sexta-feira, 29 de julho de 2011

Outubro - safra peruana assinada pelos irmãos Vidal

Longa de estréia dos peruanos Daniel e Diego Vidal.


Outubro é maduro e instigante, mas sinto que falta algo...

As personagens áridas, que para alguns foram vistas como realistas, para mim não são. Me atraio e me interesso pelo seu cotidiano sem glamour, sem esperanças, seco e cinza (inclusive assim registrados, vide a direção de foto e de arte), porém eles estão lacônicos a um ponto que pra mim perdem um pouco a verossimilhança...

Não haver soluções para os conflitos até adensam a trama, mas não descobrir quais são os reais conflitos das personagens... Principalmente do protagonista...

Nos afligimos por ele, esperamos reações suas, ele esboça uma redenção, mas ao final não sabemos qual o seu caminho... E o que pra mim me distancia: não vejo suas motivações...


Mostrar que ele não sabe para onde seguir pra mim resulta num mérito do filme, mas não mostrar por que ele deve seguir, aí já me desconecta um pouco...

Esse excesso de aridez além de se desgastar no roteiro, na interpretação e um pouco na direção de arte e na fotografia, se desgastam principalmente na montagem, onde para reforçar o silêncio e certas não ações há sempre uma dilatação do tempo, com planos que começam um tanto antes de se ver a ação e que terminam depois delas terminarem...


Após ver as origens indígenas dos peruanos no instigante Teta Assustada (relembre) (que ganhou prêmios, abriu os olhos de público e de crítica para o cinema peruano e trouxe questões originais e profundas às telas); 


Após ver conflitos sócio-homo-psicológicos de um triângulo amoroso de região simples pesqueira da costa peruana no irregular mas denso Contracorrente (relembre), agora foi a vez de uma versão menos típica, mais simples... A classe média baixa de Lima, personagens decadentes e a falta de visão e de esperança...


Compartilho com eles a dureza, a pobreza, as dificuldades, mas gostaria de ver mais brilho. Não o brilho de paetês nem da maquiagem, nem tampouco das jóias penhoradas pelas personagens, mas o brilho interior das pessoas... 

O brilho de latinoamericanos que vem despertando o interesse das pessoas mundo afora, confirmados pelo prêmio de Outubro em Cannes em 2010 e que por todos os méritos e acertos merece muito ser visto por aqui, afinal, pensar sobre certas deficiências que ele possa ter, é pensar sobre nossas origens, de cinema, de raça, de história; e porque ver isso resultado num belo filme, vale a pena...




quarta-feira, 27 de julho de 2011

Daquele Instante em Diante - um documentário sobre Itamar Assumpção



Documentários de pessoas que nos interessam são difíceis de não serem interessantes...
Ainda mais uma pessoa complexa, camaleônica, multifacetada, talentosa como Itamar...



E no meu caso o documentário vem com sabor de nostalgia - tanto por já ter trabalhado com entrevistados ali, como Anelis Assumpção; por já ter trabalhado na produtora do filme, Movi&Art, inclusive quando ele estava sendo feito. 

Mas principalmente por ter uma mãe fã dele desde que me entendo por gente e que me fez ouvir à exaustão algumas músicas, a ponto até de eu ter várias ressalvas a ele na infância.



Mas ao ver o documentário não vieram as ressalvas... Veio só o prazer de me deleitar com as músicas, as composições, a irreverência... (e também o agradecimento à minha mãe por ter me levado em shows e ter me doutrinado antes de se ir ao beleléu)




Como em outros documentários de pessoas que já se foram, essa também é uma reflexão que vem à tona: a vida, a morte, a brevidade, a permanência... Músicas para ecoarem para sempre por aí...



Para exalarem como suas orquídeas (para mim passagem das mais emocionantes no documentário, quando sua mulher fala da paixão dele ao cuidar e de quando passou a se desfazer delas, poético símbolo da despedida da vida).

Quanto aos comentários cinematográficos: seleção musical mto boa; de participações tb; abordagem intimista com entrevistados mto bem-vinda (exceto qdo um pouco artificial como no exagero de tantos cafezinhos);


O mosaico que vai se montando também dá riqueza à figura de Itamar (embora eu sinta falta de ir ainda mais além) e a falta de mais imagens e em melhor qualidade é uma lástima que o próprio filme explica (de certo descaso da mídia com ele). 




Mas temos agora um bom documentado, dirigido pelo diretor de publicidade Rogério Velloso, novato por essas bandas da sétima arte...

Fica ainda a vontade de algo mais, de mais diálogos entre os parceiros de Itamar, de mais músicas, de mais composições, de mais facetas, mas parece um bom e simpático registro!
Confiram no trailer!
E nos cinemas!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Schnitzler X Kubrick

Encantada com Arthur Schnitzler após ler Crônica de uma Vida de Mulher (há cerca de ano e meio).

Me deparei com uma edição de Breve Romance de Sonho. Peguei sem pestanejar e comecei a leitura...


De repente a narrativa começa a se tornar familiar... E na contracapa a confirmação: livro de inspiração para De Olhos Bem Fechados do mestre Kubrick...



A cada página ia recordando cada cena do filme e percebendo a fidelidade do cineasta...
(O médico e sua rotina profissional e a vida familiar ao lado de sua esposa e a pequena filha. Círculo de amigos bem situados, rotina de pessoas bem sucedidas, encanto de um início de casamento se esmorecendo, jogos de sedução e ciúmes ressurgindo...).

Mas nem assim o filme me convence...

Muito bem construído, narrativa sedutora, bonita, misteriosa, intrigante... Mas o desfecho...
Justo eu que gosto de narrativas desamarradas, finais abertos, mas nesse caso o fio solto não me leva a muitos lugares...


Lendo o livro me aprofundo mais em alguns caminhos.

O ciúme inicial é ainda mais plantado do que no filme.



O casal harmonioso e aparentemente feliz que começa a se deparar com o tédio de uma relação já há muito estável.


O próprio livro leva a uma caracterização fria, sem muitos arrebatamentos ou personalidade, mas ainda assim o casting de Tom Cruise e Nicole Kidman não me agradam...

Falta certa ambiguidade em Tom Cruise, que no livro se intui mais e sobra certa afetação em Nicole...


E o suspense da seita misteriosa (baile secreto de pessoas desnudas e lascivas) perfeitamente retratado no filme, no livro ecoa de maneiras diferentes... 

Em um sonho da esposa do médico, em um final onde se plantam reflexões mais profundas, de como não nos contentamos apenas com buscas do dia-a-dia, de uma vida estável, organizada, feliz... 

A felicidade precisa ser alimentada, temos um gosto especial pela novidade, pela aventura, pelo mistério... Segundo Kubrick o filme é sobre o medo, mas eu amplio esse medo a um desejo pelo desconhecido...

Somos chamados a aventuras e por isso o livro/filme pode intrigar tanto...

Mas o próprio livro (e talvez o filme também em menor escala) sugerem que essas aventuras podem ser vazias e que nossos próprios fantasmas em geral estão dentro de nós, em nossos sentimentos (em nossos, medos, ciúmes, desgostos, rancores, tédio...)

Um livro fechado em si, mas aberto por não chegar a respostas...

Um filme para sermos seduzidos (impecável produção) de olhos bem abertos, mas com o minhas retinas se frustram por me abrir tanto... Sinto que falta receber mais em troca...
Talvez mestre Kubrick ainda tivesse algum retoque, já que morreu logo após o fim da edição.
Ou fosse isso mesmo, seu olhar duro, seco e sem respostas do fim da vida...

De qualquer maneira prefiro sua inquietação juvenil... Laranja Mecânica que o diga!

E não desconsideremos o mestre, que ainda assim, não perde a majestade!
(Olhos no trailer!)

terça-feira, 5 de julho de 2011

Meia-noite em Paris (e com Woody Allen)


Após certo desânimo com os últimos filmes de Woody Allen (relembre aqui e ali), fui para esse sem muitas expectativas.

Conhecedora de seu alterego quase sempre protagonizando suas tramas e já interada do uso das capitais européias apenas como cenário de suas tramas cômico-românticas habituais (vide Vicky Cristina Barcelona, Match Point e outros mais recentes passados em Londres), eis que me deparo com certa surpresa...

Dessa vez o ambiente era a charmosa capital francesa: Paris - cidade luz!

O filme começa como um típico trailer de agência de turismo - os clássicos e belíssimos cartões postais da cidade (igrejas, pontes, museus, alamedas, parques, Sena, Torre Eiffel...).

Em seguida vemos os tradicionais enredos amorosos de Woody Allen, seu alterego, Gil, aqui vivido por Owen Wilson e seu par romântico por Rachel McAdams, e contrariedades com seus pais.

Conflito de classes, carreira, status... (A mocinha é uma dondoca que se encanta com dinheiro, conforto, status, e os comentários pseudo-intelectuais pedantes de um amigo que encontra por acaso na cidade).

Assim, Gil se vê oprimido em seu sonho de ser escritor, redator de arte e não mais de histórias comerciais para o cinema (é um roteirista bem sucedido de Hollywood).

Tudo caminha corriqueiramente, até que Woody lança mão à fantasia. E muito bem! Ele explora Paris de uma maneira interessante e inusitada...

Qualquer um que visite Paris tem a sensação de uma visita não apenas geográfica, mas histórica. Tudo ali tem significado, fez parte de grandes momentos, foi frequentado por celebridades...

E é justamente o que o filme traz à tona. Gil entra em um túnel do tempo e pode viver a riqueza da cidade em diferentes tempos...

Sempre naquele espaço, Paris encanta pela sua efervescência nos anos dourados da década de 20, nos encantadores anos da belle époque ou até mesmo em seus tempos de palácios e cortes...

Woody não aprofunda nenhum tema, nenhum personagem, mas constrói um mosaico muito divertido, cheio de nomes, citações, interações... E com ótimas atuações, por exemplo da nova queridinha francesa em Hollywood: Marion Cotillard.


Participações políticas como da primeira dama Carla Bruni;







Ou participações ilustres como Adrien Body vivendo Dali.



Muito graciosa a interação desse escritor e os conselhos que ele recebe de escritores e artistas célebres que por ali passaram. Muito interessante o desfecho de todos eles...

Longe de ser um filme profundo, mas graciosamente agradável!

Meia-noite em Paris é uma ótima sessão da tarde! Meia volta e volver! E vou mesmo! Veja você também!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Contracorrente peruana!



Filme de estréia do peruano Javier Leon-Fuentes traz uma trama forte e interessante.
Com destaque para o elenco de José Chacaltana, Manolo Cardona Tatiana Astengo





A crise de um personagem que vive a chegada de seu filho em um casamento harmônico em uma vilinha de pescadores na costa peruana, 





E um romance de anos que vive com um artista estrangeiro.



A intensidade com que vive as duas relações me encanta de cara, pois mostra uma situação complexa, ambigua, densa e sem resolução possível... Um impasse forte e profundo...



Com um terço de filme e me vejo cheia de questionamentos e com grande interesse e curiosidade por seu desenrolar...

E talvez por isso a partir de aí o filme fique aquém das minhas expectativas...

O amante do pescador morre e pra mim morre junto grande parte do potencial dessa trama... A complexidade desse personagem ter que se relacionar com essa vida dupla se enfraquece.

Claro que não é só isso, pois uma outra história se apresenta. A resolução desse personagem diante da morte, como ele superar esse amor interrompido se torna seu grande conflito: desde ele não poder compartilhar essa dor com ninguém, até ele não realizar o rito de morte praticado no local - uma cerimônia que permite aos mortos irem viver sua eternidade em paz. Enquanto esse rito não ocorre, o morto fica como um fantasma rondando entre os vivos com quem se relacionava...No caso apenas o pescador.

Esse conflito de ter que resolver as questões através da morte traz uma poesia ao filme, para muitos até mais original do que o drama mais convencional. Mas para mim foi uma perda. Desperdício de um drama com potencial maior do que o que se desenrolou.

Talvez porque eu tenha visto no filme a possibilidade de ver crescerem personagens tão bem construídos (e preciosamente interpretados), e que parece encontrar eco nessa crítica que o chama de "brokeback caiçara" em referência ao filme de Ang Lee, de uma história tão simples e um clima tão denso e poético.

Contracorrente tenta essa mesma poesia e explora cenas ritualísticas, mas para mim seu primor está nas cenas menos pretenciosas, nos detalhes, em pequenas nuances, no que fica esboçado...

De qualquer maneira, pensar que esse foi um primeiro filme, é para dar muito ânimo para esperar o próximo!


Que venham mais lindas cenas e cenários peruanos invadir nossas telas!
Enquanto isso, fica esse bom aperitivo de entrada, confira no trailer!...