Cineasta inquieto, engajado e experimental, desde a faculdade Paulo Sacramento fez curtas que chocavam e faziam pensar.
Sua carreira seguiu com grandes produções, fosse em seu excelente documentário O Prisioneiro da Grade de Ferro em que dividiu a câmera e a narrativa com detentos vivendo os últimos momentos do Carandiru.
Ou em suas parcerias: Sacramento produziu e montou filmes de nomes como Zé do Caixão e Cláudio Assis.
E foi se consagrando montador em parcerias com Sérgio Bianchi, Lina Chamie, Laís Bodanski, entre outros.
Agora Sacramento voltou à direção com a ficção Riocorrente.
O desejo documental seguiu, o filme parece fazer um panorama de São Paulo: as diferentes classes sociais, os embates, os cenários cinzas, a desolação, a solidão.
Uma artista plástica que divide suas noites (e dias) e seu corpo entre um professor de arte e um jovem que trabalha em um desmanche de carros na periferia e a relação deste com um garoto que ele tenta tirar das ruas.
O filme é árido, duro, cru e é com isso que instiga e impacta.
Porém falta drama. Falta mais força à trama do que os próprios conflitos da realidade.
Falta desenvolver na história como esses diferentes mundos que se chocam. Falta adensar mais as personagens e buscar mais unidade entre as cenas e as interpretações.
Sem isso o pacto de ficção do filme se perde um pouco e a força com que o filme começa não se mantém ao longo de todo o filme.
Há também cenas não realistas que ora propõe metáforas mais óbvias e ora metáforas mais herméticas. O entendimento e envolvimento acaba oscilando apesar da riqueza imagética e sensorial.
O resultado é um filme irregular, com pérolas (como retratos de São Paulo e os personagens do rapaz do desmanche e o menino, por exemplo).
Mas que também traz momentos mal construídos, como a discussão entre a artista e o professor, que vemos (ou ouvimos) através de uma janela e não nos aproxima dos personagens, nem os humaniza.
Sem uma interação mais profunda entre as cenas e personagens, como a vista no maravilhoso Som ao Redor, de Kleber Mendonça, já comentado aqui, Sacramento mais uma vez nos estimula, mas não atinge seu potencial máximo.
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