sexta-feira, 30 de abril de 2010

Dolls - Takeshi Kitano

Ao ver "Sonhos" e comentá-lo em aula, imeditamente me lembrei de "Dolls" - uma obra-prima de Takeshi Kitano... Cineasta irregular, mas que quando acerta a mão sabe fazer muita poesia com a sétima arte...

Aqui, por exemplo, fala de diferentes facetas do amor, encontros e desencontros, possibilidades e impossibilidades e transforma idéias abstratas em pictorias magníficas!

Como o casal que segue no filme do começo ao fim... em seu encontro de alma e desencontro de vida... atravessando todos os momentos do dia, todas as estações do ano, todos os estados de espírito...

Em "Dolls" vemos a simplicidade da felicidade em um brinquedinho de criança, e o fatalismo da felicidade parecer efêmera, frágil, impossível...
Casais que mesmo quando se encontram não podem desfrutar desse amor... Pior: casais que mesmo quando se REencontram, são impedidos novamente de vivê-lo...

E como em "Sonhos" de Kim Ki-Duk, Kitano também dá forma à sentimentos e situações abstratas de amor, solidão, angústia, loucura...
Me faz lembrar meu professor de criação literária citando Chico Buarque: "'ter que arrumar o quarto de um filho que já morreu' não é mesmo uma das melhores metáforas para saudade?". Ki-Duk e Kitano criam diversas...

E exploram o universo oriental com primazia... No minimalismo, nos detalhes: coloridas flores, belas e emblemáticas borboletas, máscaras, bonecos,teatros, óperas e quadros...

É o jogo de marionetes da vida transferido para 120 minutos de grande magia!

Delicado, suave, profundo...

Sonhos - Kim Ki-Duk


O que tem de mais profundo naquilo que sentimos? 
O que é o amor? A dor? A angústia? A união? A separação?

Como traduzir isso em imagens? Em histórias? Em poesia?

Kim Ki-Duk é um dos cineastas da atualidade que mais me chamam a atenção... Desde que vi o seu inquietante A Ilha; passando por aquele que o fez se consagrar em certo círculo em SP - Casa Vazia; até por outros não tão bem realizados, mas de argumento ainda mais sensacionais, como Time; ou em seu mais recente: Sonhos...

Aqui Ki-Duk parte de uma premissa absurda de um cara que tem sonhos premonitórios do que uma garota sonâmbula irá fazer, e ele nem a conhece... Ambos estão envolvidos com finais de relacionamento, e a relação que criam entre si terá a ver com isso...

Sonhos mais que contar uma história, joga com imagens, metáforas, símbolos... Não tem nada ver com nosso costume ocidental de racionalizar os sonhos, (como Freud)... Também não tem a ver com os sentimentos como eles são, mas como eles podem ser sentidos e representados, como em máscaras de teatro oriental... 


Por exemplo, Kim Ki-Duk não busca uma narrativa para a sensação de se sentir preso, atado ao passado de uma relação que já não é, ele busca imagens...

Ele não busca ações para essa tentativa de libertação, mas poesias visuais... 

Não é uma conversa triste e racional com lágrimas, pode ser uma algema, uma borboleta, um quarto vazio...

Por isso talvez a história não chegue a ser sensacional, mas o mergulho nas imagens, na sensação, me dilaceraram um pouco... E acho possível a qualquer um que já tenha sentido a angústia de não poder recuperar o que já passou; de saber que há que seguir mesmo em parte ainda querendo ficar; de amar mas saber que já é impossível; a sensação do avesso...

Abstrações tão concretas... em imagens às vezes tão belas quanto falsas, tão verdadeiras quanto tristes...

Além do que Sonhos me parece um mergulho profundo numa outra cultura... Que em parte sempre me faz perguntar o quanto o respeito pelas diferenças também não chegam a uma tolerância exacerbada onde talvez mesmo para os nativos parecerá excessivo e demasiado falso... Mas algumas sutilezas são fundamentais... Desde perceber que os ideogramas aparecem ao revés ou até saber que na simbologia oriental, numa relação, a busca de 1+1 será igual a 1... a união simbiótica... Tão distinta da nossa busca ocidental, onde apesar dos entrelaçamentos, 1+1 usualmente seguirá sendo 2...

E talvez por isso mesmo quando já me sentindo "2" e tendo que subtrair o outro, ainda haverá um ali debaixo, mesmo que doído... Já no filme...



domingo, 11 de abril de 2010

Nine


Tenho restrições com musicais, mas confesso que muitas vezes eles me ganham... talvez da mesma maneira como me encante com contos de fada simplórios e antiquados da Disney... Mergulho em um mundo de fantasia, me contagio com as músicas e com o ritmo e já estou...

Assim posso rir com palhaçadas em Dançando na Chuva, ou refletir em Todos Dizem eu Te Amo, ou me emocionar e derramar um rio de lágrimas em Dançando no Escuro, cantarolar em A Pequena Sereia... E me entreter bastante com Chicago! Filme de tribunal, tipicamente americano, como em geral não me interessam por nada, mas que deixaram boas recordações em mim de um dia de shopping com pipoca...

Um dia mais melancólico e de ressaca em minha estada em Valencia, busquei as opções não dubladas em um castellano meloso, eis que encontrei então Nine... Parecia uma ótima opção para me divertir: elenco bom, diretor que havia me divertido anteriormente, por que não?

Mas logo no começo, vendo que a narrativa não avançada, que era pesada e que era apenas uma sucessão de mulheres se exibindo e um homem se lamentando... Argh... Ok, a crise de criatividade é algo que nos faz ficar girando a cabeça, mas ficar rodando um filme inteiro em volta desse mesmo eixo...

Me cansou...

E olha que Daniel Day-Lewis me atrai a tentar ver o algo mais que parece haver atrás dos seus olhos, e olha que ver Sophia Loren depois de tanto tempo me parece muito rico, e olha que Kate Hudson é bem carismática, que Penélope Cruz está muito bem, Judi Dench também e que Marion Cotillard me intriga cada vez mais...

E aí está a prova: a importância que tem um roteiro!

domingo, 28 de março de 2010

Saraband do eterno saudoso Ingmar Bergman

Feito para uma série televisiva e adaptado ao cinema... Resultado: último filme de Bergman...
E ali suas origens e referências: o teatro, a literatura, a psicologia... Seu cinema de longos silêncios e diálogos, de gritos e sussurros, de closes e planos seqüências, de aposta em atores e em Liv Ullman...

Mais uma tragédia de Bergman composta aqui em dez movimentos muito bem orquestrados: os personagens são como instrumentos, têm seus timbres e melodias e em cada combinação têm uma reação...

Uma história de encontros e desencontros, amores e desamores... Um casal de senhores que se encontram e falam sobre o passado, sobre seu casamento e sua separação... Se atualizam em relação ao presente e acabam se confrontando com a situação de cada um em sua família, com seus filhos, netos e afins...

Agudamente profundo, graves atos e sentimentos: personagens que são apresentados de acordo com pontos de vista de outros, que assim mostram suas contradições e também em suas distintas atuações de acordo com o interlocutor... Em momentos demonstram amores infinitos, em outros ódios insuperáveis... egoísmos X altruísmos, fragilidade X manipulação, doçura X perversidade...

Vasto material psicológico em primorosos acordes...

Vale a pena!
E para ficar o gostinho de revisitar filmografia tão importante!

quarta-feira, 24 de março de 2010

La Ciénaga - Lucrecia Martel e seus frutos (dentre os quais: "Laurita")



Hj revi o longa de estréia de Lucrecia Martel...
Novamente impactante, com força e frescor...



Uma família em férias em uma casa de praia, a decadência de cada um, o caos do coletivo, a pequenez e perdição de cada um e tb a possibilidade das profundidades por trás...

Mais que a idéia e a trajetória da narrativa, o que fica é a qualidade da representação: os diálogos naturalistas, todos ao mesmo tempo, sem ordem e sentido organizados; o mesmo com a caracterização dos personagens, tantas vezes mesclados, tantas vezes sem se saber as relações exatas entre eles; a câmera na mão que busca; os ruídos e sons que "poluem"; a montagem que ora corta demais, ora de menos, em uma vertigem rítmica que acompanha o todo...
Um filme preciso em seu caos, enérgico em sua intenção, brilhante em sua realização!

Me deixou refletindo sobre minha carreira cinematográfica... o que quero expressar com meu cinema, o que devo dizer em um primeiro longa... mais que isso: como devo dizer... e como isso define um pouco o que virá depois...


Como Lucrecia que depois nos mostrou um ambiente mais intimista em La Niña Santa, ainda com muita profundidade e muita particularidade, mas sem o mesmo frescor...

E curiosa ainda pra ver o mais recente... La Mujer sin Cabeza...



Rever La Cienaga também me fez pensar em conversas com Roney Freitas, diretor do curta Laurita, cuja maior fonte de inspiração é esse filme de estréia de Lucrecia...

Roney também busca um caos de férias, essa comunidade que se estabelece em uma casa para desfrutar um verão e onde se unem parentes, amigos, agregados, desejos, temores, histórias, segredos...

Com a delicadeza e profundidade do ponto de vista juvenil, aqui, no caso, da recém iniciada puberdade de Laura, a protagonista, que nos leva à nossa infância, às nossas lembranças, e nos traz um pouquinho da dele, um pouco de todo esse imaginário e poesia...

terça-feira, 23 de março de 2010

O Enigma de Kaspar Hauser

Cineasta inquieto, aqui, Herzog aproveita uma história verídica de um homem que foi encontrado depois de anos de claustro, sem que nunca tenha tido contato com nenhuma sociedade nem nenhuma língua...

Vemos então um homem descobrir o mundo c/olhos bem particulares:
às vezes com a pureza de uma criança, às vezes com a dor de um exilado, às vezes com a angústia de um "gauche", às vezes com a ansiedade de recuperar o tempo perdido, às vezes com o desespero de fugir de tudo e de todos...


Alguns lhe acolhem, outros lhe estranham...
Alguns têm muita paciência, outros nenhuma...
Situações de tensão até chegar a um clímax...

E fica a reflexão: afinal, o que é normal, o que temos ou não temos que desenvolver... O cérebro desse homem era desequilibrado por não ter desenvolvido a fala ou o convívio em sociedade, mas aqueles que vivem em coletivos sabem agir como tal?

Ver o filme hoje não tem muito frescor pela imagem, mas talvez tenha mais profundidade pelos questionamentos que podemos fazer em um tempo de big brothers e Josefs Fritz...




Talvez por isso tenha vindo também o precioso Old Boy do coreano Chan-Wook Park. Esse tb vale a pena!!! E como!!!

Conhecer ao outro para conhecer a ti mesmo...

sexta-feira, 12 de março de 2010

Ver o El Secreto de Sus Ojos de Campanella, vencedor do oscar de melhor filme estrangeiro 2010, também me fez pensar no quanto La Teta Asustada é um filme especial (que merecia o prêmio, além do urso de ouro de Berlim).

Com um vigor de histórias singelas e profundas de povos marginais, numa narrativa cheia de força e um pouco desequilibrada, mas que parece dizer muito mais ao mundo do que uma novela não tão boa de Campanella...
Me pergunto se foi uma dedicação tardia pelo Filho da Noiva, esse sim merecedor!


La Teta Asustada é o primeiro longa da peruana Claudia Llosa e vem cheio de desejo de dialogar com suas origens (de povos indígenas outrora massacrados e oprimidos)


em uma narrativa super intimista de uma garota vivendo a descoberta de sua sexualidade e sua crise de identidade (a perda de sua avó, com quem mantinha um vínculo profundo e que era um ser que ainda se mantinha totalmente fiel às origens e a histórias sofridas de quando mulheres vítimas de agressões ao amamentar seus filhos transmitiam seu medo... tetas assustadas).


O filme acaba sendo um pouco longo, se desequilibra em tudo que quer contar, mas me interessa muito mais exatamente por esses excessos... Excesso do que me fazer ouvir...


Mas que agradeço profundamente...
Pela cultura, profundidade, delicadeza e poesia...

Campanella e El Secreto de Sus Ojos



Quando vi O Filho da Noiva me apaixonei pela narrativa ao mesmo tempo simples e profunda, divertida e dramática, com histórias românticas, familiares, profissionais, filosóficas... E ao mesmo tempo numa fluidez... Quase como uma telenovela, mas de qualidades preciosas!



Grande mérito! Um dos meus filmes do coração... (reforçando minha curiosidade e admiração pelo cinema argentino)

E isso me manteve curiosa pra acompanhar a trajetória do diretor: tanto ver seu filme anterior O Mesmo Amor, a Mesma Chuva - que trabalha dentro do mesmo universo e com o mesmo tom, porém demonstrando menos maturidade e mais moralismo. Ou no filme seguinte O Clube da Lua que trouxe algumas variações do mesmo tema (família, romance, crise econômica...), em alguns quesitos até com mais profundidade, mas de maneira geral com um pouquinho menos de sabor... De qualquer maneira, todos bons filmes: boas premissas, boas, tramas, bons atores...

Com seu filme mais recente de novo minhas expectativas, mas não sei porque algo me deixava com pé atrás... Mas veio uma estatueta de melhor filme estrangeiro, então novamente a curiosidade...

Que não fez jus...

O Segredo dos seus Olhos tem uma narrativa embolada demais, quer jogar com gêneros (romance X thriller), mas acaba não se atendo nem a um nem a outro, os personagens aqui são menos profundos, têm menos camadas e parecem mais artificiais (o que fica reforçado tb por uma má caracterização dos personagens rejuvenecidos ou envelhecidos... Atores de 40 e poucos anos interpretando personagens de 20 e tanto ou 50 e tanto...)

O mérito nos outros filmes de Campanella, de fazer uma crônica do cotidiano aqui se perde com a tentativa de uma narrativa mais elaborada e fantasiosa... O feitiço vira contra o feiticeiro e me deixa com gosto amargo de decepção na saída do cinema...

Que venha um próximo para se redimir e me arrebatar novamente!


sábado, 6 de março de 2010

Gaspar Noé: Irreversível e Sozinho Contra Todos




Gaspar Noé realmente me conquistou com Irreversível.
Polêmica, nem todos "compram" o exagero do filme: violência de todas as formas - física, moral, psicológica, etc.




O que mais me interessa é a estrutura, o jogo que faz com o espectador.
Não basta pensar em narrativas não-lineares, há que fazer com que isso traga mais às suas leituras. Por exemplo, o mais chocante de começar um filme pelo fim, é mostrar como esse fim representa o máximo de degradação na vida de um casal e como ao vermos a história voltar e ficar cada vez mais suave, sutil, até mesmo romântica e vermos nos confrontar como espectadores com um certo alívio pelo "final feliz" e a contradição que isso gera ao repensarmos na estrutura. E mais ainda: em como quanto mais o final, ou seja, o princípio, se torna feliz, mais aterrorizante e destrutivo se torna o começo, ou seja, o fim.

Gaspar quer mostrar um mundo corrompido e quer mostrar o quanto participamos disso, o quanto ao tentar fugir e não enfrentar, estaremos sendo mais hipócritas e talvez mais perversos ainda...

Vendo um professor falar em aula do quanto a cena do estupro o incomoda e acha insuportável, me faz questionar se não é por a cena ser extremamente erótica e despertar sentimentos inescrupolosos de desejo de violação de quem está vendo... Perverso da parte do diretor, mas muito interessante...

E Gaspar parece tentar jogos parecidos em Só Contra Todos, apresenta um cara sem nada, um pária, digno dos personagens mais deploráveis de Dostoievski (como de Memórias do Subsolo)... Ele apresenta ao personagem de maneira bem simples, sintética, quase sem recurso algum, apenas o acompanhando em closes, planos de conjunto em ações ora cotidianas, ora de reações violentas. Mas a força e impacto do filme vem na voz em off do personagem, um constante fluxo de pensamento narra todo o filme e nos faz ver tudo que o personagem pode ter de repulsivo: ele julga e despreza a todos, declarando seu desejo de matar, violar, agredir...
Um homem de meia idade que vive no subúrbio de Paris e que tem em si marcas de um passado de violência e de desencontros em relações, trabalhos e ideais.

De certa maneira Noé joga com um ponto de vista distanciado, onde podemos apenas odiar ao tipo e vê-lo com escárnio, mas fica um incômodo por detrás, que pra mim me parece que é porque todos temos pensamentos desprezíveis, mas nosso pudor e nossa moral nos impede de externá-los.
Essa intenção fica ainda mais forte quando Noé traz um único momento em todo filme em que não acompanhamos o ponto de vista do protagonista. Aqui, depois dele ameaçar um cara, há uma reação de um grupo, que mostra também toda sua agressividade e preconceito, ou seja, todos ali podem ser tão desprezíveis como ele, se tivermos a oportunidade adentrar suas consciências, talvez façamos descobertas bem desagradáveis...

E assim fica a sementinha pra olharmos pra nós mesmos... Nossos próprios fantasmas e urubus... Uma arte que pode não ser a mais agradável, mas que me parece muito interessante, nobre e instigante do cinema...Voilà!


quinta-feira, 4 de março de 2010

Shutter Island

Pelo trailler já via que não era meu tipo de filme... Suspense, fantasias, Leonardo di Caprio...
Mas impulsionada por uma aula, fui...
Tem certa construção de clima, certa qualidade estética, certo suspense, mas...
Falta tanto...
É daqueles filmes em que a história vai dando voltas e em vários momentos vc se vê pensando: mas quem perguntou isso? Pq tá me contando? Pq agora tá desfazendo tudo que tinha feito? Pq tantas pistas falsas? E pq essa fantasia melosa? Pq certa breguice? Pq esses clichês?

O fundo da história traz uma discussão interessante sobre tratamentos psiquiátricos, aborda pontos fortes e profundos, mas para aí...

O que me plantou foi a sementinha de ler o livro, afinal, o único livro do Dennis Lehanne que li - Mystic River - que eu conheci primeiro pelo filme (por sinal mto bom), e que o livro era ainda superior!... Então, imagino que aqui deva ter coisa muito boa tb...

E tb lembrei mto de um conto sensacional de Gabriel Garcia Marquez: "Só Vim Telefonar"...
Vale mto a pena!!

O que me leva a crer que embora seja um pequeno Scorsese, tb num é de tudo perdido...
Se remar bte, talvez...

quarta-feira, 3 de março de 2010

A Fita Branca

Sentimentos profundos. Personagens densos. Conflitos psicológicos. Filmes transtornados.
Mais uma vez Haneke explora esses elementos de seu repertório e imaginário com maestria.

Aqui um laconismo, uma elegância preto e branca, uma suavidade pesada.
O silêncio que antecede tragédias em filmes de suspense parecem perdurar por esse filme do início ao fim.

Acompanhamos a história de moradores em uma pequena vila alemã na primeira metade do século passado... O cotidiano, a moral, a religiosidade... Tudo ali em pequenos detalhes, de forma simples e ao mesmo tempo tão complexa pra tantas interpretações do sentido pré-guerra de tudo aquilo.

E sim.
Mas não como a tese que tantos querem pregar, mas como o mais puro cinema.
Vale a pena.
Mais uma vez Haneke.



quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Invictus


Após um filme com tantas questões construídas de forma envolvente e de humor ácido como Gran Torino, Clint volta a um filme mais dramático e com menos matizes...

História comovente já que real e de um passado tão recente e tocante, mas que não precisava de músicas tão excessivas, câmeras lentas e outros recursos apelativos...

Já bastava o mentor do filme: Morgan Freeman na pele de Mandela, que tem sempre o tom de uma lição de moral e faz isso com tanta destreza...
(quando o filme começou, achei que pela primeira vez fosse ver Freeman como um protagonista, mas não)... Já bastava Matt Damon como um garoto tendo tanto a aprender...
Mas Clint achou que ainda não era suficiente... sublinhou sua própria narrativa e com isso me cansou... (como em "A Troca")

Méritos, sem dúvida, mas falta uma seriedade com mais retitude
(como em "Sobre Meninos e Lobos" ou "Menina de Ouro") ou ainda o frescor, o humor e a graciosidade com que pode construir (como em Gran Torino).

Sigo esperando o próximo e ainda lhe dando muitos créditos!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Deixe Ela Entrar


Antes de entrar na sessão li uma matéria que dizia algo como:
"filme de terror lírico"... Curioso, mas se encaixa muito bem...
Terror sem dúvida não é meu gênero, e há momentos em que ele realmente se fia no gênero. Em alguns desses momentos parece até comprometer o filme com os excessos fantasiosos (e que por falta de recursos técnicos ficam até um pouco toscos), mas o lirismo do filme é bem envolvente... O relacionamento de um garoto e uma garota-vampira... A aproximação que eles vão fazendo, a maneira como seus cotidianos vão sendo contados, o entralaçamento, os aprendizados, o afeto... De fato é delicado, suave, bonito...
Deixemos ela entrar... Não nos tira o fôlego, mas tem sua graça!

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

"Anti-cristo" do incrível Lars Von Trier


Raro um filme que super me estimule, que eu ache criativo, diferente, inovador...
E, no caso, Lars Von Trier consegue isso comigo SEMPRE!
Por isso o considero um dos maiores nomes do cinema atual, sem medo de falar bobagem...

Posso não gostar de todos os filmes, não achar que eles são os mais prazerosos, achá-los exagerados, mas de qq maneira sempre há qualidades e méritos!
E na maioria das vezes são obras brilhantes, vide "Os Idiotas", "Dogville", "Os Cinco Obstáculos", só para citar alguns...

Em seu último trabalho, "Anti-Cristo", novamente ousadia e irreverência...
Trier inicia o filme com imagens primorosas que dialogam com o uso de imagens pelas artes plásticas... Algo entre o videoclipe, a videoarte, poesia visual total!

Depois entra num filme intimista super psicológico com interpretações mto competentes!

E daí começa a entrar numa viagem mais exagerada...
Q me lembrou mto o Kucrick em "O Iluminado" e David Lynch de maneira geral...

Além disso, nessa viagem zilhões de referências mitológicas e psiqui-psicológicas...
Pra pensarmos em nossos demônios mesmo! Anti-cristo total!

Exageros e distorções a parte, o filme é incrível!

Pra reforçar tudo que já sou de fã e para seguir cada vez aumentando minha idolatria!!!

domingo, 27 de setembro de 2009

Homem que Sabia Demais


Tenho ido pouco ao cinema, e os últimos que vi, sinto que preciso parar e relembrar, digerir um pouquinho antes de escrever...

Enquanto isso, às vezes na ausência da telona, me divirto mesmo com a telinha...

DVDs e filmes no cabo pra mim são mais para rever...
Revejo mto mais do que vejo em premieres...

Mas sábado passado aproveitei que nunca tinha visto esse clássico de Hitchcock inteiro...

Na verdade Hitchcock é uma das minhas heresias cinematográficas, pq não curto mto... Ñ é meu estilo, tipo de filme...
Mas não é que me diverti com esse... Pq uma coisa é certa, o cara sabe como fazer uma história intrigante e se vc cai na dos personagens dele... Aí pronto! Está feita a diversão...

E ali, além de um suspense que envolvia política e culturas diferentes, tinha também o conflito familiar com sugestões de questões interessantíssimas... Como da mulher que abandonou sua carreira para acompanhar a carreira do marido e onde se vê a injustiça e o pesar disso...

Além disso sempre tudo impecável: trilha, cenários, foto... (mesmo com o backprojection hj já tão ultrapassado)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Bem-vindo

Um rapaz curdo que para estar ao lado de sua namorada atravessa vários países na europa e tenta chegar na Inglaterra.
Para isso acaba se aproximando de um homem de meia-idade recém divorciado e cheio de angústias e conflitos; eles acabam se aproximando e compartilhando histórias e pontos de vista...

Vi o trailler e gostei mto, fiquei super interessada, temática profunda, interessante, complexa - ainda mais q ouvi elogias e críticas positivas, mas...

Talvez até por isso tenha ficado com mtas expectativas tb... Mas o fato é que o filme se mantém meio morno: começa envolvente, interessante, mas não progride mto ao longo de seus 110 minutos e no fim ainda traz reviravoltas e desfechos meio exagerados que destoam mto de um tom mais realista e despretencioso do restante (despretensão que harmoniza mto mais com ele, inclusive!).

No balanço se torna um filme acima da média, mas longe de ser um filme memorável...

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Horas de Verão

Sem dúvida que é um bom filme: questões profundas, bons atores, sutilezas...
Gosto tb de momentos despretenciosos e menos alinhavados
(por exemplo nas cenas com os adolescentes)
e tb de momentos em que tudo é apresentado meio ao mesmo tempo, em certo tumulto bem realista...

Dá uma verdade e uma profundidade maior ao filme!

Entretanto falta algo...

Vi na Mostra, onde acabo ficando mais exigente com os filmes
(talvez devido à quantidade que vejo e que me dá mais parâmetros)
mas ainda assim, pensando em retrospecto, percebo que nenhumá personagem me cativou mto e acho que isso é essencial...
Dramas com tanto potencial, mas se alguém não faz uma boa apresentação e encadeamento...
acaba deixando o filme apenas bom...

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A Garota de Mônaco

Falando em cinema francês...
Devido ao encaixe de tempo e espaço fui ver A Garota de Mônaco - daqueles filmes que vc tem alguma simpatia ao ler a sinopse e ficha técnica, mas que tb não chega a nenhuma empolgação...

E não era pra empolgar mesmo... Apesar de alguns bons momentos e de algumas qualidades, o filme deixa muito a desejar...

A história é fraca: um advogado que por conta de um caso vai para Mônaco e passa a ter um guarda-costas. Ao longo de sua estadia também conhece uma jovem com quem começa um relacionamento...

O que não conquista é que não acompanhamos muito nem o caso que ele está defendendo - temos pistas bem rasteiras mas só no fim tudo é dito (e a trama se fosse bem trabalhada seria bem interessante; a relação entre ele e o guarda-costas também fica um pouco no ar, começa muito bem, com várias diferenças e trocas entre eles, mas que no momento em que deveria ficar mais denso, o narrador desiste de contar motivações, conclusões, sentimentos... Ficamos por nossa conta e daí só nos resta conclusões mais pobres e repentinas; com a relação entre ele e a tal "garota" também acontece um pouco isso: ela vai se construindo, se construindo, começa a se problematizar e daí pra resolver vem as soluções mais bobas e primárias...

Com um bom ator, belos cenários, acontecimentos interessantes o filme não chega a desagradar, mas fica numa mornidão bem meia-boca...

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Inimigo Público #1










Filme francês de ação:
trama acima da média para o gênero,
bons diálogos,
aspectos técnicos competentes,
bons atores...

Bom filme.

Mas também nada de excepcional,
como um Bourne, mas com menos pirotecnia...

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Há Tanto Tempo que te Amo - Philippe Claudel

Drama psicológico forte, denso, profundo! Estréia do escritor Philippe Claudel na direção, se atreveu a fazer uma trama em um dos meus gêneros preferidos e que há alguns meses não me dava um exemplar tão bom!

A história de uma mulher que está saindo da prisão após 15 anos e que está voltando à vida em sociedade. Sua volta se dá a partir da acolhida na casa de sua irmã. Seus motivos, suas dores, seus segredos, suas redescobertas e a convivência com todo o círculo de relações da família da irmã, com sugestões de outras relações e conflitos muito ricos tb é o que acompanhamos por duas horas.

(esses outros conflitos são algo que tb adoro, pois são pontas soltas, variedade de pontos de vista e situações, que nos aproximam mais da vida real... ñ é um recorte falso e providencial...)

E a construção lacônica, misteriosa e truncada da protagonista é o que vai fazendo com que o interesse seja despertado pouco a pouco.
Aproximamos nosso olhar daquela figura misteriosa, ora repulsiva, ora atraente.
As atuações são decisivas para isso: Kristin Scott Thomas está muito bem no papel, lembrando divas do cinema como Isabelle Huppert e Catherine Deneuve.

E aos poucos a trama vai sendo revelada, desde suas personalidades, suas vivências... Até chegarmos ao fato central que é profundo, complexo, ambíguo e extremamente comovente.

Filme muito bom e que chama atenção principalmente em tempos de escassez de qualidade...