terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A Culpa é das Estrelas (The Fault in Our Stars) - Josh Boone



O jovem diretor americano Josh Boone aproveitou o sucesso do best seller de John Green para adaptá-lo ao cinema.


A culpa é das estrelas mostra relação de doentes terminais e a possibilidade deles para aproveitar a vida: o primeiro amor, a viagem dos sonhos, o cotidiano...

A premissa em si já parece bem conflituosa e dramática, entretanto a apresentação dos fatos não nos levam a um crescente e por vezes resvala no piegas e melodramático. 

O filme ganha quando fica nas pequenezas singelas, fazendo lembrar o ótimo Inquietos, já comentado aqui, que ganha mais ao ficar no cotidiano e se apoiar na ludicidade, e que com certeza serviu de referência (inclusive de atuações, por exemplo).

Outro problema são os excessos de intenções, provavelmente vindos do livro, sempre um espaço para mais questões...

Por exemplo a tentativa de aproximar algumas sequências de histórias de contos de fada; a citação da história de Anne Frank (quando visitam o museu); ídolos e fãs (já que o sonho da garota é conhecer o autor de um livro que a ajuda mas que no ao vivo a decepciona);

Ou as questões filosóficas vindas da dualidade vida X morte (sempre nos momentos de agravamentos das doenças e despedidas).


Boas intenções e ritmo envolvente, mas faltou a máxima de "menos é mais".


Entre Mundos (Zwischen Welten) - Feo Aladag



Feo Aladag começou sua carreira como atriz, principalmente de TV, na Austria. Também já se aventurou pelos roteiros e no longa Entre Mundos assina o roteiro, a produção e a direção.


No filme ela empresta seu olhar europeu sobre os conflitos no Afeganistão: um soldado alemão e um jovem afegão trabalham junto em um esquadrão. Um como comandante e o outro como intérprete.

Na verdade o rapaz busca contatos para tentar sair do país com sua irmã, já que eles são constantemente ameaçados pelo Talibã.


O filme foca na dificuldade de comunicação no ambiente de guerra e na falta de valorização de vidas individuais. 

Casos particulares se tornam menores e esse é o grande drama do filme: irmãos assassinados, culpa, vingança, arrependimento, impotência...


Bom trabalho com o qual nos relacionamos e nos comovemos.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Jauja - Lisandro Alonso


O argentino Lisandro Alonso tem um bom argumento, lindas paisagens e um grande nome para protagonizar seu filme, mas faz de Jauja um filme confuso e cansativo.

Viggo Motersen vive um engenheiro dinamarquês que vai trabalhar na Patagônia e traz consigo a filha adolescente.

As relações do patrão gringo e dos nativos demonstra algumas tensões que se intensificam com os desejos despertados por sua filha.

O pai começa a ter cautela, mas aí já se revela a paixão que a garota vive com um rapaz e que a faz fugir.

Quando o pai descobre, vai atrás da filha e aí o filme adquire outro tom.

Essa busca não será apenas a trajetória em direção a um encontro real, mas metafísico, envolvendo diferentes tempos e espaços.

A narrativa se confunde com uma fantasia ou um sonho. A garota vive mesmo na Patagônia ou esteve o tempo todo na Dinamarca?

Assim como a Alice de Lewis Carroll há um espelhamento de acontecimentos e personagens em dois mundos, porém esses fatos e alusões não trazem tantos questionamentos e reflexões e se perdem em uma narrativa arrastada e de intenções nebulosas.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Captain Phillips - Paul Greengrass


Paul Greengrass mais uma vez comprova seu talento na direção de filmes de ação. Ele se destacou, por exemplo, na série Bourne. Agora, baseado em uma história real, dirige Capitão Phillips.

Em 2009 um cargueiro é assaltado por pequenos barcos piratas com oito somalianos, estes exigem todo o dinheiro, fazem o capitão de refém e segue-se uma longa e árdua negociação.

Todo esse suspense resulta em um filme emocionante e intimista, dado o ambiente e paisagem limitados de barcos em alto mar.

Porém o princípio norte-americano de mocinhos X bandidos, onde o herói é sempre americano empobrece a narrativa.

Não que deveria ser feita uma defesa das gangues violentas da Somalia, mas não trazer considerações sobre a miséria que assola o país e faz com que os assaltantes se arrisquem de maneira absolutamente destemida, os caracterizando apenas pelo sangue frio é rejeitar nuances que poderiam aprofundar o filme.

Tom Hanks ainda faz um ótimo trabalho ao se mostrar em choque no final, como já o vimos fazer em filmes semelhantes como O Náufrago, mas os dizeres de que seu personagem na vida real voltou ao mesmo ofício logo em seguida jogam essa interpretação por terra (ou por mar).

Uma pena, pois poderia explorar mais as profundezas da personagem e assim embarcaríamos mais em sua história e suas emoções.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O Pequeno Quinquin - Bruno Dumont


Bruno Dumont fez uma estréia tardia em longas-metragens, mas já chegou se destacando muito com sua Vida de Jesus. Não foi diferente com o seguinte A Humanidade ou com exemplos mais recentes como Fora de Satã - comentados aqui.

Dumont constrói narrativas colocando personagens bizarros e profundos em situações ao mesmo tempo corriqueiras e de pouca ação com estranhezas e acontecimentos inusitados.

Algumas vezes beira o fantástico e inexplicável, mas sem ir para o caminho do lúdico e sim do filosófico.

Mesmo com Camille Claudel 1915, tentou fazer o mesmo com um momento da vida da escultora francesa, mas sem tanto brilho - como comentado aqui.


Em O Pequeno Quinquin, edição de narrativa originalmente para uma série televisiva, Dumont se perde um pouco entre muitas intenções. 

Em parte pela adaptação de uma série que na TV podia ter mais núcleos narrativos e demorar a mais a solucionar conflitos, mas em outra parte por alimentar situações, personagens e suspenses que ao final não estão à altura das expectativas criadas.

Personagens de grande potencial e temas instigantes (moral, aparências, religião, imigração, preconceito) e que ganham força na pele de crianças e dialogam com filmes como A Fita Branca de Haneke, também comentado aqui.

Filme bom mas que deve ter rendido mais como série e que bom que exitosa, é preciso ter espaço para narrativas mais densas na televisão também!

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Dólares de Areia (Dólares de Arena) - Israel Cárdenas & Laura Amelia Guzmán



O casal de jovens diretores latinos, ela dominicana e ele mexicano, aproveitou um tema forte e polêmico para convidar a grande atriz Geraldine Chaplin para protagonizar Dólares de Areia.

Geraldine é a senhora européia rica e entediada que vive sua melancolia em uma paisagem praiana latina. Ali ela conhece uma jovem cheia de vida com quem se relaciona.

A relação é desigual e conturbada: a senhora paga para ter afeto e vida ao seu redor e a garota se aproveita do dinheiro e do conforto.

As duas têm uma vida incompleta, e apesar do que uma pode dar a outra, não é suficiente.


Nem o filme.

As boas atuações e o tema interessante não são suficientes para fazer com que a narrativa saia do óbvio e para que transcenda em possibilidades. 

Faz lembrar o ótimo Em Direção ao Sul do interessante francês Laurent Cantent - que já recebeu comentários por aqui - mas não trata com tanta profundidade as personagens, não vai na origem de seus sofrimentos, nem das possibilidades ou mesmo na crítica social dos europeus explorando latinos, da prostituição, da miséria, violência, aborto etc.

Dólares de Areia resulta numa narrativa competente, mas tímida.
Um começo com potencial para se ver o que virá adiante do casal.

Interestelar (interstellar) - Christopher Nolan


Para quem não curte ficção científica ficam faltando mais atrativos do que os dados científicos e as imagens espetaculares para sustentar o filme. 

No caso do inglês Christopher Nolan ele poderia ter usado seu apreço por narrativas rebuscadas e fantasiosas de filmes como Amnésia e A Origem para enriquecer seu Interestelar.

Entretanto o rebuscamento da narrativa aqui apenas acaba, poluindo e confundindo a parte científica do filme.

Os principais problemas são a falta de aproximação das personagens e falta de carisma delas e o consequente enfraquecimento do conflito central.

O perigo do fim do planeta Terra não é sentido tão "na pele", não vivenciamos tanto a degradação e o pré-apocalipse para justificar toda a aventura espacial.

Assim os desafios e sacrifícios ficam um pouco opacos e não nos deixam tão envolvidos com a história.

Muito diferente de exemplares que conseguem nos trazer questões filosóficas e existenciais como Blade Runner de Ridley Scott ou Solaris do mestre Tarkovski - já comentado aqui.

Interestelar lembra mais o clima de Sinais de M. Night Shyamalan ou uma versão melhorada e mais complexa de Armageddon de Grace Stamper ou  Gravidade de Alfonso Cuarón - também comentado aqui.

A ida de Cooper, o protagonista vivido por Matthew McConaughey, ao espaço em busca de um novo planeta em que os humanos possam viver e as questões físicas que ele vive: como a relatividade do tempo, do espaço e de outras dimensões, colocam em cheque o sucesso de sua expedição, mas não com tanta emoção.

Há elementos para pensarmos sobre as limitações do planeta e dos seres humanos e na possibilidade de outras realidades, algo que Nolan já mostrou sua competência em retratar, mas no geral o filme tem um "espaço" de alcance limitado.