quinta-feira, 18 de julho de 2013

A Espuma dos Dias (L'écume des jours) - Michel Gondry


Um dos grandes nomes do videoclipe mundial, Michel Gondry há tempos incursiona por outros formatos, como documentários, séries e também longas-metragens, dentre eles Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças ou Rebobine, por favor - ambos comentados aqui.

O primeiro explorava a linguagem em busca de sentimentos abstratos - o desejo de se esquecer alguém após um término doloroso de relação, questões sobre o luto, o amor, a dor, a cumplicidade, o ciúmes, escolhas etc. 

O segundo uma brincadeira de linguagem, no qual os personagens tentam refilmar clássicos pop do cinema americano sem nenhum recurso - despretensioso e com potencial, mas num resultado regular.

Agora, em A Espuma dos Dias, Gondry tenta novamente retratar situações e sensações etéreas e para isso lança mão de todo seu repertório visual: animações, stop motion, cenários, figurinos, grafismos, decupagem etc etc etc.

Isso na primeira metade do filme se torna bem cansativo, pois há a construção de situações fantasiosas cheias de beleza, mas sem muito significado. 

Apenas o idílio entre dois jovens, interpretados por ícones do recente "star sistem" francês: Audrey Tatou - que ficou conhecida já dentro do universo fantástico, com o filme Amelie Poulain, do grande diretor francês Jean-Pierre Jeneut;

E Romain Duris, que tem se dividido em filmes mais "cabeça", como Exílios, mas que já se aventurou também em comédias românticas, caso de Albergue Espanhol e suas continuações - brevemente comentadas aqui.

Em A Espuma dos Dias não há cuidado na construção das personagens, nem profundidade nos acontecimentos narrados, por isso o excesso de esteticismo se torna cansativo.

Diferente de Brilho Eterno no qual os personagens também não tinham muitas camadas e muita elaboração, mas suas questões eram apresentadas no início do filme e por isso o envolvimento se dava mais fluido.

A comparação entre os dois filmes vem naturalmente, porque na segunda metade de A Espuma dos Dias começamos a ver o conflito: durante a lua de mel da garota, ela contrai uma doença e vai sendo consumada por ela.

Não apenas sua saúde vai se consumando, mas a fortuna do rapaz para tratá-la, a saúde dele a partir do momento em que começa a trabalhar desesperadamente para custear o tratamento dela;

E também nas relações paralelas, seja no mordomo do rapaz ou em seus amigos, seja por questões emocionais, financeiras ou outras...

Os melhores amigos do casal, por exemplo, vivem um conflito pelo homem ficar viciado na teoria de Jean-Sol Partre (trocadilho claro e com citações durante o filme que mostram uma forte relação de Gondry com a poesia e a filosofia) e isso o consome como se fosse heroína. 

Sua companheira, fica consumida pela impotência diante do vício do companheiro e pelo amor que se esvai no desenrolar dessa situação, sem chances de contorno.

Essas consumações de que tratam o filme são todas retratadas em metáforas visuais e se dão em tempos e em ritmos muito subjetivos, na mesma sensação de concretização de abstrações de Brilho Eterno.

A própria doença da garota é extremamente poética: ela inspira uma flor de lótus e essa flor cresce dentro dela, contaminando e tragando seu pulmão.

Mas o filme peca pelo excesso, ao invés de investir na delicadeza das metáforas e em cenas mais intimistas, fica buscando o tempo inteiro imagens criativas e mirabolantes e com isso se arrisca em distanciar os espectadores.

Muito potencial na história e mais ainda em Gondry, mas que com mais seletividade teria mais
profundidade e poesia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário