O irlandês John Carney que já havia feito parte da banda The Frames, sugeriu que a banda fizesse músicas para poderem ser roteiro de um filme.
Quem nunca imaginou histórias ao ouvir uma música?
(caso da música da Legião Urbana que gerou o filme de mesmo nome: Faroeste Caboclo, já comentado aqui).
Então de uma dezena de músicas de Glen Hansard e Markéta Irglová John Carney estruturou um roteiro e dirigiu Apenas uma vez.
Os músicos interpretaram os protagonistas em uma narrativa singela e romântica: dois jovens com seus traumas amorosos se conhecendo e dividindo suas histórias (em formato de canções).
Lembra a estrutura de outros filmes despretensiosos e envolventes como a trilogia Antes do amanhecer / pôr do sol / meia-noite, comentados aqui ou o brasileiro Apenas o Fim de Matheus Souza, também comentado aqui.
Em Apenas uma vez os dois jovens tem um encontro espontâneo e improvável e se identificam em suas solidões. Começam a interagir através da música e percebem uma química entre eles.
Aos poucos parte de suas histórias vão sendo reveladas e a parceria vai dando certo.
Os acontecimentos são um pouco fantasiosos e simplórios demais e do encontro acabam ficando mais as parcerias das músicas - que lhes renderam inclusive o oscar de melhor canção original.
Talvez um pouco mais da história das personagens e das músicas interagindo de maneira mais natural (deixando que as músicas se incorporassem ao filme e não o inverso), e a sétima arte poderia resultar ainda melhor.
Porém o filme não se perde nas vozes doces dos personagens e não cai num final feliz e arranjado.
Mesmo com as notas de conto de fadas ao longo da narrativa, no final o realismo fala mais alto e dá mais força ao filme (lembrando inclusive outro casal musical na Irlanda no excelente Apenas um beijo do mestre Ken Loach, sempre comentado por aqui).