Lars Von Trier é sem dúvida um dos cineastas mais criativos e instigantes da atualidade. Filmes com argumentos profundos, experimentações de linguagem, ousadia em diferentes gêneros, excelente medida de densidade e provocação.
A escolha do tema de seu novo filme já indicava esse caminho: Ninfomaníaca. Protagonizado por Charlotte Gainsburg, que fez outros dois de seus filmes fortes e polêmicos: Anti-Cristo e Melancolia.
As fotos de divulgação também inebriavam pelo apuro estético.
Entretanto a primeira parte de seu filme (já que Ninfomaníaca está dividido em dois capítulos) é decepcionante.
Narrativa extremamente pobre, com a história se desenvolvendo a partir do relato de Joe, a ninfomaníaca vivida por Charlotte, a um desconhecido que a acolhe, Seligman, ouvinte vivido por Stellan Skargard.
Durante toda a narrativa interrupções e questionamentos que tentam dar ritmo, mas são fracas e não acrescentam praticamente nada ao filme.
Durante toda a narrativa interrupções e questionamentos que tentam dar ritmo, mas são fracas e não acrescentam praticamente nada ao filme.
Nesta parte do relato, também não chegamos a um conflito, não há carisma pelas personagens, fica um grande vazio.
O filme termina sem muito suspense e se apoia em "cenas do próximo capítulo" cheias de eventos mais "picantes" para talvez apresentar algum atrativo para a segunda parte. Mas sem mostrar mais potencial do que meramente o sexo...
(Diametralmente oposto de Azul é a cor mais quente - também comentado aqui - que de fato explora em demasia suas cenas de sexo, mas que as coloca em um contexto intenso, contundente, poético e dramático).
Neste volume o que é apresentado é a sexualidade de Joe contada desde a infância, passando pela adolescência e chegando à juventude. Período de descobertas e aventuras vistos por ela sempre com culpa e pesar e condescendência por Seligman.
Não há prazer para ela no sexo, não há curiosidade, não há nada. Pior, não é como a protagonista de Jovem e Bela de Ozon (recém comentado aqui) que transa e se prostitui descompromissadamente sem justificativas, Joe é ainda pior, pois carrega uma culpa.
Tamanha culpa exposta no filme faz com que ele tenda a um moralismo ou a um raso desejo de chocar.
As cenas de sexo se tornam gratuitas, o relato pobre, a narrativa primária.
Uma das melhores partes que redime um pouco o filme é a cena dramática de quando a esposa de um homem de quem Joe é amante aparece. Os conflitos da cena ali latentes e muito bem interpretados por Uma Thurman ganham vida e nos envolvem.
Um pouco também nas cenas de Joe com seu pai, cheias de material psicanalítico para algum aprofundamento.
Mas no geral o filme está muito aquém de todo o potencial desse grande mestre do cinema, principalmente por já ter mostrado questões muito mais interessantes neste campo cheio de tabus em nossa sociedade, Os Idiotas, Anti-Cristo ou mesmo em Melancolia (também comentados aqui) temos material absurdamente melhor.