu mais recente: Sonhos...

Aqui Ki-Duk parte de uma premissa absurda de um cara que tem sonhos premonitórios do que uma garota sonâmbula irá fazer, e ele nem a conhece... Ambos estão envolvidos com finais de relacionamento, e a relação que criam entre si terá a ver com isso...

Sonhos mais que contar uma história, joga com imagens, metáforas, símbolos... Não tem nada ver com nosso costume ocidental de racionalizar os sonhos, (como Freud)... Também não tem a ver com os sentimentos como eles são, mas como eles podem ser sentidos e representados, como em máscaras de teatro oriental... 


Por exemplo, Kim Ki-Duk não busca uma narrativa para a sensação de se sentir preso, atado ao passado de uma relação que já não é, ele busca imagens...

Ele não busca ações para essa tentativa de libertação, mas poesias visuais... 

Não é uma conversa triste e racional com lágrimas, pode ser uma algema, uma borboleta, um quarto vazio...

Por isso talvez a história não chegue a ser sensacional, mas o mergulho nas imagens, na sensação, me dilaceraram um pouco... E acho possível a qualquer um que já tenha sentido a angústia de não poder recuperar o que já passou; de saber que há que seguir mesmo em parte ainda querendo ficar; de amar mas saber que já é impossível; a sensação do avesso...

Abstrações tão concretas... em imagens às vezes tão belas quanto falsas, tão verdadeiras quanto tristes...

Além do que Sonhos me parece um mergulho profundo numa outra cultura... Que em parte sempre me faz perguntar o quanto o respeito pelas diferenças também não chegam a uma tolerância exacerbada onde talvez mesmo para os nativos parecerá excessivo e demasiado falso... Mas algumas sutilezas são fundamentais... Desde perceber que os ideogramas aparecem ao revés ou até saber que na simbologia oriental, numa relação, a busca de 1+1 será igual a 1... a união simbiótica... Tão distinta da nossa busca ocidental, onde apesar dos entrelaçamentos, 1+1 usualmente seguirá sendo 2...

E talvez por isso mesmo quando já me sentindo "2" e tendo que subtrair o outro, ainda haverá um ali debaixo, mesmo que doído... Já no filme...



domingo, 11 de abril de 2010

Nine


Tenho restrições com musicais, mas confesso que muitas vezes eles me ganham... talvez da mesma maneira como me encante com contos de fada simplórios e antiquados da Disney... Mergulho em um mundo de fantasia, me contagio com as músicas e com o ritmo e já estou...

Assim posso rir com palhaçadas em Dançando na Chuva, ou refletir em Todos Dizem eu Te Amo, ou me emocionar e derramar um rio de lágrimas em Dançando no Escuro, cantarolar em A Pequena Sereia... E me entreter bastante com Chicago! Filme de tribunal, tipicamente americano, como em geral não me interessam por nada, mas que deixaram boas recordações em mim de um dia de shopping com pipoca...

Um dia mais melancólico e de ressaca em minha estada em Valencia, busquei as opções não dubladas em um castellano meloso, eis que encontrei então Nine... Parecia uma ótima opção para me divertir: elenco bom, diretor que havia me divertido anteriormente, por que não?

Mas logo no começo, vendo que a narrativa não avançada, que era pesada e que era apenas uma sucessão de mulheres se exibindo e um homem se lamentando... Argh... Ok, a crise de criatividade é algo que nos faz ficar girando a cabeça, mas ficar rodando um filme inteiro em volta desse mesmo eixo...

Me cansou...

E olha que Daniel Day-Lewis me atrai a tentar ver o algo mais que parece haver atrás dos seus olhos, e olha que ver Sophia Loren depois de tanto tempo me parece muito rico, e olha que Kate Hudson é bem carismática, que Penélope Cruz está muito bem, Judi Dench também e que Marion Cotillard me intriga cada vez mais...

E aí está a prova: a importância que tem um roteiro!