quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cabeça a Prêmio

Estréia de Marco Ricca como diretor: boa!

Não posso dizer que me identifico com a trama de corrupção, machismo, brigas de poder em universo masculino de confins agrários brasileiros, mas...

Bons atores: desde a pouco conhecida Ana Braga ou o quase inédito no cinema Otávio Muller;

Passando pelo grande (em todos os sentidos) reaparecimento de Fúlvio Stefanini, cumprindo muito bem o papel de coronel;




Chegando na estrela internacional brasileira Alice Braga; e no internacional argentino (dos ótimos filmes de Daniel Burman): Daniel Hendle;


E a dupla Cássio Gabus Mendes e Eduardo Moscovis, onde Cássio está preciso e Moscovis está bem, mas parece ter potencial pra ir ainda além - mas ou atuação ou roteiro ou direção não permitiram)... 

Pontos positivos no roteiro, filme bem feito...

Faltou certa lapidação de personagem pra ficar mais verossímil, embora funcione a coisa mais de ações e reações (reflexos, explosões, mais condizentes com impaciências e "brucutices" masculinas). 


Para a construção de personagens e de climas, faltou também mais mão de diretor, provavelmente questão de experiência mesmo, pois alguns tempos dão uma afrouxada ou uma interrompida no envolvimento do espectador...



Ao menos falo por mim...



Então fica assim, um filme competente, mas longe de marcar, sem nenhuma grande originalidade, sem nenhum grande destaque, nem para filme cabeça, nem para filme prêmio, mas uma hora e meia de desfrute de um bom filme da safra nacional...

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O Estranho em Mim


Visto há alguns anos atrás na Mostra Internacional de SP, na época me pareceu um bom filme, mas só de rever o cartaz após sua estréia oficial em SP já me fez intuir que era ainda mais...


O Estranho em Mim da alemã Emily Atef, não se trata de um filme sensacional, mas inegavelmente bom, de temática original e abordagem extremamente sensível.

A história não é mais que o desenrolar de uma depressão pós-parto, mas a maneira como seus personagens são construídos, cheios de ambigüidade, profundidade, complexidade... O modo como interagem e o que surge daí...

Nada é convencional, nada é óbvio, nada é raso...

Filme de silêncios, de gestos, de respiração: o sofrimento, a aflição, a angústia, o cansaço, a dor, o alívio, tudo fica visível e palpável - seja num tensionar de ombros, num olhar para árvores, num nadar no rio...


Extremamente feminino, mas ainda assim universal!

Filme tocante, para se emocionar e refletir... Estranhos que valem a pena de ser conhecidos!!!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Ghost Writer - Polanski


Polêmico Polanski para mim faz aqui um filme para controvérsias tb... Apesar de haver conquistado a muitos, não foi o meu caso...




O filme até que começa bem, com Ewan McGregor (que em geral não me convence muito) recebendo a missão de terminar a biografia do primeiro ministro inglês.



Logo começa a surgir um clima de suspense onde se intuem crimes e assassinatos...
Em paralelo ou cruzando-se a isso vamos vendo a construção de uma situação "fictícia" da política inglesa, com acusações, roubos, corrupção...

Na verdade esse parece um pouco o problema, nem faz denuncias realistas, nem cria uma ficção mais imaginativa...

Falta também carisma, por exemplo em personagens que são bem apresentadas e têm certo interesse


(até porque há uma mistura de atores e escolas, de mcgregor, passando por 007 até atriz de Sex And the City), mas que aos poucos vão ficando mais planos e sem grandes mistérios como sugerem ter...

E assim é toda narrativa, um pouco plana, sem crescentes, falta grave pricipalmente num filme longo como é o caso...


Ou seja, apesar do meu problema pessoal de suspenses não serem minha praia, quando a trama é morna e sem ações e surpresas (oposto do caso da trilogia Bourne, por exemplo, que teria tudo pra me desagradar, mas é tão bem feita que convence). Aqui, em Ghost Writer chega até a me gerar certo tédio...

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Uma Noite em 67 - Ricardo Calil e Renato Terra



Uma noite de sábado 43 anos depois fui conferir os registros de algumas preciosas horas capazes de representar toda efervescência de uma geração e sua criatividade e genialidade na expressão musical...




(Esses dias ouvi dizer que a geração adulta de agora é uma geração que ficou esmagada pela antecessora que rompeu com muitas coisas e por isso precisou ser muito criativa e que será atropelada pela próxima geração que também deverá romper e inventar mto, talvez devido a revolução digital, que muda completamente a lógica de raciocínios, cada vez mais não linear - adendo meu)...

Realmente acredito... Nossa geração ficou com o papel de assimilar as mudanças - e que não foram poucas! Então acabam restando responsabilidades, por exemplo, de não só assimilar, mas também divulgar esses feitos do passado recente...

Foi o que fizeram Ricardo Calil e Renato Terra que se voltaram a uma noite de festival, muito especial na música brasileira, e rechearam com material atual, dos mesmos artistas refletindo sobre suas trajetórias...

Sem menosprezar, mas a impressão que me dá é de material certeiro, e fui ao cinema já pra gostar, pois sabendo que cantaria junto nas apresentações de Caetano, Gil, Chico, Edu Lobo...


E sabendo que por mais rasas que fossem as entrevistas, haveria o prazer fosse pelas reflexões, pelo tom de botequim, pelas curiosidades ou o que quer que...


E realmente nenhuma entrevista é chocante, surpreendente, nem sensacional, mas todas muito prazerosas!



Ora nos detalhes de uma piada, ora na descrição de uma situação, ora na surpresa de uma confissão...

E também na composição de fatos de quase meio século que já podem ser considerados história e que já podem nos fazer pensar... Sobre a música brasileira, sobre a geração passada, sobre a atualidade...


Mas, sem dúvida, o melhor é o fundo musical, totalmente no centro do palco! Grande espetáculo!
Bis!!!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Vencer (Vincere) Marco Bellocchio


Filme diferente, instigante...
Um trabalho com cenas documentais diferentes, ainda mais por não serem tão conhecidas por aqui...

(De discursos fascistas, nos chegaram em dobro os de Hitler, os trejeitos de Mussolini, confesso que só conheci com esse filme...)


E o filme mescla com vigor as cenas documentais com a ficção baseada nos fatos reais...
Uma ex mulher e um filho que Mussolini quis apagar de sua vida...
De maneira bem fascista, autoritária, arrogante, desprezível...

Mas mulher que não se deixou render, demonstrando tb o tipo de fascínio que um homem como ele poderia exercer... Podendo fazer mulheres o disputarem, chegando até à loucura...

E o filme vai mais por aí... Um viés mais intimista, mais pessoal... A tal ex mulher de Mussolini... Sua força, sua obsessão, sua loucura... Seu vigor impresso na tela! Vigor que tem o filme... 

Em uma loucura que nos chega com poesia, mas poesia transtornada, forte e torta... (muito bem interpretada pela bela Giovanna Mezzogiorno, aliás).


Filme estranho, parece faltar carisma, mas sobram atrativos...


Vencem os méritos do filme... Seguem ecoando como um grito de guerra... Manifesto criativo! Heil, Vincere!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

As Melhores Coisas do Mundo - Laís Bodanski

Laís Bodanski não é uma cineasta daqueles talentos inacessíveis, seu mérito parece justamente o inverso: parece tão simples, mas tão sensível, tão interessante, tão comprometida...


Trata de assuntos cotidianos, mas traz questões importantes de serem debatidas: em seu primeiro longa vieram as drogas e a situação manicomial;

 na seqüência um documentário que na verdade era o registro de um projeto incrível de se levar cinema a cidades que nunca tiveram acesso;


no terceiro faltou um pouco mais de ritmo para fazer o registro da terceira idade;

mas agora sobrou precisão pra falar do universo adolescente atual...



Em duas horas Laís consegue falar de coisinhas do cotidiano de como se portar no ambiente de disputas de popularidade, busca de identidade, comparações, piadas que são as escolas. Fala das novas ferramentas desse ambiente, não só a sala de aula, mas também a internet em seus blogs, chats, e afins. Os desabafos em escritos, conversas, canções.

Momentos pontuais importantes como a primeira vez, separação dos pais, relação com homossexualidade, com política, com a imagem, amor platônico, o fim do primeiro amor...

Momentos importantes mas que ficam pra sempre como construção de personalidade, amor, perda...


Se as melhores coisas do mundo são as melhores, eu não sei, mas proporciona duas horas intensas...



Tanto para minhas irmãs de onze anos que as consumiram entretidas com muitas ansiedades e questionamentos até a mãe delas já tendo que lidar com as mesmas questões a partir de outro ponto de vista...




E passando por mim, ainda num meio de caminho, que me deixa cheia de nostalgia e curiosidade...

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Cerejeiras em Flor (Hanami) - Doris Dörrie




Um filme sensível sobre a cumplicidade de um casal de terceira idade mesmo após a morte. Os encontros e desencontros possíveis na presença ou na ausência... 

A rigidez de uma vida em uma rotina cinza, a ameaça de doenças fatais, o resgate de convivências que vão se perdendo, a importância das relações, a relação ocidental X a relação oriental com a morte e os sentimentos...


O mais bonito, o mais poético vem nas respostas finais do butô: a dança das sombras!
A dança dos movimentos não de onde se originam, mas onde se refletem... O reflexo das pessoas umas nas outras... 

Não é que seja genial, surpreendente, extremamente criativo ou nada do gênero, mas é bonito, realmente bonito, faz pensar...  

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Belle Toujours - Manoel de Oliveira

Manoel de Oliveira é alguém pra se invejar, afinal quem que chega aos 102 anos dirigindo cinema em plena forma? Confesso que realmente fiquei impactada ao vê-lo pessoalmente há três anos andando perfeitamente, escutando, falando e com filmes tão lúcidos e profundos.

Como Filme Falado, que embora tenha uma linguagem estável e que talvez possa ser vista como antiquada, mas com uma profundidade e competência pra tratar de temas tão contemporâneos como contrastes de culturas e terrorismo... Sem falar no saudosismo de alguns do passado, como seu primeiro, o singelo Aniki Bobó!

Então esses dias vendo seu nome na cartelera, fui ver Belle Toujours... Curiosamente eu já havia visto na Mostra de SP, mas com o título traduzido Sempre Bela, não me dei conta e acabei revendo! O que também foi muito interessante! 

Confesso que o filme não me agradou tanto, pois tem uma rigidez na direção que não me deixou envolver: não pelos planos fixos e falta de ações - características com as quais não tenho quaisquer problemas - mas pelos diálogos teatrais, artificiais, onde as pessoas soltam pérolas repentinas, não respondem ao que se pergunta, se chocam com coisas banais, lidam com naturalidade com coisas exóticas... Enfim...

O que fica pra mim como qualidade e estímulo é o que se deve à homenagem ao excelente Belle de Jour de Buñuel, a proposta de Manoel de seguir a trajetórias de personagens que seguem dentro de nós ecoando por tantos anos e colocá-los assim em um filme: ecoados, vivendo e revivendo sua história em Belle de Jour... O que pode parecer banal aqui vem com criatividade e faz ecoar o desejo de ver e rever o clássico...


E imagino que assim esse filme cumpra seu principal papel! Clássicos homenageando clássicos! Pequeninos que somos nós!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Whatever Works - W.Allen


Há diretores que mesmo em seus filmes ruins nos divertem... Isso acontece quase sempre entre mim e Woody Allen, e pra quem tem uma cinematografia tão intensa e extensa é mesmo um feito!


Mas verdade seja dita que Whatever Works é bem morno. A história é de uma caipira entusiasmada e otimista descobrindo a vida na cidade grande e entrando em simbiose com o alterego de woody - o judeu-novaiorquino-intelectual-mal-humorado. Mais personagens ao redor, como facetas desses mesmos tipos e suas possibilidades de transformação...





O filme abre com um jogo metalinguístico do ator falando para a câmera que a mim não envolve, ao contrário, distancia! E tem uma história que demora a deslanchar... 

Mas tem personagens simpáticos, tem muito bons atores, tem uma trama redonda, então Whatever Works nesse caso se traduz como "Até que funciona"...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Quincas Berro D'água - Sérgio Machado


Sérgio Machado estreou na ficção com o instigante Cidade Baixa, recebeu muitos prêmios e elogios e desde então se manteve na calada da noite... Voltou agora, cinco anos depois, com Quincas Berro D'Água.


Sempre retratando o universo baiano, soteropolitano, mas aqui em uma chave completamente distinta. Ao contrário da realidade crua, da miséria e do pessimismo, Sérgio Machado aqui se baseia na obra de Jorge Amado pra trazer personagens cômicos, coloridos... Gauches também, mas no estilo da malandragem e da fanfarrice... Se acaso há miséria aqui, o otimismo a salva!

Filme com ritmo e tempero (como um bom registro baiano), mas que para alguém tão paulistana como eu falta algo... (talvez a pimenta e o atabaque tenham sido muito comedidos). 

Fica a simpatia, o reconhecimento da competência da narrativa, mas ficam algumas lacunas, algumas histórias muito reiterativas, parecendo mesmo que se basear num conto para fazer um longa-metragem fica faltando material...

E olha que sobram talentos, por exemplo dos atores! Paulo José um exemplo, Marieta Severo, Mariana Ximenes, o global Vladimir Brichta funciona muito bem, participações como de Milton Gonçalves, Othon Bastos, Luís Miranda, etc...



Singelo e saboroso, parabenizo a iniciativa, mas fico no aguardo de um próximo para a prova dos nove... 

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Death Proof - Tarantino



Não há como negar o talento de Tarantino: imagens sedutoras, ritmadas, diálogos criativos e envolventes, personagens enigma e carismáticos, decupagem, trilha, arte, foto...





O cara sabe trabalhar com suas referências pop e fazer misturas geniais, dar um ar cult ao trash como poucos! Sabe brincar com as narrativas, construir e desconstruir roteiros - desde suas primeiras experiências como Cães de Aluguel e Pulp Fiction, até mais recentes, ou nem tanto, como Kill Bill!


Ir ao cinema vê-lo é sempre garantia de entretenimento, mas confesso que para mim também ficam ali registrados aqueles momentos, mas não levo mto pra casa...


Foi assim com seu mais recente: "À Prova de Morte": jovens e belas mulheres em diálogos corriqueiros (e machistamente banais), com comentários saborosos (como sempre em Tarantino, provado em seu antológico sobre mac donald's em Pulp Fiction), em situações inicialmente normais, instigando pra onde vai nos levar e realmente nos surpreendendo, pois vai perdendo seu lugar realista e se tornando uma grande aventura totalmente fictícia... 



Moças e donzelas tontamente estonteantes indefesas contra um terrível e enigmático vilão, freado por novas donzelas, já não tão indefesas...


Exemplos de contra-cultura tarantinesca! Jogando com a sociedade de consumo em jukeboxes, outdoores, peepshows, sexo, drogas e rock'n'roll!

O ritmo e a estética divertem também pelo "setentista" do visual... Nos coloca em outro tempo e espaço, seriados televisivos de ação e aventura...


"Filme de menino" ouvi dizer, e talvez faça sentido, mas também me entreteve... Por as duas horas na sala, depois saio e já esqueço... Fica o registro do talento do Tarantino, me deixando sem grandes lembranças quando volto pra casa, mas com a certeza de que voltar ao cinema por ele renderá alguma recompensa!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (Eternal Sunshine of a Spotless Mind) - Gondry


Fico realmente tocada quando filmes alcançam o intangível: transformar sentimentos, sensações e outros substantivos abstratos em imagens, sons e narrativas realmente é um mérito!


Por exemplo: como falar de separações? A angústia de conviver com lembranças, com sonhos que nunca foram, com a dor do amor que fica, apesar do amor que vai? Como concretizar esse etéreo?

Boas respostas que dei esses tempos aqui foram: "Sonhos" Do Kim Ki Duk e "Foi Apenas um Sonho" (Revolutionary Road) do Sam Mendes. Agora aproveito pra comentar o "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças"... No qual Michel Gondry parte de uma situação totalmente fantástica e ao mesmo tempo tradutória de algo tão concreto nas trajetórias de nossas vidas.

Inventar Lacuna, a clínica especializada em apagar recordos sentimentais daqueles que sofrem com o passado e usá-la numa típica história de casal: conhecer, apaixonar, conviver, consolidar, achar problemas, entrar em crise, separar...

A construção não linear para confundir, instigar e também mostrar que uma relação não é necessariamente linear com começo, meio e fim marcados e definitivos. Somada de histórias paralelas que dão outras perspectivas desse sentimento tão poderoso que é o amor, que pode ser incontrolável e incontornável, podendo estar acima de nossas escolhas racionais.

Por dar vida a um tema tão universal e com pontos de vista ao mesmo tempo óbvios e profundos, o filme se tornou um certo ícone do coração de muita gente, por se sentirem expressadas naquilo nunca antes possível de ser dito... 

Ainda mais com uma linguagem tão envolvente, contemporânea, cheia de referências (desde o elenco, passando pelos efeitos visuais videoclípicos até a trilha sonora e o poema de Alexander Pope citado e que dá título ao filme...).

E pra completar, a moral da história que me ganha totalmente, pois sempre foi a minha: as vivências valem a pena e fugir delas, das lembranças e do passado é raso e falso.

Ou como diria Renato Russo "nada vai conseguir mudar o que ficou".

E algo sempre fica, como esse filme comigo!


quarta-feira, 16 de junho de 2010

Fish Tank - Andrea Arnold

Filme adolescente mostrando a periferia de outros países... Aqui a Inglaterra não tem conhecida, mas com as paixões, a falta de perspectiva, a agressividade, a carência, o espírito perdido tão familiares e universais...



A história de descoberta, de tentativas da protagonista: com uma mãe que negligencia as filhas, uma irmã menor com quem não tem diálogo, o namorado da mãe que lhe desperta desejos, um cavalo atado com quem se identifica, a dança como sua forma de expressão...
Sem grandes acontecimentos, mas com uma riqueza de cotidiano, de detalhes...



Podia ainda ir bem além, mas o que está de qualquer maneira instiga e emociona.