A artista alemã Margarethe Von Trota, atriz, roteirista e diretora de dezenas de filmes e programas de TV, se mostra interessada por questões e figuras de nosso tempo.
Em seu filme mais recente o tema é a escritora alemã (de filosofia, política e tanto mais): Hannah Arendt.
Margarethe faz uma abordagem objetiva, em uma linguagem quase fria, que começa nos distanciando da figura de Hannah, mas aos poucos nos intriga e nos aproxima de seu pensamento - justamente o tema do filme.
No período retratado, Hannah vive há muitos anos nos EUA, após se exilar em fuga do extermínio nazista aos judeus. Ali tem um círculo íntimo e intenso de amizades e uma vida em certa estabilidade.
A novidade é a captura de um dos comandantes nazistas: Eichmann, que passa a ser julgado em Jerusalém e que Hannah consegue a oportunidade de fazer a cobertura.
As cenas que vemos são sempre de Hannah pensando, processando seus escritos e dialogando com seus pares (ou seus ímpares) sobre esse julgamento, suas origens e desdobramentos.
Entre esses interlocutores outros intelectuais importantes como Martim Heidegger, Hans Jonas e Mary McCarthy.
Mas não há muito calor em toda essa construção.
E essa é também a crítica que Hannah recebe pelo texto que escreve a partir do julgamento de Eichmann:
Como ela pode fazer uma análise filosófica sobre o mal feito por esse homem sem se colocar como vítima pessoal dele (como judia que sofreu diretamente com o nazismo)?
Como ela pode vê-lo simplesmente como um burocrata que não pensou nas consequências de seus atos?
(Atitude que faz lembrar a personagem de O Leitor de Stephen Daldry - já comentado aqui, obviamente em proporções muito menores e em uma narrativa muito mais intimista. Ou a narradora e coadjuvante do excelente A Queda! - As Últimas Horas de Hitler, de Oliver Hirschbiegel).
Não há espaço para a emoção na obra de Hannah e por isso faz sentido não haver espaço para emoção no filme de Margarethe e na interpretação de Barbara Sukowa - que já havia sido parceira de Margarethe em filmes como Os Anos de Chumbo ou no outro exemplo biográfico da diretora: Rosa Luxemburgo, de 1986.
O filme faz um recorte sobre o pensamento de Hannah sobre a maldade cometida por nazistas sem mostrar outras qualidades ou intimidades da alemã.
Por um lado fica o gosto de "quero mais" por conhecer uma pessoa tão rica, por outro fica a semente do "pensar mais" a partir de elementos retratados tão profundos e complexos.
Muito interessante, vale a pena!
Nenhum comentário:
Postar um comentário