sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Cosmópolis - Cronenberg


A mente criativa, borbulhante e perturbada de Cronenberg (de filmes como A Mosca; Gêmeos - mórbida semelhança ou o recente Método Perigoso - os dois últimos já comentados aqui), dessa vez nos apresenta Cosmópolis...
Uma espécie de mundo paralelo, mas para o qual parecemos estar a caminho, rumo a uma colisão...

Um jovem empreendedor milionário parte em uma jornada em sua limosine, pela janela do carro acompanha trânsito, manifestações e ameaças (semelhante a cenas de filmes de catástrofe e fim do mundo tipicamente americanos).

Entretanto o filme é muito mais cerebral do que de ação (nas ações existentes, ausência de sentimentos: sexo parece ação mecânica, casamento ato protocolar, corte de cabelo tentativa - frustrada - de resgate da infância...).

No carro, semelhante a aparatos de ficção científica (familiar a Cronenberg) o protagonista, Eric Packer, vivido pelo queridinho adolescente Robert Pattinson, recebe visitas:

(participações especiais de grandes atores como os franceses Juliette Binoche e Mathieu Amalric) não para conversas simplesmente, mas para exposição teóricas de visões do mundo e previsões para um sistema capitalista selvagem.

Não há muita empatia possível para o filme, há uma avalanche de ideias e conceitos, quase tão massacrante quanto à opressão apresentada (onde trilhardários podem perder a fortuna em segundos, onde trabalhadores se vem absurdamente explorados, onde há um medo constante e falta de desejo e perspectiva, onde parece se ter acesso a tudo, mas na real não se tem acesso a nada).

A falta de empatia talvez se dê por o filme ser frio, não nos dar a chave dos sentimentos de seus personagens, mas da sociedade... 

A depressão seria menos aquela intimista pesquisada por Freud e Jung (tema de seu filme anterior) e mais a depressão social, semelhante à de 29, semelhante à descrita por grandes sociólogos como Eric Hobsbawn e Noam Chomsky, e que deve ter inspirado o autor do livro em que o filme se baseou: Don Delillo.

Depressão muito bem debatida na cena final em que o Eric Packer encontra um ex-funcionário seu, vivido por Paul Giamatti, marginalizado, que não soube "jogar o jogo", mas não por falta de consciência...

A consciência está ali, já saber o que fazer com ela...

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