segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Festival Internacional de Curtas de São Paulo 2012


Bem menos divulgados e comentados do que os longas-metragens, os curtas não são apenas filmes pequenos, mas um outro formato.

(assim como crônicas e contos não são como romances pequenos).

Muitas vezes difícil para os realizadores tão habituados a verem apenas longas-metragens não quererem construir narrativas com a densidade e dimensão de um longa e acabarem se perdendo entre tantas ideias.

Por isso, em geral se destacam aqueles curtas que se apropriam e exploram o formato, seja trazendo um único conflito bem explorado - como O Duplo, de Juliana Rojas, (diretora de diversos curtas e também do longa Trabalhar Cansa, comentado aqui), que constroi magistralmente um conflito, personagem, ambiente, clima (muito bem colocado dentro dos gêneros de suspense e terror), justamente sobre crises de identidade a partir da possibilidade de um duplo. 

Tema universal e extremamente bem realizado, fazendo jus ao seu percurso internacional em festivais - estreado com menção honrosa em Cannes 2012 e premiado nesta edição do Festival de São Paulo; 

Seja trazendo comentários de uma situação ou apresentando um ponto de vista - como Vestido de Laerte, de Pedro Marques e Cláudia Priscilla, que apresentam com graça e despretensiosamente um pouco do universo do cartunista;

Ou Linear, de Amir Admoni, um mix de diversas linguagens de animação, trazendo um personagem empático com o qual podemos nos identificar em inúmeras metáforas possíveis (contra a ordem, o sistema, a burocracia);

Ou ainda o internacional Este não é um filme de cowboy (Ce n'est pas un film de cow-boys) de Benjamin Parent, que apresenta adolescentes conversando sobre o ótimo longa
O Segredo de Brokeback Mountain,
de Ang Lee, e assim expressando suas opiniões, ideologias, e apontando personalidades, desejos, curiosidades... Diálogos simples mas com questionamentos complexos sobre a sexualidade;

E também Horizonte, de Paul Negoescu, que começa com imagens fortíssimas e extremamente criativas e personagem interessante, mas que se perde ao encaminhar o desfecho. Afinal, mesmo sendo curta, a narrativa pode se perder;

Outra forma de explorar o formato de curta-metragem é focar na construção de personagens, se dedicar às suas personalidades e às suas possibilidades de caminhos explorando e instigando com as possibilidades e lacunas.

Como busca Amores Passageiros, de Augusto Canani, com personagens bem construídas (como o solitário limpador de esgoto vivido por Osmar Prado) , mas com conflito que vai se esvaziando no decorrer;

Foco na personagem é também o caso de Animador, de Fernanda Chicolet e Cainan Baladez, sobre a animadora de parque de diversões que vive uma vida nada animada, cinza e pobre, mas repleta de riqueza psicológica e de possibilidades que se abrem aos espectadores, inúmeras lacunas que fazem com que filmes como esse permaneçam conosco em infinita metragem... (e que também foi destaque entre a votação do público e dos parceiros que distribuem prêmio no festival).

Viva o festival e esperemos sua 24a edição!
(comentários da edição 2011 aqui)

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