quinta-feira, 24 de abril de 2014

Um Estranho no Lago (L'inconnu du lac) - Alain Guiraudie


Pouco ou não conhecido por aqui, o diretor e roteirista Alain Guiraudie chega com um filme bonito e instigante.

Um Estranho no Lago foi saudado pelos que viram nele a herança do cinema noir: construção de clima e suspense através de bela paisagem, decupagem precisa e personagens exóticos.

Todo o filme se passa em uma praia, local de "pegação" entre homens. Ali vale tudo: casais liberais, voyeurs, curiosos, promíscuos, perdidos, vorazes, buscadores...

Só não há muito espaço para o amor.

Aqueles que o procuram acabam encontrando riscos mais sérios, dignos de um thriller psico-erótico.

As conversas descompromissadas e que pouco a pouco se adensam entre Pierre e Henri, as buscas e investidas carentes e românticas de Pierre ou as observações perspicazes do inspetor Damroder ficam no ar.

São sobrepostas pela história criminosa de Michel e a atração de Pierre pelo perigo.

Diálogo com os filmes franceses dos anos 40 e 50, ou com a obra-prima de Camus, O Estrangeiro, Um Estranho no Lago mostra diversos estranhos, cada um a sua maneira.


(Estranho também não ter sido muito censurado por apresentar clichês da homossexualidade masculina nem pela frieza com que constrói seus personagens. 
Comentários que se ouviu de outro filme homossexual com o qual paralelos foram traçados mais pela coincidência de nacionalidade e lançamento do que por semelhanças cinematográficas: Azul é a cor mais quente - já comentado aqui).

Sem encerrar sua história e sem se completar em si, a trama fica em aberto, com lacunas, dúvidas, questões... Podemos nos projetar e tentar preencher as lacunas, mas faltam tantos sentimentos e humanidade que isso também é difícil neste filme.

A experiência do filme é densa - encantos de linguagem (elenco, locação, foto) e atrativos narrativos - mas numa relação extremamente árida.

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