quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Amantes Eternos (Only lovers left alive) - Jim Jarmush


O diretor Jim Jarmush foi se tornando figura "clássica" entre certo nicho alternativo americano. Filmes como Down by law, Café e cigarros e Flores Partidas mostram seu cinema que combina elementos prosaicos e personagens excêntricos.

Em seu filme mais recente: Only lovers left alive (com título traduzido de maneira simplificada para Amantes Eternos), Jarmush aproveita a imortalidade de seu casal de protagonistas para fazer uma reflexão sobre a humanidade e os ciclos de seus séculos mais recentes de história.

Os vampiros vividos pelo ator pop Tom Hiddleston e pela versátil e sempre surpreendente Tilda Swinton, já destacada aqui por trabalhos como Um sonho de amor, interessante filme de Luca Guadagnino

O homem de Londres, do genial diretor húngaro Bela Tarr, já comentados aqui.

O casal Adam e Eve tem um clima blasé, ele com certa desilusão e melancolia e ela com certo tédio e resignação. Amantes de (muito) longa data, não tem a urgência da paixão tão afeita às românticas histórias de vampiros, mas uma cumplicidade de tudo que já viveram juntos. 

Porém esse passado com um potencial tão rico se torna um índice enciclopédico de tudo que eles viram no mundo e todas as pessoas que conheceram (grandes músicos, filósofos, poetas, escritores, cientistas...

(faz lembrar um pouco Meia-noite em Paris de Woody Allen - também comentado aqui - ou a música Gita de Raul Seixas, mas sem a mesma graciosidade).

Dentro das brincadeiras enciclopédicas há também certa questão sobre a autoria X anonimato X reconhecimento X celebridade, mas que não é muito trabalhada.

O filme também não explora muito o interessantíssimo conflito da possibilidade da vida eterna, há o desconforto e alguma inquietação, mas não vai muito além. 

Apresenta-se a estagnação de amadurecimento das personagens, ressaltados pela coadjuvante Ava, adolescente vivida pela jovem promissora Mia Wasikowska e  esboça-se o desejo de suicídio Adam, mas nada que seja levado a fundo.

O conflito melhor delineado é a crítica desses vampiros aos "zumbis", maneira a como eles se referem aos humanos, serem preocupados com o consumo (ora de carros e petróleo, ora de água...);

Vivendo ciclos de degradações do planeta e deles próprios (doenças como pestes ou aids, que acabam pondo em risco à própria "vida" dos vampiros, eternos consumidores de sangue, chegando a aniquilar Marlowe, personagem vivido por John Hurt).

Diversas questões existenciais, filosóficas, sociais e políticas, muito estilo (fotografia, arte, montagem e trilha sonora), mas que terminam em uma trajetória  (secularmente) linear, estimulando aos mais próximos desses temas e metáforas, mas sem muitas emoções. 

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