sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O Gebo e a Sombra - Manoel de Oliveira


Incansável, já em pré-produção de seu próximo filme, Manoel de Oliveira, aos 103 anos (quase 104), é autor de de dezenas de filmes (alguns já comentados aqui) e lança seu mais recente na Mostra Internacional de São Paulo (sua fiel escudeira brasileira): O Gebo e a Sombra.

Falando sobre cinema literário a partir do último filme de Raoul Ruiz, recém-comentado aqui, Manoel parece um mestre das adaptações (já adaptou e flertou com alguns clássicos literários como A Divina Comédia, de Dante, Singularidades de uma Rapariga Loura, de Eça de Queiroz e diversos textos de Agustina Bessa-Luís.

Mesmo em seus roteiros originais a palavra sempre tem suma importância, o que se pode ver até pelos títulos: A Carta, Palavra e Utopia ou um de seus mais geniais: Filme Falado.

Manoel costuma trazer diálogos longos e densos, sem tantas gesticulações e movimentações e mesmo sem tantas metáforas visuais. 

Vale o confronto de suas personagens através das palavras, e também de suas buscas por elas, através dos silêncios, suspiros, choros...

O Gebo e a Sombra conta a história de uma família em crise: o filho sumido, a mãe em depressão, a nora sem ação e o pai tentando manter a honra e a dignidade a qualquer custo, encobrindo roubos e ganâncias, vivendo privações e podendo pagar um preço alto por isso.

Essa é a "entrelinha" da história que pode ser vista como metáfora para a crise em que vive o capitalismo e a sociedade portuguesa.

Alguns paralelos são possíveis a partir da trama enxuta e precisa de Manoel.

Economiza em locações e arte, mas esbanja na fotografia escura que produz belos contornos e contrastes e nas grandes interpretações de Michael Lonsdale, Claudia Cardinale, Jeanne Moreau;


E de seus parceiros portugueses: Leonor Silveira, Luís Miguel Cintra e seu neto Ricardo Trêpa.


Os aspectos teatrais e pesados de Manoel podem dificultar a relação do público com seus filmes, mas uma vez dentro de suas tramas difícil também sair... 

Ficam em nós e ecoam, em profundas reflexões de questões atemporais e tempos nostálgicos, etéreos e eternos.

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