quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Mãe só há uma - Anna Muylaert


Pela trajetória de Anna Muylaert vemos seu talento em encontrar encontrar temas e desenvolver personagens para suas histórias, desde o fantasioso Durval Discos, passando por Proibido Fumar - já comentado aqui, ou no grande Que horas ela volta?

Ou mesmo em sua participação em roteiros desde infantis como Castelo Rá-Tim-Bum, líricos e históricos como Desmundo, cômicos como Chamada a Cobrar, até dramáticos como Irmã Dulce.

Diálogos com observações prosaicas e tiradas divertidas, dentro de contextos complexos e situações muito cotidianas, Anna varia bem o humor e o drama de seus filmes.

Que horas ela volta? é um dos exemplos mais bem sucedidos de sua trajetória: conflito de classes, conflito de afetos, personagens interessantes, curvas dramáticas, revelações, surpresas...
Tanto que conquistou público e a crítica pelo mundo afora.


Agora Anna traz outra questão instigante em Mãe só há uma: roubo de bebê na maternidade e o questionamento de quem é de fato a mãe de uma criança? A mãe que pari ou a mãe que cria? 

Mas e se a mãe que cria é uma criminosa? Como fica o futuro desses filhos?
Além desse contexto já bastante intrincado, Anna soma questões da juventude: amores, independência, sexualidade. E de maneira bastante descontraída e libertária.

A linguagem também é bastante solta e não há um encadeamento clássico de acontecimentos ou uma progressão linear.

Uma estratégia ousada mas nem sempre simples. 

Não é uma questão de seguir padrões e se prender a eles, mas a maneira como muda o tom de uma narrativa e a linha de interpretação acaba dificultando a aproximação do espectador com suas personagens.

E é uma pena, pois elas são realmente interessantes.

Por exemplo quando ela apresenta uma cena crucial com o pai em uma interpretação toda marcada  e o filho totalmente espontâneo, em que as cenas sem diálogo são extremamente naturalistas e os diálogos tem tiradas e jogos de palavras, em que em diversas sequências se busca um encadeamento e em outras há uma superposição de cenas sem fechamentos e conclusões... Tudo isso nos deixa um pouco desnorteados com o filme.

Vemos seu potencial e encanto, somos instigados a nos aproximar, mas não sabemos ao certo como, por que canal e em que tom.

Correndo o risco de não conseguir e terminarmos o filme distantes.

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