Ken Loach é um dos cineastas mais admiráveis de nossos tempos: numa filmografia permanente, constante, comprometida e sensível.
É um dos raros que consegue nos surpreender e elucidar com análises socioeconômicas, ao mesmo tempo que nos aproxima de personagens humanas, com poesia, delicadeza, humor e muito, muito amor.
Seja em filmes mais triviais e divertidos como Tickets, À Procura de Eric ou À Parte dos Anjos - já comentado aqui.
Seja em romances como Apenas um Beijo, que além de uma história de amor com pitadas de Romeu e Julieta adaptados a tempos contemporâneos, em que o par é formado por um imigrante paquistanês muçulmano e uma professora católica irlandesa que vivem as impossibilidades dessa união.
Ou ainda em grandes dramas intimistas como Meu nome é Joe, Rota Irlandesa - também presente no blog - e sua ficção mais recente: Eu, Daniel Blake.
Aqui acompanhamos a trajetória de um homem de cerca de 60 anos, que tem um problema de saúde e precisa se afastar do trabalho, entretanto o Estado não aceita essa justificativa e lhe nega os benefícios.
Arriscar a saúde e garantir sua sobrevivência ou seguir as recomendações médicas sem condições?
O antagonista aqui não é uma pessoa, mas o "sistema". O "sistema" que cai quando preenchemos fichas, o "sistema" que diz se temos esse ou aquele perfil, o "sistema" que diz que não nos encaixamos nele.
Em contraponto está o protagonista, Daniel Blake, esse senhor que sem heroismos ou grandes atos, vive seu cotidiano com extrema dignidade, e com polidas, mas intensas demonstrações de afeto.
Assim, em seus percalços conhece outras pessoas e se relaciona com elas, espalhando sua ética e compaixão.
Um exemplo: de personagem, de ser humano, de filme (justamente reconhecido e premiado - Cannes 2016).
Falta agora buscarmos saídas e finais felizes, para esse drama que vemos na tela e em nosso dia-a-dia.
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