quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Like someone in love - Abbas Kiarostami


Não é sobre "um alguém apaixonado" (como diz o título em português) o novo filme de Abbas Kiarostami, se trata mais de gestos que nos levam a um alguém "in love"... em amor (que, sim, em inglês é sinônimo de estar apaixonado, mas pode ser muito mais amplo e complexo).

E assim é o filme... De dimensões muito mais amplas, complexas e profundas.

Narradas através de uma construção simples, quase crua e ao mesmo tempo quente.

O grande diretor iraniano Kiarostami explora seu domínio com a linguagem do cinema iraniano em um tratamento mais próximo ao documental, como já visto em seus filmes anteriores como Close Up ou Através das Oliveiras, mas traz a ficção aprendida com outros cinemas (como o europeu, com quem flertou no filme anterior Cópia Fiel - já comentado aqui) ou como o japonês, flerte atual...

A trama de Like someone in love se passa no Japão e começa com uma garota atendendo um telefonema em off (fora do quadro), apenas ouvimos sua voz e emprestamos seus olhos para ver o que está ao seu redor. 

De cara já se mergulha em certa cultura oriental com gestos do comportamento japonês, mais lacônico e contido.

A construção da cena instiga: a maneira não convencional de apresentar a personagem e sua longa duração.  A cena quase chega a se exceder em formalismo (de não mostrar a personagem), mas quando ela surge vem com tanta simplicidade e verdade que nos entregamos a ela.

Kiarostami faz suas personagens cativarem aos poucos.

Assim no ambiente seguinte, quando a menina novamente volta a usar o celular, ficamos completamente envolvidos com o que está sendo narrado pelo telefone. 

Começamos a intuir sua história e compartilhamos em silêncio sua dor silenciosa: a garota é uma prostituta que tenta se dividir entre sua vida profissional e sua vida pessoal com namorado e familiares, a quem esconde seu outro lado.

E através do cliente a quem ela vai atender naquela noite, essas duas vidas se unem, se chocam, se mesclam.


Um senhor de quem também não conhecemos muito, mas que se vê intrigado com aquela garota tão espontânea, bonita e cativante.

Lembra um pouco os filmes de Wong Kar Wai, mas sem tantos recursos estéticos (de fotografia, arte e trilha, como em Amor à Flor da Pele, por exemplo).

Kiarostami é mais simples, traz cenários mais realistas e fala de um amor mais singelo e cotidiano (sem a dimensão subjetiva e transcendetal de Kar Wai), mas numa delicadeza e profundidade similar.

A partir da personagem deste senhor e da contraposição com o namorado da menina, Kiarostami acaba falando de maneira filosófica sobre o amor também. 

Questões como o ciúme, o respeito, a liberdade e a sinceridade por um lado; questões como a generosidade, o carinho, a preocupação, a atenção, a ternura por outro...


Como diria Drummond: personagens "gauche" mas que vão de "mãos dadas".


Para onde não se sabe, pois em seu não-convencionalismo, Kiarostami muda algumas vezes a direção da narrativa e termina surpreendentemente, nos deixando no ar (pelo amor, pela densidade e pelo final em aberto).

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