É capaz de obras interessantes e muito divertidas como um de seus primeiros filmes Pepi, Luci e Bom ou o clássico Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos - nelas há tons cômicos e farsescos e muitos histrionismos bem orquestrados.
Mas é capaz também de filmes dramáticos nos quais há uma ímpar humanidade em suas personagens, propiciando aproximação e identificação do espectador (ainda que haja certa dose de caricatura...).
Histórias nada convencionais mas nas quais havia sentimentos muito bonitos: uma delicadeza em crimes, bizarrices e rompantes emocionais. Primor raro!
Agora em seu novo filme:
La Piel que Habito, Almodóvar se inspira no livro de Thierry Jonquet para criar uma dramática e pungente ficção científica.
Faz lembrar o clássico de Cronenberg: Dead Ringers - Gêmeos, Mórbida Semelhança (já comentado aqui), pela trama instigante, o drama profundo e pelas personagens excêntricas (médicos desafiando a ciência de acordo com seus desejos e instintos).
Mas sem dúvida remete também ao próprio Almodóvar, pela sua explosão de cores na foto e na direção de arte.
Entretanto o filme peca pelo excesso: excesso de histórias, excesso de reviravoltas, excesso de drama... Em alguns momentos chega até a parecer uma novela televisiva...
Por exemplo por seu excesso de personagens e tramas.
Começando pelo protagonista cheio de traumas, complexos e perversões e interpretado de maneira lacônica por Antônio Bandeiras - a frieza, que poderia ser um ponto positivo, não tem a dimensão da profundidade necessária e acaba não convencendo.
Começando pelo protagonista cheio de traumas, complexos e perversões e interpretado de maneira lacônica por Antônio Bandeiras - a frieza, que poderia ser um ponto positivo, não tem a dimensão da profundidade necessária e acaba não convencendo.
A alusão que há de outras histórias paralelas também incomodam, por exemplo de seu irmão (personagem falsamente brasileiro - o que para nós chama mais ainda a atenção e incomoda pelo sotaque e por uma menção ligeira ao tráfico nas favelas).
Ele surge sem muita apresentação, vestido com uma fantasia de tigre, traindo a todos e não demonstrando nenhum sentimento e desaparece sem que tenha provocado nossa curiosidade para nada, nem deixado nenhuma marca.
Ele surge sem muita apresentação, vestido com uma fantasia de tigre, traindo a todos e não demonstrando nenhum sentimento e desaparece sem que tenha provocado nossa curiosidade para nada, nem deixado nenhuma marca.
Para a apresentação dessas personagens secundárias ainda são explorados recursos pobres como flashbacks e narrações, que não condizem com os temas profundos que estão sendo tratados...
O potencial que o filme tem com suas questões psicanalíticas, acabam se perdendo em um rococó narrativo...
Valem as reflexões, mas a experiência cinematográfica deixa a desejar!
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