O jovem diretor italiano Luca Guadagnino me deixou um pouco perdida com seu filme:
inquieto, inovador, elegante, incômodo...
E não por motivos convencionais.
E não por motivos convencionais.
Ao se buscar uma sinopse o filme parece bastante normal: uma família de classe alta que vive seus amores e desamores em paralelo com a sucessão e destino de sua fonte de renda, a empresa têxtil que leva seu nome: Recchi.
A família é composta pelo avô, grande patriarca fundador da empresa, sua esposa, o filho, sua nora e seus netos: dois rapazes e uma moça, além dos parceiros destes.
E dessa composição já se inicia as primeiras estranhezas do filme. (Em tempos de filmes apocalípticos, ao se falar de algo estranho deve-se pensar em grandiosidades, mas aqui o problema é a falta de foco e direção da narrativa).
Desde o princípio vemos pincelados diversos conflitos, ou melhor, conflitos latentes, máscaras que esperamos que caiam e crises que esperamos ver expostas.
E o que parece falta de foco, acaba sendo mais uma maneira diferente de compor um panorama e mostrar múltiplas facetas de um conflito.
E o que parece falta de foco, acaba sendo mais uma maneira diferente de compor um panorama e mostrar múltiplas facetas de um conflito.
Desde a apresentação vemos que Um Sonho de Amor corrompe a cartilha do cinema clássico: não há no fim do primeiro ato um conflito muito evidente, ao menos não o que será o cerne do filme e de onde vem seu nome.
Ele até vai aos poucos vamos nos aproximando da protagonista, mas demoramos a entender o que ela sente e pensa.
Emma, vivida com precisão pela inglesa Tilda Swinton (que vive uma russa fora d'água entre italianos e que se entregou de corpo e alma ao projeto, sendo inclusive sua co-produtora) parece viver impassível uma vida de formalidades em seu cotidiano e seus compromissos familiares.
E é essa frieza e falta de conflitos é justamente o que nos faz buscar nuances nas entrelinhas dos acontecimentos e das reações com os conflitos dos que estão ao seu redor.
Mas no decorrer do filme algo vai mudando: ela deixa de ser apenas uma mulher subserviente que apenas busca satisfazer os desejos da família e prezar pelas aparências.
O que esperávamos dela diante de situações fora de padrões dentro da família como paixões homossexuais e desejos aventureiros profissionais não se consolidam.
E parece que ela mesma se surpreende com essa sua reação, ela vai se descobrindo (ou redescobrindo, já que sua essência, seu passado russo apagado e sufocado volta a tona com sua felicidade). E o filme vai retratando essa descoberta - inclusive de maneira subjetiva, já que muda a fotografia de maneira bastante não realista e ousa também na montagem.
Assim o filme vai mostrando a que veio: vai junto com a personagem botando suas garras de fora - sua criatividade, sua ousadia, suas paixões!
Claro que no meio das "estranhezas" me parece que há alguns excessos como metáforas na natureza para uma cena de sexo (com abelhas, poléns e flores), mas no geral a força das personagens e da narrativa se sobrepõe.
Em tempos de cinema feito através de fórmulas hollywoodianas é muito prazeroso e instigante ver experimentos fora dos padrões.
Guadagnino, sem querer revelar verdades universais, conta uma história de amor com qualidades contraditórias como delicadeza e audácia.
(Claro que muito de sua referência vem de "clássicos" do cinema moderno italiano, como o sublime Morte em Veneza de Visconti - explicitado na presença de Marisa Berenson no elenco, como a velha matriarca, por exemplo).
Mas como mesmo dentro dessa tradição o mais comum é vermos dramas traduzidos em narrativas mais novelescas, por isso resulta tão surpreendente!
Confira a eloquência e poesia no trailer!
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