domingo, 15 de julho de 2012

Deus da Carnificina (Carnage) - Polanski


O controverso, irregular e muitas vezes genial diretor Roman Polanski lança seu novo filme por aqui: Carnage - Deus da Carnificina
Baseado na peça teatral de Yasmina Reza, que pelo filme se intui ser muito boa, Deus da Carnificina  como filme é mediano.


O filme funciona em seu caráter intimista, simples, doméstico e cotidiano. 

Também funciona o quarteto de atores: Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz e John C. Reilly, que variam muito bem entre o drama realista, farsesco e cômico... 

Dentro da variação de tom dos atores também instiga a dinâmica narrativa entre eles, os momentos em que apóiam e se atacam, quando estão aliados, agressivos, acuados, conciliadores ou solitários...

Porém, a história dos dois casais que se reúnem para discutir e pensar intervenções possíveis entre uma briga ocorrida entre seus filhos adolescentes, exagera no tom em alguns momentos, parecendo um pouco estriônica. 

E também falha em não adaptar melhor certo vai-e-vem de ações que nas limitações espaciais de um teatro são aceitáveis, mas que aqui ficam forçadas e artificiais nos afastando um pouco da trama. 

Faltam espaços, tempos e ações para que essa tão boa história, sobre atos contemporâneos, falsas morais e a complexa discussão sobre o politicamente correto se dê e preencha completamente a grande tela de cinema...


sábado, 7 de julho de 2012

Weekend - Andrew Haigh


Andrew Haigh aproveitou sua vasta experiência em assistência de direção e outras funções em produções hollywoodianas como Gladiador ou O sorriso de Monalisa para fazer um filme bastante intimista e autoral: Weekend.

Segundo longa de Andrew, Weekend mostra bem de perto um final de semana na vida de Russel, um jovem sem família e de poucos mas fiéis amigos, que vive uma vida simples como salva-vidas em uma cidade da Inglaterra. 

O foco dessa narrativa está em sua vida afetiva, quando em uma balada se vê atraído por Glen. 

Se segue a história de um final de semana com duas pessoas se conhecendo: descobrindo encantamentos, diferenças, ressalvas... Mas com o diferencial de serem dois homens e isso ser tratado de maneira terna e extremamente natural e realista. 

Oportunidade rara que faz lembrar o premiado curta brasileiro Café com Leite, de Daniel Ribeiro, e oportunidade que vale a pena ser conferida!



Partilhamos cenas de balada, sexo e drogas, e, principalmente, as conversas intimistas entre os dois rapazes.

(Novamente lembrando os "filmes de DR": Antes do Amanhecer/Pôr do Sol, de Richard Linklater, citados no post anterior sobre Apenas uma Noite).

Em Weekend também partilhamos as visões sobre o amor e relacionamentos, as experiências anteriores, as memórias sobre a descoberta da sexualidade, as dificuldades e conquistas (sempre no contexto das relações gays)... 

Nessa apresentação a timidez de Russel aparece dentro de uma base bastante sólida e o aspecto "descolado, desinibido e alternativo" de Glen vai aos poucos se revelando mais vulnerável.

Quase chega a se exceder de maneira um pouco caricata, mas no contexto da juventude, radical e enérgica para defender seus ideais e espaço, em especial por se tratar de um espaço ameaçado pelo preconceito (contra os homossexuais, que parece muito bem retratado no filme), nesse contexto está coerente. 

Também pelo contexto da trama, pois, como o próprio Glen diz no filme, quando se conhece alguém você começa a se reconstruir e se reafirmar a partir da nova relação. 

Nesse sentido, Glen parece muitas vezes revelar mais aquilo que quer ser do que aquilo que propriamente é...

Deixando assim seu futuro sem um rumo muito definido... E a despedida entre os garotos, após o intenso "Final de Semana", não adquire também um tom tão definitivo. Vale a imaginação do espectador para preencher as lacunas...


terça-feira, 3 de julho de 2012

Apenas uma noite (last night) - Massy Tadjedin


Estréia na direção de Massy Tadjedin, iraniana sem muita relação com o cinema de arte de seu país e sim com romances americanos - ou ingleses, como é o caso.

Apenas uma noite tenta pegar carona em filmes de relacionamentos e "DR" como Closer.


Mas partindo de uma situação clichê - o desejo extraconjugal - e sem densidade e criatividade nos diálogos ou expressividade, carisma e variações de suas personagens, acaba se tornando um filme sem graça, previsível e o pior: moralista.

A ambição parece ser de trazer novas luzes e posições em relação à traição, mas a narrativa se perde em tantas voltas que dá um tiro no próprio pé. 


(e fica cansativo e repetitivo, visto inclusive pelas fotos ao lado)

Nos diálogos conceitos como o de que o passado de uma pessoa com seus amantes anteriores sempre vão te perturbar e por isso não vale a pena a tentativa da conquista.

E ações que complementam o moralismo tedioso revelando a fragilidade da forte femme fatal, colocada como a mulher de decotes e lábios fartos sempre ao redor do marido para lhe tentar; 


O marido carinhoso e companheiro com sua esposa, mas também frágil e refém da tentação;

A esposa com criatividade e brilho estonteante (que só aparecem nos diálogos das demais personagens e não em cena, as qualidades são descritas, mas nunca colocadas em ações 

- por mais que Keira Knightley tenha de fato grande fotogenia (já que não apresenta muitas variações e se perde em estrionismos, também mostrados recentemente em Um Método Perigoso, também comentado aqui); 

E por fim o ex-affair juvenil da esposa, mantido em segredo para não perder a magia e permanecer como sonho, já que também é descrito (novamente descrito e não mostrado) como pessoa instável e inconstante.

O filme deixa apenas a semente de diálogo com filmes que trazem essas questões à tona, mas com mais graça e complexidade, seja nos jogos presentes em Closer, nas questões complexas de Fatal, em diversos exemplos franceses (como as estreias recentes de Verão Escaldante ou Adeus primeiro amor)...


Ou ainda no realismo de Antes do Amanhecer/Por do Sol, (que, aliás, promete sua continuação para breve)... Esperemos então... Que venham outros exemplares para os apreciadores de filmes-DR (também conhecidos como romances de bons diálogos)!

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Verão Escaldante (Un été brûlant) - Philippe Garrel


O diretor francês Philippe Garrel ficou conhecido por aqui por sua obra-prima Amantes Constantes. Narrativa instigante, estética forte, filme nada convencional e extremamente potente veio nos mostrar todo seu potencial e instigar a adentrarmos em sua cinematografia...

Agora estréia seu Verão Escaldante.

Novamente em uma narrativa não convencional, onde a ordem é colocada de maneira subjetiva (ainda que o filme mantenha um distanciamento não emocional), com lembranças e relatos sendo somados, e sentimentos sendo construídos e colocados de maneira "estanque".

O borbulhar e escaldar de um verão mostrado em personagens blasè, que ardem em seu tédio, em sua prostração e que ardem também pela perda daquilo que gostam, em gostar do que lhes está seguro - e que, apesar de tudo, é intenso.

As locações, a foto, a arte, a montagem, etc são interessantes por contribuírem em uma construção um pouco atemporal... Sem um tempo e espaço muito definidos e que combinam com a progressão narrativa sem a cadência clássica.

O que vale são as personagens confinadas em si mesmas, mal conseguindo expressar seus sentimentos (e nem parecendo entendê-los).

Para viver essas "emoções" um ótimo elenco: novamente Philippe trabalha com seu filho, um dos atores mais cobiçados do cinema francês atual: Louis Garrel;

Uma participação do pai do diretor, Maurice Garrel;

A diva italiana (e por que não mundial?!) Mônica Belucci;

A interessante Céline Sallette, um dos destaques do elenco do belo filme Apollonide - Os Amores da Casa de Tolerância, já comentado aqui).


E os rapazes: Jérôme Robart, Vladislav Galard e Vincent Macaigne.

Verão Escaldante nos intriga, não nos dá espaço para aproximação das personagens, mas ao mesmo tempo nos instiga o suficiente para ficarmos ao seu lado. Não nos faz torcer ardentemente por elas, mas ao mesmo tempo nos faz senti-las dentro de nós...

Philippe Garrel aparece como herdeiro legítimo da Novelle Vague por essa sensação que constrói de filme desacertado que dá certo, o não convencional que envolve e faz pensar, a narrativa torta que chega ao ponto...

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Violeta foi para o céu (Violeta se fue a los cielos) - Andrés Wood


Andrés Wood já havia agradado aos brasileiros com seu bom filme Machuca, uma espécie de Cinema Paradiso latino, falando com graça da transição da infância para adolescência de dois amigos de diferentes classes sociais nos conturbados anos 70 chilenos.


Agora Wood investe em uma grande personalidade de seu país, Violeta Parra e para isso se emancipa de uma narrativa mais clássica e busca na linguagem a força e crueza de sua personagem.

Violeta foi para o céu traz um título doce, carinhoso, saudoso para uma personagem que de tão dura  chega a ser violenta, explode em criações e rompantes, afaga, agarra, sufoca e afasta até os queridos mais próximos.

Ressentida com tantas dificuldades, do pai músico e alcoólatra, a mãe mostrada ausente, casamento sem identificação, morte de filho, paixões tortuosas, luta pela cultura e pelo país...


Lembra filmes de outras grandes mulheres como Camille Claudel ou Frida.

Mas Violeta tem uma trajetória muito própria, singular em tudo, dificulta qualquer identificação e aproximação mais afetuosa. 

E o filme é fiel a isso, a narrativa nos intriga, nos instiga e nos cativa pela curiosidade pela personalidade geniosa - e genial -, mas não pela emoção.

Cativa também pela arte! Obstinada, batalhadora, decidida, Violeta é mostrada como a mulher de fibra e peito que foi, mulher de pulmões!!!

Lindas canções, lindas artes plásticas, bela história.

Acertada decisão de Wood em filmar sua história, acertado trabalho de decupagem, mise-en-scène, fotografia, arte, som... 

E acertada escolha de casting! Que em grande parte se deve à insistência da própria atriz, inicialmente contratada apenas para cantar, mas que soube roubar a cena e conquistar merecidissimamente o papel! 

Parabéns à praticamente iniciante em cinema, Francisca Gavilán!

Gracias Violeta, gracias Wood, gracias Gavilán, gracias a la vida!