quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Videogramas de uma Revolução (Videogramme einer Revolution) - Harun Farocki e Andrei Ujica


Os documentaristas Harun Farocki e Andrei Ujica desenvolveram uma narrativa a partir de um precioso material de registro do levante popular que depôs o ditador Nicolau Ceausescu do governo da Romênia em 1989.

Em um momento de importantes desdobramentos da Guerra Fria e com a presença cada vez mais intensa do audiovisual na vida das pessoas, Videogramas de uma Revolução é um importante ensaio com sons e imagens.

Mais do que a qualidade dos registros de transmissões televisivas, câmera amadoras e da narração e montagem que a amarram, a relevância está pelo audiovisual se tornando uma ferramenta política e um dos instrumentos de maior inserção na sociedade.

O filme dialoga tanto com importantes reportagens de TV de acontecimentos históricos (podendo inspirar filmes como Dias Verdes, de Hana Makhmalbaf), mas dialoga principalmente com as transmissões ao vivo e a relação que se traça entre o real e a transmissão do real.

O que fica de mais interessante do filme é a maneira como o audiovisual passa a ser o discurso da verdade e como os fatos reais vão se tornando espetáculo.

Assim ele pode dialogar com filmes políticos, mas dialoga também com a cobertura da morte da Princesa Diana;

Com o ataque ao WTC ou mesmo com o processo eleitoral brasileiro (ou de qualquer país).

Videogramas de uma Revolução já começa com um depoimento de uma mulher ferida no hospital: para ela é mais importante o registro da fala do que as palavras que vai usar. 

E ao longo da narrativa, a maneira como se torna um dos pontos mais estratégicos a tomada da TV pelo povo e todas as declarações e transmissões feitas, faz com que o filme reverbere muito além do final do século XX, que ainda ecoe em tempos de reality shows e outros espetáculos midiáticos.

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