terça-feira, 29 de julho de 2014

Antes do Inverno (Avant l'hiver) - Philippe Claudel


O sensível diretor francês Philippe Claudel, que estreou nos cinemas com um dos melhores dramas dos últimos anos: Há tanto tempo que te amo, já comentado aqui, volta às telas com novo filme interessante de personagens profundos.

Novamente Claudel repete a fórmula de um filme mais clássico de conflitos psicológicos, dentro de classes sociais altas e questões médicas envolvidas.

No elenco também repete a parceria com a maravilhosa Kristin Scott Thomas, que contracena aqui com o excelente Daniel Auteuil.

Antes do Inverno acompanha o casal de meia idade Lucie e Paul. Ele um cirurgião bem sucedido, ela uma esposa exemplar: dedicada, companheira, mãe e avó presente, bonita, delicada, elegante. 

Ponto de partida aparentemente impropício para conflitos, porém sempre há muito que pode estar escondido por debaixo das tapeçarias.

Caso de filmes como Caché, de Michael Haneke (autor de algumas obras-primas comentadas aqui) - também protagonizado por Daniel Auteuil; Dentro da Casa, de Ozon (também comentado aqui) no qual Kristin também participa; Ou mais recentemente O Passado, de Ashgar Farhadi, um dos melhores filmes comentados aqui recentemente).

Antes do Inverno começa com um diagnóstico de impacto.



Em seguida a história passa ao cotidiano do casal, sem grandes traumas, apenas com a tensão de conflitos velados.

A obsessão pelo trabalho e o autrocentrismo de Paul mostram a dificuldade de Lucie ao tentar atingi-lo. Ainda mais por ela não querer enfrentar os reais problemas e tentar maquiar qualquer adversidade.

Manipula possíveis ciúmes do melhor amigo do marido (melhor amigo dela também? ex-amante? algo mais?). Evita ciúmes de novas relações de Paul e os dois apesar da vida em comum não se colocam como confidentes um do outro.

Assim, quando Paul começa a receber flores incessantes e ter encontros com uma possível ex-paciente, Lucie não acompanha o que o instiga e o seduz. A maneira pura, leve e terna como ele começa a se entregar a essa relação (amizade? flerte? afetividade paternal?) não lhe dizem respeito.

Claudel novamente mostra muito talento para construir personagens e desenvolver suas histórias, mas neste caso parece ter querido contar histórias demais: cotidiano, suspense, amor, desamor, crises, golpes... 


Se excede em revelações e ganchos e não explora cada detalhe como poderia. (Podendo até comprometer grandes revelações).

Em Há tanto tempo que te amo, esse é um dos grandes méritos e diferenciais: mesmo com a narrativa convencional e quase novelesca ali Claudel não tem pressa de contar a história, e nem pretende contar tanto.

Vai num passo a passo desenvolvendo a trama e chegando num ápice de emoção extremamente forte e envolvente.

Em Antes do inverno mistura um pouco as estações e nos deixa com muitas situações densas e belas, mas não tão bem alinhavadas. Ficam raios de sol e flocos de neve como pepitas, mas no geral tudo acaba um pouco morno.


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