domingo, 18 de dezembro de 2011

Restless e a inquietude de Gus Van Sant


Gus Van Sant é um diretor extremamente talentoso e que pode variar em narrativas mais clássicas como Gênio Indomável e Milk (já comentado aqui) e outras mais autorais e líricas como Paranoid Park Elefante, vencedor de Cannes em 2003.


Uma de suas constantes, independente da forma, é a juventude e, mais que isso: jovens deslocados, melancólicos, solitários, gauches...

E é assim em seu novo filme, Restless, no Brasil: Inquietos.


Enoch (Henry Hopper) é um frequentador de enterros morbidamente interessado - ou intrigado - com a morte. Nesse ambiente conhece Annabel (Mia Wasikowska), uma simpática e misteriosa garota que em seguida descobrirá ser uma paciente com câncer.

Os dois se identificam por suas excentricidades, seu gosto pela fantasia e abertura à imaginação. Se propõe jogos, charadas, faz-de-contas e não expõe nenhum preconceito por qualquer dúvida ou diferença que apresentem (muito diferente de uma média onde jovens posam de "sabe-tudo" e tentam seguir padrões).


Essa "fantasia" é o que torna o filme tão bonito e faz com que questões profundamente complexas como o amor e a morte se vejam tão poéticas.


Mas é também nesse tom surreal que o filme se amorna.


Não há em Inquietos um pacto de fantasia como nos filmes de Jean-Pierre Jeneut, por exemplo em seu mais conhecido Amélie Pouilan, ou nos recentes Submarino de Richard Ayoa e
Frango com Ameixas de Marjane Satrapi (já comentados aqui e ali, mas ainda inéditos no circuito comercial).



E assim suas personagens ficam um pouco perdidas em um tempo e espaço que poderiam ser mais interessantes se num universo completamente verossímil, que daria uma dimensão mais exótica e densa - como acontece em Os Sonhadores do mestre Bertolucci.

Alguns aspectos do filme que contribuem para isso são o excesso da trilha musical e a presença de fantasmas, que deixam a dúvida se o filme está sendo narrado em terceira pessoa ou não.

Se há uma mistura de subjetividade com paranóias e traumas envolvidos, já que o filme evoca esses desdobramentos de experiências de morte. 

Algumas lapidadas e o filme seria mais intimista, mais profundo, mais poético. Ficaria mais aberto às interpretações do espectador, que sem dúvida se envolveria pois o filme é muito bem construído (elenco, interpretações, fotografia, arte...).


Bonita obra, mas que poderia tocar mais.


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