quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Foxfire - Laurent Cantet


O diretor francês Laurent Cantet tem um olhar voltado para as diferenças: culturais, etárias, de gênero.

Bastante conhecido pelo filme Entre os muros da escola, no qual apresenta a diversidade de alunos em uma escola na periferia de Paris. Cantet propõe situações e deixar os atores (ou não atores) a desenvolverem espontaneamente, chegando a um resultado quase documental, com importantes questões de pedagogia e sociabilidade, mas de maneira orgânica e fluida.

Também é autor do instigante e profundo Em direção ao sul, onde mulheres de meia idade viajam para um hotel paradisíaco na África e desfrutam da região - desfrutam no sentido de que se aproveitam de seus frutos, seja comendo e bebendo o que empregados lhes servem ou mesmo se aproveitando das pessoas.


Agora Cantet volta novamente às origens escolares, pois é ali que se dá o estopim para que seja criada a gangue Foxfire.

Baseado no romance de Joyce Carol Oates, a história vai desde a formação do grupo, quando garotas marginalizadas pelo círculo social escolar resolvem se unir até seu crescimento literalmente desenfreado.

Na escola, as garotas não encontram espaço para serem ouvidas pelos homens, a não ser que seja para satisfazer seus desejos. Assim sofrem abusos e humilhações e resolvem dar o troco.

Começam em pequenas e justas vinganças e vão ambicionando cada vez mais.

Já não basta revidar humilhações, é preciso buscar uma nova vida. Já não basta se manterem um grupo unido, é preciso expandir.

E assim o grupo começa a ser procurado por outras garotas que também querem ter seu espaço e não sofrer opressão.

Porém há um limite para que as Foxfire atuem, não dá para passar por cima de todos impunes. E elas tem que pagar pelos delitos.

Mesmo após detenções, as garotas não se intimidam e voltam para uma experiência mais radical: uma tentativa de vida em comunidade, longe de qualquer preceito machista.

Cantet tenta contar a história sem sentimentalismos e em certa crueza narrativa, porém acaba não nos aproximando nem das personagens e nem tampouco nos dando uma dimensão distanciada dos fatos.


Fica um filme no meio do caminho, que apresenta vários percursos e possibilidades, mas não aprofunda. 

Algumas sementes plantadas tem grande mérito, por exemplo, o casting e a atuação das garotas;

E a maneira como mostra a complexidade em se adotar atitudes extremas: as Foxfire para defender uma posição e uma libertação, acabam oprimindo a elas mesmas. Na tentativa de democracia acabam subvertendo aos seus próprios princípios.

Assim o filme acaba, através desse grupo, apresentando várias dimensões políticas envolvidas. Mas nos cansa com o excesso e ao mesmo tempo nos deixa com gosto de quero mais. Em todos os sentidos. 

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