quinta-feira, 12 de maio de 2016

Spotlight - Tom McCarthy


O ator americano Tom McCarthy tem se arriscado em algumas direções no cinema e na TV, um de seus trabalhos mais recentes, Spotlight, teve grande repercussão entre crítica e público.

Um dos maiores méritos do projeto foi a escolha do tema: a reportagem verídica feita pelo jornal The Boston e sua equipe spotlight sobre casos de abusos cometidos por padres católicos que ganhou o prêmio Pulitzer.

A investigação que começou com um caso local e particular foi desvendando uma prática comum e sistemática, acobertada pela igreja, sociedade, sistema judiciário e pela mídia.

O tema, sua relevância histórico-social e os personagens são muito interessantes, entretanto a abordagem do filme é rasa e fria.

Não há envolvimento com os personagens, não são construídas suas motivações, sentimentos e reações, apenas em momentos pontuais e de maneira sóbria.

Uma das raras exceções é um depoimento dado por um homem que conta do abuso sofrido: ele traz uma fala complexa, sobre a dificuldade de assumir sua homossexualidade e o abuso, mais do que físico, mas moral e espiritual sofrido.

O belo de sua fala é a lembrança do reconhecimento que sentiu de sua sexualidade através do desejo e aprovação de uma autoridade (o padre). Mas o peso que essa distorção teve em sua formação e a dificuldade para se recompor. 

É aqui que o filme deveria se focar. Ele poderia manter a sobriedade, certo rigor jornalístico e sem pesar no melodrama.

Mas não nos faria acompanhar o ponto de vista dos jornalistas de maneira quase inverossímil, sem nos emocionarmos com eles, sem acompanharmos associações e projeções inevitáveis em qualquer ser humano, não importa a imparcialidade que se busque nas investigações.

Ficamos sem saber praticamente nada de suas vidas pessoais, de suas infâncias, de seus filhos, de suas formações espirituais, ou seja, tudo que está em jogo quando se fala de abusos cometidos por padres.

Há alguns momentos mais emotivos dos jornalistas do caso, mas sem que eles sejam colocados em xeque em nenhum momento.

O máximo de dúvida e crise que enfrentam é como se relacionar com as informações que tiveram ou têm e como fazer as revelações.

É pouco. Para o tamanho do tema, fica fraco. Se ousasse mais, poderia se tornar um filme muito mais memorável e não um registro de uma reportagem memorável.

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