O diretor inglês Tom Hooper tem grande talento para selecionar histórias reais e romanceá-las, por exemplo como fez em O Discurso do Rei, já comentado aqui.
E agora, em seu trabalho mais recente, A Garota Dinamarquesa, Hooper se baseia na história do casal de pintores Einar e Gerda Wegener.
O casal vive o efervecer das artes na Europa na virada do século XIX para o XX.
Eles conciliam uma vida doméstica tranquila com badalados eventos artísticos de exposições, mostras, festas, onde muitos paradigmas e costumes eram questionados e colocados em xeque.
Eles conciliam uma vida doméstica tranquila com badalados eventos artísticos de exposições, mostras, festas, onde muitos paradigmas e costumes eram questionados e colocados em xeque.
Nesse contexto Einar começa a viver sua transexualidade. Ao se vestir como modelo feminino para sua mulher, percebe uma identificação de gênero e não consegue mais voltar atrás em sua vida.
O filme tem um roteiro de cenas profundas e bastante delicadas, se focando principalmente na relação do casal e numa história de amor que transcendeu gêneros, formas e convenções.
O conflito de Einar é muito bem tratado: acompanhamos sua angustia em relação aos desejos e dúvidas em relação ao casamento.
Também a relações homossexuais, ao seu trabalho como pintor, como modelo e, principalmente, sua mudança de identidade.
Também a relações homossexuais, ao seu trabalho como pintor, como modelo e, principalmente, sua mudança de identidade.
A trama e o conflito são primorosos. O problema está no tratamento dado à história.
Hooper consegue fazer de uma cena com potencial antológico, em que Einar entra em uma sala de peep show, não para desfrutar do strip tease e muito menos se masturbar, mas para se inspirar no gestual da striper.
Eddie Redmayne executa a cena com maestria (aliás, sua parceira de cena Alicia Vikander e todo elenco estão muito bem).
Porém a mão do diretor é tão presente, sobrepondo uma trilha tão exaustiva e melodramática que a leitura da cena se empobrece.
Porém a mão do diretor é tão presente, sobrepondo uma trilha tão exaustiva e melodramática que a leitura da cena se empobrece.
Esse exagero é reincidente ao longo do filme, ficando mais frequente ao final, quando a narrativa deixa de apresentar novos sentimentos e conflitos psicológicos, e passa a apenas contar os fatos, passo a passo, de maneira mais protocolar para a biografia e com direcionamento melodramático da trilha sonora, mise-en-scène, montagem etc:
Einar decide mudar de sexo e para isso se submete a consultas e cirurgias (tendo sido a primeira mulher transexual conhecida), até ter sua troca de identidade, se tornando Lili Elbe.
Documentação importante e história bonita, faltando apenas alguma lapidação.
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