quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

J. Edgar - Clint Eastwood


Clint Eastwood é um exemplo. Artista surgido como ator de faroestes americanos, um dos principais caubóis de filmes como Três Homens em Conflito de Sérgio Leone

Clint logo se aventurou também na direção, estreando com Perversa Paixão em 1971 e em seguida passando a atuar também como produtor e compositor de muitos de seus filmes (uma lista com mais de 30 títulos já).


Em quase 60 anos de carreira, Clint se mantém fiel ao cinema clássico e ao estilo durão dos seus primeiros personagens, mas parece estar sempre em busca de temas polêmicos e da subversão de sua própria persona.

Nas últimas décadas, Clint explorou temas como a eutanásia, a participação americana na 2a Guerra Mundial, a situação dos imigrantes nos EUA, a vida após a morte,

e um tema bastante recorrente que são os equívocos cometidos pela lei - fosse na adaptação do excelente livro de Lehane, Sobre Meninos e Lobos, no excessivamente melodramático A Troca ou em seu filme mais recente, J. Edgar.

Aqui, Clint conta a história de um dos mentores e criadores do FBI, J. Edgar Hoover. Hoover é apresentado por Clint como um obcecado pelo trabalho, compulsivo pela justiça, ou ainda, pela anti-criminalidade, já que esta "justiça" é questionada pelo filme.

(Talvez como O Espião que sabia demais, que também parece ter essa intenção, mas escorrega em seus excessos).


Afinal, compulsões exageradas levam a normas muito rígidas, inapropriadas ao comportamento humano.


Comportamento do próprio Hoover inclusive, que vive como um homossexual reprimido, nunca chegandondo a assumir o amor que ele compartilha com seu assistente e que segue fiel mesmo sem a consumação do sentimento.

Por isso, mesmo que não se crie empatia com esse protagonista, mesmo que o filme pareça excessivamente árido em seus ambientes de escritório e de "cenas de crimes", mesmo que o conservadorismo de Clint transpareça em suas escolhas de temas, personagens e linguagens, 

mesmo assim há um mérito inquestionável de sua busca incessante para entender o ser humano e colocar à prova sua própria persona (já que ele segue sendo o "machão" nos filmes em que atua).

Essa auto-ironia, esse humor fino, essa complexidade, esse mergulho no ser humano às vezes se perdem no tom,
como em A Troca ou Além da Vida, ou em excessivos elogios e falta de foco, como em Invictus e a história de Mandela.


Mas em outras vezes ele é preciso, ferino, denso e primoroso, como em Menina de Ouro ou Gran Torino.

Em J.Edgar, Clint se sai muito bem, apresenta uma boa (e verídica) trama, apresenta uma parte importante da história dos EUA e uma personagem complexa, tem ótimas atuações e tem um filme competente e equilibrado, mas talvez até por isso não seja tão pleno e não agrade tanto a todos.

Mas o eterno caubói certamente não se importa e continuará sua busca, aparentemente sem pudores, vergonhas ou receios (como prova também por sua atitude de não se envergonhar de seus quase 82 anos e suas marcas, registradas em capa de revista recentemente).

Por essas e tantas outras: vida longa ao Clintão!

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