Curta-metragista, crítico e curador, Kleber Mendonça se "arrisca" em seu primeiro longa: O Som ao Redor.
O resultado: excelente.
A partir de registros atentos aos sons de um bairro de classe média (ou média-alta) em Recife: moradores, animais, veículos etc - todos os pormenores do som ambiente em uma seleção de tons graves - somos levados a um clima de constante suspense...
Assim, do cotidiano que vai sendo descrito, vamos esperando algum grande acontecimento.
Porém o mérito e diferencial do filme é a narrativa desdramatizada - tão pouco explorada no cinema brasileiro e muito atual e contemporânea.
A direção de Kleber remete a novos e instigantes nomes do cinema atual como o grego Giorgos Lanthimos do premiado Canino e do mais recente Alpes (já comentados aqui) ou mesmo do cinema já mais consagrado de Haneke (de obras como A Fita Branca).
O Som ao Redor dialoga com esse cinema mundial ao mesmo tempo que traz situações bastante locais (desde a música, o vestuário, a paisagem, o sotaque e diversos detalhes prosaicos);
até questões complexas, históricas e profundas (como as diferenças de classes e o coronelismo).
até questões complexas, históricas e profundas (como as diferenças de classes e o coronelismo).
Kleber consegue ainda traçar um paralelo genial entre o coronelismo clássico e um neo-coronelismo de grandes prédios e condomínios.
E é por esse viés que Kleber nos surpreende e nos arrebata.
O filme vai apresentando um crescente suave, com diversas esquetes e situações que parecem quadros documentais do cotidiano (que a linguagem simplificada e a interpretação contida contribuem).
- Com raras exceções não realistas e extremamente líricas e poéticas.
- Com raras exceções não realistas e extremamente líricas e poéticas.
Na soma e costura das cenas não vão sendo reveladas conexões diretas e nem vão sendo estabelecidas grandes curvas dramáticas.
Kleber deixa para o final, de sopetão, o traçado da relação entre todas as cenas e personagens, propondo uma reflexão profunda sobre o ambiente retratado - e que reverbera com amplitude em nossas vidas (ao menos da dos brasileiros em geral).
Kleber deixa para o final, de sopetão, o traçado da relação entre todas as cenas e personagens, propondo uma reflexão profunda sobre o ambiente retratado - e que reverbera com amplitude em nossas vidas (ao menos da dos brasileiros em geral).
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