O jovem diretor russo Yury Bykov apresenta seu terceiro longa, O Idiota, vencedor de quatro prêmios no Festival de Locarno, na Suíça.
A tradução do título no Brasil já nos faz pensar na tradição cultural do país e na obra que Dostoiévski que trata sobre o confronto de um homem e seus valores com a sociedade em que vive.
O protagonista do filme aqui, Dima, é um funcionário público que vive precariamente tentando concluir seus estudos de especialização em engenharia e assim conseguir uma promoção.
Os conflitos de sua situação já começam na casa em que mora com a mulher, o filho pequeno e os pais. Ali vemos o jantar humilde, a casa suja, decadente e amontoada e acompanhamos a discussão da mãe que questiona o pai por sua trajetória extremamente ética e honesta e que por isso não possibilitou nenhuma melhoria na família.
O filho se mostra bastante solidário ao pai e o apoia em ações como do reparo do banco da rua (já antecipando a fragilidade da administração pública).
Também vai sendo dado o tom do filme, com atores de expressões fortes, planos longos ressaltando silêncios e paisagens, diálogos extensos e que cada vez mais ficam didáticos e até esquemáticos, ótima direção de arte e som, e narrativa e montagem que vão cruzando as diferentes personagens.
Após essa apresentação, Dima é chamado para uma ação no trabalho, e tentando um reparo em um prédio na periferia da cidade, descobre problemas estruturais que ameaçam a estrutura do prédio.
Ele tenta voltar ao seu cotidiano, mas a preocupação com as centenas de moradores que correm risco de vida com o possível desabamento do prédio não o deixa em paz. Ele vai em busca dos administradores da cidade e aí o filme passa a fazer um desenho didático de como funciona a política local.
Corrupção, egoísmo, violência, ganância são alguns dos podres que vão sendo revelados.
Num limiar entre o realismo das cenas e da alegoria dos diálogos, Bykov denuncia uma situação lamentável na Rússia.
Sempre ao lado de Dima, mas numa narrativa racional que não nos deixa aproximar de seus sentimentos, acompanhamos sua angústia e percebemos a gravidade da podridão do sistema político local onde todos estão com comprometidos com roubos, mentiras e descaso com a população.
Mesmo o povo acaba se limitando a preocupações mesquinhas e se aproveitam uns dos outros, comprometendo até mesmo os laços familiares.
A violência é generalizada: a precariedade embrutece as pessoas, não há solidariedade, nem se entende qualquer generosidade. Há desconfiança de todos com todos e descrença com as boas ações.
O bem é visto por quase todos como uma idiotice e aqueles que o praticam não tem forças e podem sucumbir tragicamente.
Filme de desesperança na sociedade mas de esperança em um bom novo cinema de denúncia.