segunda-feira, 15 de julho de 2013

Universidade Monstros (Monsters University) - Dan Scanlon / Pixar



Após o grande sucesso de Monstros S.A., a Pixar resolve investir em uma nova história com os mesmos personagens em Universidade Monstros.

Ao invés de contar a sequência da história, preferiram contar a história pregressa: os sonhos da tenra infância de Mike de trabalhar na Monstros S.A.

A trama se foca no momento em que ele entra na universidade e tem que enfrentar os desafios para se tornar o Mike que conhecemos do outro filme. 

Lá que ele conhece os principais personagens de Monstros S.A. também, mas em relações bem diferentes das do outro filme: os que eram amigos ali ainda não são e de outros que são amigos se semeia em como se tornarão inimigos.


Personagens divertidos, mas em uma trama bem menos original do que a primeira. 


Contar uma história para crianças sobre monstros que as assustam, mas a partir do ponto de vista deles foi realmente uma ideia muito criativa e divertida.

E ainda contava com a graciosidade da personagem da menina Bu (mesmo com os problemas de construção de personagem de idade indefinida).

Sem falar no final que subvertia a busca de sustos como fonte de energia para a busca de risos. Uma mensagem positiva e feliz, como todo o filme.


Aqui é apenas uma turma de faculdade tipicamente americana.


Todo o espírito competitivo, o bulling, as irmandades, as festas, a busca de popularidade, os professores carrascos (muitas vezes lembrando cenas de Harry Potter, inclusive) etc. 

E onde o conflito e a solução é ser quem você é - semelhante a milhares de outros filmes e seriados americanos que se passam em colégios.

Bons momentos de sorrisos, mas sem o encantamento do original, que continuará sendo um ícone das animações dos anos 2000.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

A Bela que Dorme (Bella addormentata) - Marco Bellochio




Em cartaz em São Paulo o filme mais recente do italiano Marco Bellochio: A Bela que Dorme.

Após a boa repercussão com os excelentes Bom dia noite, Vincere e o experimental Irmãs Jamais, - já comentados aqui, Bellochio mais uma vez se inspira na realidade para criar sua ficção. 

A partir da discussão que houve na Itália com o caso de uma garota, Eluana, que teve morte cerebral e queria o desligamento de seus aparelhos e a decisão chegou a ser discutida no parlamento.

No filme alguns núcleos e visões como de um parlamentar que tem que ajudar a decidir a posição do páis em relação à eutanásia e o confronto da decisão com sua filha.

E o núcleo da própria menina em estado vegetativo e sua família, em especial sua mãe, vivida por Isabelle Huppert.

O filme tem idas e vindas e muitas pretensões em relação aos sentimentos e reflexões de cada personagem. 

A ética, o amor, a dor, a perda... Questões extremamente profundas e filosóficas, mas que se diluem um pouco em meio aos acontecimentos e tramas paralelas.

Excelentes momentos, mas perdidos entre cenas mais fracas e deslocadas.
Expectativa para um próximo Bellochio com mais vigor, potência e frescor como em seus anteriores!

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Hannah Arendt - Margarethe Von Trota


A artista alemã Margarethe Von Trota, atriz, roteirista e diretora de dezenas de filmes e programas de TV, se mostra interessada por questões e figuras de nosso tempo. 

Em seu filme mais recente o tema é a escritora alemã (de filosofia, política e tanto mais): Hannah Arendt.

Margarethe faz uma abordagem objetiva, em uma linguagem quase fria, que começa nos distanciando da figura de Hannah, mas aos poucos nos intriga e nos aproxima de seu pensamento - justamente o tema do filme.

No período retratado, Hannah vive há muitos anos nos EUA, após se exilar em fuga do extermínio nazista aos judeus. Ali tem um círculo íntimo e intenso de amizades e uma vida em certa estabilidade. 

A novidade é a captura de um dos comandantes nazistas: Eichmann, que passa a ser julgado em Jerusalém e que Hannah consegue a oportunidade de fazer a cobertura.

As cenas que vemos são sempre de Hannah pensando, processando seus escritos e dialogando com seus pares (ou seus ímpares) sobre esse julgamento, suas origens e desdobramentos. 

Entre esses interlocutores outros intelectuais importantes como Martim Heidegger, Hans Jonas e Mary McCarthy


Mas não há muito calor em toda essa construção. 

E essa é também a crítica que Hannah recebe pelo texto que escreve a partir do julgamento de Eichmann:


Como ela pode fazer uma análise filosófica sobre o mal feito por esse homem sem se colocar como vítima pessoal dele (como judia que sofreu diretamente com o nazismo)?

Como ela pode vê-lo simplesmente como um burocrata que não pensou nas consequências de seus atos? 

(Atitude que faz lembrar a personagem de O Leitor de Stephen Daldry - já comentado aqui, obviamente em proporções muito menores e em uma narrativa muito mais intimista. Ou a narradora e coadjuvante do excelente A Queda! - As Últimas Horas de Hitler, de Oliver Hirschbiegel).

Não há espaço para a emoção na obra de Hannah e por isso faz sentido não haver espaço para emoção no filme de Margarethe e na interpretação de Barbara Sukowa - que já havia sido parceira de Margarethe em filmes como Os Anos de Chumbo ou no outro exemplo biográfico da diretora: Rosa Luxemburgo, de 1986.

O filme faz um recorte sobre o pensamento de Hannah sobre a maldade cometida por nazistas sem mostrar outras qualidades ou intimidades da alemã.

Por um lado fica o gosto de "quero mais" por conhecer uma pessoa tão rica, por outro fica a semente do "pensar mais" a partir de elementos retratados tão profundos e complexos.
Muito interessante, vale a pena!

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Augustine - Alice Winocour


Primeiro longa da diretora francesa Alice Winocour, Augustine, se inspira em fatos e personagens reais e mergulha no universo pré-psicanalítico do final do século XIX.

Augustine é uma jovem que começa a ter ataques nervosos e é internada sob tutela de um médico, Dr Charcot (contemporâneo de Freud), pesquisador da histeria.

No hospital, diversas mulheres com problemas psicológicos e sequelas motoras. Alguns depoimentos descolados da narrativa, fazendo lembrar projetos híbridos entre a realidade e a ficção, como a ótima peça teatral Hysteria ou os filmes baseados na vida de Camille Claudel, por exemplo - já comentados aqui.

E o foco na relação entre o médico e a paciente que se torna uma de suas "protegidas" - como comenta a própria esposa do médico em certo tom de ciúmes.

A relação entre os dois torna-se especial e logo começamos a ver os fundos de tensão sexual na crises nervosas de Augustine, sua histeria parece ter explicações bem simples, principalmente para nós que já temos alguns conceitos psicanalíticos freudianos assimilados.

(E que já vimos tantos filmes falar a respeito, como o recente Um Método Perigoso, também comentado aqui).

A jovem Augustine é apreensiva com os procedimentos ao seu redor, mas se entrega ao tratamento com inocência e esperança, torcendo para ficar boa e voltar à sua vida normal. 

E o Dr. Charcol estabelece um cotidiano com Augustine, fazendo diversos experimentos (de procedimentos banais e duvidáveis até alguns interessantes ou extremamente sádicos).

A relação vai avançando e se aprofundando: paixões reprimidas, transferência psicanalítica, desejo, tormentos, crises, cura...

O que falta nesse desenvolvimento é termos as intenções das personagens melhor delineadas. Qual a busca de Augustine? O que ela espera da vida além de ser curada? O que a incomoda(va) em sua vida e que propiciou seu estado?

Dr. Charcol busca a cura para essa doença, mas o que exatamente pesquisa? Quais suas intenções com cada procedimento? Como vê sua relação com as pacientes? O que espera de verdade com essas curas? Quais são seus tormentos (e histerias) particulares?

Isso tudo é tratado de maneira rasa no filme e o deixa morno.

A presença interessante de Augustine - muito bem interpretada por Soko - a austeridade, força e pureza de seus gestos e expressões; a mise-en-scène das cenas entre ela e Dr. Charcol; os diálogos econômicos... Tudo contribui para adensar essa narrativa. 

Mas as falhas de roteiro, a fotografia um pouco monótona, os clichês sonoros e o conhecimento de sexualidade que o público contemporâneo tem acabam por enfraquecer o filme.

Fica a sensação de uma semente instigante, mas que não chega a florescer.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Antes da meia-noite (Before Midnight) - Richard Linklater


Terceiro filme da série de Richard Linklater em parceria com os atores Ethan Hawke e Julie Delpy.

No primeiro, Antes do Amanhecer, dois jovens de 20 e poucos anos se conheciam num trem e passavam uma noite juntos em Viena. O diferencial do filme: o foco no diálogo e na interação das personagens.

Sem grandes ações que não aquelas para dar um pouco de corpo ao texto e o destaque para o embate de ideias e compartilhamento de visões de mundo, sonhos, confissões...

Todas as palavras que poderiam caber em um intervalo de poucas horas entre um casal.

Muito falado, um pouco monótono. Quase uma DR cinematográfica de duas horas. Um formato não para todos, mas que realmente conquista alguns, talvez exatamente por seu diferencial.

E o final em aberto do primeiro filme instigou a curiosidade dos fãs do filme e incentivaram a realização do segundo: Antes do Por do Sol. O reencontro do mesmo casal cerca de dez anos depois em Paris


Uma janela para mostrar por onde andavam os sonhos e expectativas daqueles jovens... O idealismo modificado na idade madura, o romantismo mais envelhecido, as novas opiniões e vivências, os novos sonhos...

E as mudanças da expectativa que eles teriam um diante do outro, após quase dez anos de outras vivências amorosas.

Novamente a dinâmica de conversa entre eles foi apaixonante: conhecê-los mais, seus defeitos, qualidades e desejos. Compartilhar o enlevo de um com o outro e poder viver a DR e o idílio por mais duas horas.

E agora o terceiro: Antes da Meia-Noite. Dessa vez a dinâmica bem diferente: não algumas horas de hiato na vida desse homem e dessa mulher, mas algumas horas na vida de um casal.

Aqui, Celine (Delpy) e Jesse (Hawke) estão casados e passando férias na Grécia - a dinâmica dos encontros pela Europa se mantem.

A ideia de férias também trazem um diferencial que não o do cotidiano do casal, mas nas conversas não mais apenas sonhos etéreos e especulações.

Interessante acompanhar o "filosofar" de um casal, suas opiniões a respeito do mundo e isso refletido nas posturas diante da relação.

Mas no filme fica fraca a insinuação da vida cotidiana deles. Eles parecem manter a relação etérea e e sonhadora diante da vida (que agora tem a presença de filhos, contas, horários, trabalhos, planejamentos, louças etc), só que com o dia-a-dia delineado de forma vaga.

Mais interessantes quando eles se apresentam diante de outras personagens, sejam os filhos ou amigos, pois vem de maneira mais orgânica com a dinâmica da estrutura do filme: do apresentar ideias. Não há como ter frescor e surpresa neles apresentando visões de mundo um ao outro o tempo todo.

Quando eles se apresentam a outras personagens voltamos a conhecê-los em pitadas instigantes, mas quando eles se apresentam um ao outro fica um pouco desgastante. Inverossímil eles receberem as palavras um do outro como se fosse novidade.

A crise que surge pela geografia mais uma vez (onde morar) faz parte de todos os filmes, ou seja, convive com eles há 18 anos deveria vir com mais gastura dos argumentos, de pessoas que já passaram por essa crise e essa discussão infinitas vezes. 

O modo como essa crise chega no momento do filme sem dúvida que permite considerações inéditas (e de fato trazem), mas não poderia ser o tom geral.

Faz ficar menor a experiência de combinação do hiato com o "tudo" que deveria estar preenchido.

A experiência ainda continua criativa e diferente (poucos filmes se arriscam nessa linha - o brasileiro Apenas o Fim, comentado aqui, é um raro exemplo), as personagens continuam encantadoras (ainda que se tenha ressalvas (como poder achar Celine histérica, por exemplo), mas a proposta de avanço na relação do casal deveria ser seguida de um avanço na proposta narrativa.

Por isso e pela história começada há quase duas décadas, segue a curiosidade de seu desenrolar e de novos possíveis filmes que venham a seguir...