sexta-feira, 30 de abril de 2010

Sonhos - Kim Ki-Duk


O que tem de mais profundo naquilo que sentimos? 
O que é o amor? A dor? A angústia? A união? A separação?

Como traduzir isso em imagens? Em histórias? Em poesia?

Kim Ki-Duk é um dos cineastas da atualidade que mais me chamam a atenção... Desde que vi o seu inquietante A Ilha; passando por aquele que o fez se consagrar em certo círculo em SP - Casa Vazia; até por outros não tão bem realizados, mas de argumento ainda mais sensacionais, como Time; ou em seu mais recente: Sonhos...

Aqui Ki-Duk parte de uma premissa absurda de um cara que tem sonhos premonitórios do que uma garota sonâmbula irá fazer, e ele nem a conhece... Ambos estão envolvidos com finais de relacionamento, e a relação que criam entre si terá a ver com isso...

Sonhos mais que contar uma história, joga com imagens, metáforas, símbolos... Não tem nada ver com nosso costume ocidental de racionalizar os sonhos, (como Freud)... Também não tem a ver com os sentimentos como eles são, mas como eles podem ser sentidos e representados, como em máscaras de teatro oriental... 


Por exemplo, Kim Ki-Duk não busca uma narrativa para a sensação de se sentir preso, atado ao passado de uma relação que já não é, ele busca imagens...

Ele não busca ações para essa tentativa de libertação, mas poesias visuais... 

Não é uma conversa triste e racional com lágrimas, pode ser uma algema, uma borboleta, um quarto vazio...

Por isso talvez a história não chegue a ser sensacional, mas o mergulho nas imagens, na sensação, me dilaceraram um pouco... E acho possível a qualquer um que já tenha sentido a angústia de não poder recuperar o que já passou; de saber que há que seguir mesmo em parte ainda querendo ficar; de amar mas saber que já é impossível; a sensação do avesso...

Abstrações tão concretas... em imagens às vezes tão belas quanto falsas, tão verdadeiras quanto tristes...

Além do que Sonhos me parece um mergulho profundo numa outra cultura... Que em parte sempre me faz perguntar o quanto o respeito pelas diferenças também não chegam a uma tolerância exacerbada onde talvez mesmo para os nativos parecerá excessivo e demasiado falso... Mas algumas sutilezas são fundamentais... Desde perceber que os ideogramas aparecem ao revés ou até saber que na simbologia oriental, numa relação, a busca de 1+1 será igual a 1... a união simbiótica... Tão distinta da nossa busca ocidental, onde apesar dos entrelaçamentos, 1+1 usualmente seguirá sendo 2...

E talvez por isso mesmo quando já me sentindo "2" e tendo que subtrair o outro, ainda haverá um ali debaixo, mesmo que doído... Já no filme...



2 comentários:

  1. Amo o Kim Ki-Duk. Seus filmes são tão poéticos e profundos que fico emocionada..

    Seu post está mt bom, traduziu perfeitamente o que é a experiência de assistir a um filme dele.

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  2. A paixão pelo trabalho desse sul-coreano veio quando assisti pela primeira vez Primavera,verão,outono,inverno...Primavera, muito bom, fiquei impressionado com o silêncio gritante de seus personagens. Depois com Endereço desconhecido,Time,Three Iron,The Bow,A samaritana, só ratificaram essa paixão. Estou louco pra assistir a esse dreams.

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