sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Django Livre (Django Unchained) - Quentin Tarantino


Com uma carreira já consolidada e consagrada, Tarantino cada vez mais sedimenta sua linguagem e estilo.

Desde os primeiros filmes, como Cães de Aluguel e Pulp Fiction, Tarantino explora tramas policiais intrigantes, com cenas de ação e violência eficientes e diálogos extremamente criativos, combinando as pistas das tramas policialescas com comentários corriqueiros e divertidos.

(como na inesquecível cena de bandidos em fuga discutindo lanches do Mc Donald´s em Pulp Fiction).

De lá pra cá, Tarantino foi se aprimorando, ora mais na diversão e exagero como Um Drink no Inferno e o recente À Prova de Morte - já comentado aqui.

Ora rebuscando mais suas personagens e explorando mais suas referências trashes como em Kill Bill.

Um aprimoramento, a cada filme, no ritmo envolvente, dado não só pelos atores, mas também pela montagem e pela excelente seleção musical.

Recentemente Tarantino começou a se basear em situações reais para fazer críticas irônicas a momentos delicados e polêmicos.

Foi o caso de Bastardos Inglórios e sua história passada no período nazista.


E agora Django, sobre o período de abolição da escravatura norte-americana.

Em ambos há roteiros muito bem elaborados que combinam fatos reais com ironia fina e mordaz contra tipos verídicos e personagens ilustres da época - junto a personagens fictícias, carismáticas e sedutoras!

Um trabalho estético de época e construção de exageros ficcionais inspirados pelas referências trash do cineasta (como o característico sangue em jorro).

Assim, Django não demonstra preocupações com suas imperfeições históricas. Sem dúvida que partir de fatos verídicos dão a Tarantino a possibilidade de olhar e comentar momentos reais, mas sua atenção é menos com a fidelidade do que com a ironia e a brincadeira.

Django tem um olhar duro contra tiranos, mas satiriza também as vítimas envolvidas. Tem uma leveza bem humorada e um descompromisso que pode inclusive ser condenado.

Muitas vezes até equivocadamente, já que sua proposta não é de grande profundidade documental. Mas nem por isso isento de responsabilidade no que há dito. Seria ingenuidade ou hipocrisia se abster da ação de tocar em fatos delicados da História recente e banalizar a tal ponto a violência e os envolvidos.

(Lembrando Tropa de Elite, de Padilha, comentado aqui, que também explora fatos reais transpostos num filme de ação com personagens fictícios, carismáticos e por isso tão perigosos em sua influência).

Em nome de tramas sobre vinganças, Tarantino cria personagens rasos e irresponsáveis, que podem nos deleitar, mas também contribuir em incentivos maléficos.

No final, o saldo de um filme interessante, bem construído, que pode ser divertido, mas que pode despertar perigos e críticos mais revoltados (como Spike Lee que fez ácidas declarações sobre o filme).


De qualquer maneira Django merece ser visto, independente do partido que se tome...

Um comentário:

  1. Oi Q! Sabe que eu não sabia que vc tinha esse espaço aqui? Ou tinha esquecido...
    Não acho Django um filme irresponsável. Tarantino vem aqui numa mesma onda que seu filme anterior: fazer vingança histórica pelo cinema. No anterior mata Hitler e nesse alguns "Senhores de Engenho".
    Discutindo a vingança, é uma vingança cega, e extremamente divertida, porque caricata e brincalhona. Tudo está ali para ridicularizar o tirano e super-valorizar o herói. Há uma certa dimensão de "fábula", que tenta reverter um acontecimento histórico, sem grande seriedade e ponderação.
    Mesmo que lúdico, toca na ferida histórica e a esgarça. E porque lúdico, não incentiva um olhar raso sobre a história; mas incentiva que se olhe para a história da escravidão nos EUA; que se olhe sobre a desvalorização do negro na sociedade; que se questione preconceitos. E acho que isso é muito saudável.
    Não acho que o Spike Lee possa desconsiderar o filme sem nem assisti-lo. Beijo!

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