Sempre flertando entre o drama e a comédia, Anna Muylaert , de filmes como Durval Discos e É Proibido Fumar - já comentado aqui - acertou a mão em cheio em Que horas ela volta?
A premissa que só foi possível a partir das mudanças vividas nos últimos anos no Brasil, permitindo o acesso de milhares de pessoas a universidades. E mais do que isso: permitindo sonhos de mudanças na pirâmide social e outra maneira dessas classes se relacionarem entre si.
Relações patrões-empregados tendo seus vínculos de servidão e todo tipo de abusos (assédios morais, sexuais etc) questionados.
Começamos acompanhando a vida de Val, empregada doméstica de muitos anos de uma família de classe alta, graciosamente vivida por Regina Casé.
Entre seus muitos atributos tem o de cuidar do filho do casal. Não apenas preparar a comida e limpar suas roupas e quarto, mas é a ela também que cabe lhe dar atenção e carinho.
Tudo é vivido em certa harmonia, até a chegada de Jéssica, filha de Val, vivida pela promissora novata Camila Márdila, que nunca pôde conviver com a mãe, para que essa pudesse trabalhar e lhe mandar dinheiro para estudar.
Jéssica é a jovem estudada, esperta e impetuosa, que acredita poder fazer um dos melhores cursos de arquitetura do país e que não entende porque tem que ficar em um quarto minúsculo com um quarto de hóspede confortável e espaçoso disponível na casa dos patrões, ou por que há um sorvete específico comprado apenas para os donos da casa, por exemplo.
Jéssica chega para mudar um ciclo repetido por séculos, e chama a atenção de sua mãe de que as coisas podem ser diferentes e que a filha não precisa sofrer o mesmo que ela sofreu.
Além da trama rica e instigante, ao mesmo tempo política e intimista, vemos também a ótima atuação das protagonistas, que nos deixam absorvidas pela trama.
(e até nos fazem relevar algumas interpretações mais fracas ou alguns excessos de roteiro como a cena de assédio do patrão).
(e até nos fazem relevar algumas interpretações mais fracas ou alguns excessos de roteiro como a cena de assédio do patrão).
Filme necessário para se pensar não apenas no cinema contemporâneo, mas no Brasil de hoje, ontem e de amanhã.
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