O argentino Santiago Mitre ficou conhecido por aqui com os filmes de Pablo Trapero que roteirizou, como Leonera, Abutres ou Elefante Branco, já comentados aqui.
Como diretor Mitre assinou algumas vezes como no potente Paulina.
Paulina é um remake de um filme dos anos 60, mas traz ainda questões muito atuais: diferenças de classes sociais levando a embates familiares, culpas burguesas, mudanças de carreira, enfrentamentos, abusos de poder, abusos sexuais...
Paulina é a jovem advogada filha de um juiz com carreira promissora, mas que resolve abrir mão desse futuro em que não acredita e do qual sente culpa por um trabalho social de professora em um vilarejo precário e afastado.
Mas o idealismo romântico de Paulina sofre com o preconceito daqueles que não a aceitam, que sabem de suas origens e suas referências e que não acham que ela possa entender e conviver bem com eles.
Quando faz uma amizade é vista como má influenciadora da amiga e paga por isso: é violentada.
O filme trata o estupro de maneira bastante singular, pois sua protagonista não se sente vítima dele. Segue se sentindo algoz e vendo seus violadores, eles sim, como vítimas da sociedade.
Tema e abordagem bastante instigantes, mas para o qual faltam mais nuances. Talvez uma participação mais feminina (e feminista) na construção da abordagem do filme?
Há várias opiniões expostas e se confrontando, mas cada personagem é muito fechado em um opinião. Falta mais crises, oscilações, mudanças de opinião neles.
Tudo que acontece apenas reforça as personalidades e a falta de crescente nos desmotiva um pouco. Principalmente em tema tão delicado e polêmico.
Fica possível a empatia, mas também a total repulsa. Difícil apenas ficar indiferente, já que o filme é bem filmado, traz momentos fortes de interpretação, tem fotografia, som, arte e montagem contidas, precisas e competentes e apesar de não nos fazer mergulhar nos personagens, nos leva pra dentro da trama.
Vale conferir.