quinta-feira, 7 de julho de 2011

Schnitzler X Kubrick

Encantada com Arthur Schnitzler após ler Crônica de uma Vida de Mulher (há cerca de ano e meio).

Me deparei com uma edição de Breve Romance de Sonho. Peguei sem pestanejar e comecei a leitura...


De repente a narrativa começa a se tornar familiar... E na contracapa a confirmação: livro de inspiração para De Olhos Bem Fechados do mestre Kubrick...



A cada página ia recordando cada cena do filme e percebendo a fidelidade do cineasta...
(O médico e sua rotina profissional e a vida familiar ao lado de sua esposa e a pequena filha. Círculo de amigos bem situados, rotina de pessoas bem sucedidas, encanto de um início de casamento se esmorecendo, jogos de sedução e ciúmes ressurgindo...).

Mas nem assim o filme me convence...

Muito bem construído, narrativa sedutora, bonita, misteriosa, intrigante... Mas o desfecho...
Justo eu que gosto de narrativas desamarradas, finais abertos, mas nesse caso o fio solto não me leva a muitos lugares...


Lendo o livro me aprofundo mais em alguns caminhos.

O ciúme inicial é ainda mais plantado do que no filme.



O casal harmonioso e aparentemente feliz que começa a se deparar com o tédio de uma relação já há muito estável.


O próprio livro leva a uma caracterização fria, sem muitos arrebatamentos ou personalidade, mas ainda assim o casting de Tom Cruise e Nicole Kidman não me agradam...

Falta certa ambiguidade em Tom Cruise, que no livro se intui mais e sobra certa afetação em Nicole...


E o suspense da seita misteriosa (baile secreto de pessoas desnudas e lascivas) perfeitamente retratado no filme, no livro ecoa de maneiras diferentes... 

Em um sonho da esposa do médico, em um final onde se plantam reflexões mais profundas, de como não nos contentamos apenas com buscas do dia-a-dia, de uma vida estável, organizada, feliz... 

A felicidade precisa ser alimentada, temos um gosto especial pela novidade, pela aventura, pelo mistério... Segundo Kubrick o filme é sobre o medo, mas eu amplio esse medo a um desejo pelo desconhecido...

Somos chamados a aventuras e por isso o livro/filme pode intrigar tanto...

Mas o próprio livro (e talvez o filme também em menor escala) sugerem que essas aventuras podem ser vazias e que nossos próprios fantasmas em geral estão dentro de nós, em nossos sentimentos (em nossos, medos, ciúmes, desgostos, rancores, tédio...)

Um livro fechado em si, mas aberto por não chegar a respostas...

Um filme para sermos seduzidos (impecável produção) de olhos bem abertos, mas com o minhas retinas se frustram por me abrir tanto... Sinto que falta receber mais em troca...
Talvez mestre Kubrick ainda tivesse algum retoque, já que morreu logo após o fim da edição.
Ou fosse isso mesmo, seu olhar duro, seco e sem respostas do fim da vida...

De qualquer maneira prefiro sua inquietação juvenil... Laranja Mecânica que o diga!

E não desconsideremos o mestre, que ainda assim, não perde a majestade!
(Olhos no trailer!)

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