sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Ferrugem e Osso (De rouille et d'os) - Jacques Audiard


Jacques Audiard parece tentar dosar a emoção potente, latente e contida em seus personagens e seus arredores e vidas duras.


Não tão "romanceado" quanto seu De tanto bater meu coração parou (lindo título, por sinal).

Nem tão árido quanto seu Profeta - já comentado aqui.

Ferrugem e Osso traz personagens densas e enigmáticas. Há algo por trás de suas expressões, de seus gestos, de seus cotidianos. Há algo em seus olhares que é profundo e difícil de decifrar.

Personagens fraturados, mas não pelos machucados físicos, há algo que lhes está amputado por dentro.

Lembrando personagens dos irmãos Dardenne - já comentados por aqui.

Menos que o jovem pai que se vê sozinho com a responsabilidade de criar seu filho de 5 anos.

Menos que convivência precária e de dificuldades que tem ao lado da família e em seus bicos de segurança e afins.

Menos que seu encontro com uma jovem descontente com seu caminho e completamente perdida após um acidente que lhe leva as pernas.

O filme é sobre a busca por afeto desses seres, a busca de reconhecimento, a busca de amor...

Uma busca tão difícil, tão agressiva e dolorida que eles se colocam à prova o tempo todo, desafiam limites físicos, como se precisassem descobrir onde estão seus contornos:

A garota - vivida pela talentosa Marion Cotillard - que treina baleias em um parque de atrações;

O rapaz - vivido por Matthias Schoenaerts, menos conhecido por nós, mas igualmente à altura da densidade exigida pelo filme - que participa de "rinha de pessoas".

Essa violência a que as personagens se submetem nos deixam em um estado latente de apreensão.

Mas não há uma manipulação dessa energia como em Menina de Ouro, do mestre Clint Eastwood, por exemplo, que aproveita os muitos minutos de apreensão geradas pela violência das imagens para depois provocar uma catarse de sentimentos em choros que vem fáceis no acúmulo de emoções.

Também não há catarses pela ação ou diversão como nos filmes de Tarantino, do recente Django Livre - já comentado aqui.

E mesmo com histórias parecidas, não busca personagens de dores mais óbvias como de Amores Perros de Alejandro González Iñárritu.

As citações de tantos filmes que Ferrugem e Osso suscita talvez se dê pela universalidade dos sentimentos expostos, mas as feridas ali estão mais submersas, as mutilações são outras...

Talvez Audiard tenha identificado no conto de Craig Davidson metáforas físicas e visuais para questões mais profundas e filosóficas de: o que precisamos pra nos sentirmos inteiros, o que nos falta, o que buscamos...

E para isso ele cria imagens belíssimas, brinca com texturas da água, joga com o balé dos gestos e da decupagem, associa músicas bonitas e variadas e bela fotografia...

Também rege grandes atores (não só o casal protagonista, mas também os coadjuvantes, como Céline Sallette de Apollonide - já comentado aqui - ou o ator mirim)...

Ou seja, Audiard dirige um ótimo filme e nos deixa já na expectativa do próximo que está por vir...


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