terça-feira, 31 de janeiro de 2012

L'Apollonide: Os Amores da Casa de Tolerância (Souvenirs de la maison close) - B. Bonello


Bertrand Bonello parece instigado com o poder que o sexo pode exercer entre as pessoas, suas implicações e seu comércio.

Pelo menos é o que se observa vendo O Pornógrafo, longa deste diretor francês exibido há cerca de dez anos e em seu filme mais recente: L'Apollonide.

Aqui, Bertrand se inspira nas casas de comércio sexual - ou puteiros - na virada do século XIX para o XX na França.

Esse contexto histórico justifica e reforça ainda mais uma crítica à certa hipocrisia da sociedade francesa, em seu discurso de liberdade, igualdade, fraternidade, a sociedade culta e requintada que mostra suas mesquinharias e vilanias. Entretanto, apesar disso o filme parece universal e atemporal.

Inclusive nessa percepção de Bertrand está um dos maiores primores do filme: o prólogo com animação de fotos das personagens clipadas com música de outra época e um epílogo genial, em cena verídica, contundente, dramática, belamente triste e tristemente bela...

Nas demais partes - o meio, ou o filme propriamente dito - o que vemos é o dia-a-dia da tal casa de tolerância: as meninas à paisana, fora do trabalho - suas brincadeiras, cumplicidade, simplicidade, sonhos, cansaços... 

E também as meninas "na função": sua abordagem com os clientes, certa diversão, mecanicismo, sentimentos, sensações (do melhor ao pior), perversões, mostrando muitas vezes o lado intolerante da tal casa. 

(Há cenas de meninas violentadas, outras adoecendo, meninas totalmente enojadas com o sexo, a ponto de perderem totalmente o prazer, outras perdidas em busca de preenchimentos por exemplo em drogas efêmeras, etc).

E também o lado muitas vezes mais intolerante ainda de fora da casa. As belas jovens conversam sobre o mundo de fora e sem nenhum romantismo com as possíveis vidas de empregadas em outros trabalhos.  Tampouco por isso elas se glamourizam como putas, elas encaram com crueza e realismo a condição de serviçais (ou servas, já que esse parece o regime em que trabalham). Tratam da higiene, calculam os gestos e as conversas, falam do trabalho como "negócio".

Um universo extremamente rico. E Bertrand o capta muito bem. Excelente direção de arte e fotografia, casting preciso e diversificado, diálogos interessantes, cenas e curvas criativas no roteiro...


Mostrando a singularidade, a beleza e a poesia, fora do glamour, de sua história. Mas se desgastando um pouco nessas descrições. 


O filme é longo e é muito mais adjetivo do que narrativo, a mise-en-scène e as interpretações chegam muitas vezes a ser afetadas e quando não nos afetam com sensibilidade, nos cansam.
Fosse um pouco mais enxuto e seria mais acachapante.

De qualquer maneira é um filme ímpar: forte, poético e eloquente! Sem dúvida vale a sessão!



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