A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo sempre gera certo frisson em relação aos filmes... Uma ansiedade por ver todos, comentar, saber que estamos nas melhores sessões, que vimos o de mais raro e original e que tiramos a sorte grande...
Nas últimas Mostras não pude frequentar assiduamente, mas as "boas surpresas" vieram com mais "normalidade" do que o possível... Nenhuma grande surpresa, nada de tirar o fôlego, mas sem dúvida bons filmes.
Esse ano tive essa impressão, por exemplo, ao rever O Estranho em Mim, esse ano em circuito (e já comentado aqui)... E em 2010 minha bola da vez foi Heaven de Susanne Bier. (Exibido aqui com título Em um Mundo Melhor).
Diretora que se iniciou no Dogma, já havia me conquistado com os complexos, densos, impactantes e competentes Brothers e Depois do Casamento.
Esse ano foi a vez de Heaven...
O filme flerta com as relações do ocidente com a África, com certo tom de denúncia e comoção que me lembram o Jardineiro Fiel de Fernando Meirelles.
Mas aqui o tema acaba se revelando outro... Para mim é um filme sobre a vingança... Sentimento que tentamos ou não controlar, justificar, exercer, evitar, mas que está presente em nossa sociedade...
Acompanhamos a trama de dois meninos se revoltando com a crueldade de colegas de escola que tentam exercer o poder sobre eles, em situações típicas de humilhação infanto-juvenil.
Mas ao embaralhar essa trama com a de um médico sueco que trabalha em atendimentos de emergência em campos africanos.
Em condições de absoluta miséria, onde ele se vê diante das questões éticas de "quem se deve atender ou privilegiar?". Aí a história ganha complexidade e confronta o espectador...
Em condições de absoluta miséria, onde ele se vê diante das questões éticas de "quem se deve atender ou privilegiar?". Aí a história ganha complexidade e confronta o espectador...
Pois é muito fácil ficarmos do lado de personagens "gauches", perdedores que queremos ver vencer, torcer por ele e esperar suas superações a qualquer custo!
Por isso o ponto de vista irresponsável de Tropa de Elite 1 que nos faz defender um protagonista extremamente fascista, mas por quem nos levamos a ficar ao lado e até torcer por ele...
Aqui a "torcida" pelo mais fraco ganha mais camadas... Os princípios do médico que numa atitude cristiana apresenta a outra face a quem lhe bate (literalmente), nos dá outras perspectivas e mostra um ponto de vista que da minha parte não consigo me identificar e torcer ao longo da narrativa e até por isso me surpreende e conquista ainda mais, pois realmente apresenta uma alternativa de um mundo melhor e tão pouco praticado... O cinema que o diga!
Parabéns, Susanne! Continue com lições bonitas e de talento cinematográfico!
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