Em tempos de exposições excessivas de tanta futilidade em redes sociais, nos comovem as histórias reais que vem em narrativas profundas e elaboradas.
Foi assim com o documentário Elena, de Petra Costa - já comentado aqui. E é assim com Mataram meu irmão, documentário elogiado e premiado de Cristiano Burlan.
Mais um exemplar de documentário em primeira pessoa, em que o cineasta compartilha sua história pessoal e impacta com a força da realidade.
Se Petra usa de sua poesia e feminilidade para investigar o que aconteceu com sua irmã, mergulhando nas memórias e na psicologia da irmã, Burlan usa da secura e do "papo reto" e faz uma investigação mais sociológica.
O filme começa com imagens belas e poéticas, mas o tom de seu discurso já é duro e sério.
Depois o filme segue um discurso mais baseado em depoimentos (em especial do amigo durante cerveja na praia), discursos diretos, sem rebuscamentos ou metáforas, que ajudam a recompor a trajetória do irmão.
A "dura realidade da periferia" com verdade e simplicidade. Não são os grandes crimes e criminosos de Cidade de Deus, não é a vida de miséria registrada em tantos outros filmes, são relatos mais cotidianos, mas nem por isso sem grandes acontecimentos e situações dramáticas.
Mataram meu irmão é um soco no estômago, acompanhar a crueza dos fatos e ver a emoção de forma contida, mas tão densa (resultando na linda cena de um abraço familiar) é impactante.
Experiência não só cinematográfica, mas antropológica, principalmente porque é uma história que está vencendo as muralhas da periferia e chegando a classe média frequentadora de cinemas.
(E muito corajosa pela exposição que faz das pessoas envolvidas).
Grande feito.
E, assim como dito de Petra, fica a curiosidade para ver os próximos trabalhos de Burlan, saber como outras narrativas poderão ter a mesma força em seu cinema, em como outras feridas menos íntimas poderão ser tratadas e nos tocar com a mesma pungência...
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